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Fábio Barbirato

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Psiquiatra infantil
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Setembro Amarelo: por que é importante falar de suicídio entre jovens?

Segundo a OMS, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que HIV, malária ou câncer de mama, guerras e homicídios

Por Fabio Barbirato
13 set 2022, 17h50
Adolescente esconde a cara sob um capuz e é observado pela mãe.
Entre os fatores já mapeados que fazem a diferença entre a decisão de viver ou morrer estão o suporte familiar. (Shutterstock/Reprodução)
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Por muito tempo, o suicídio foi um tema tabu na mídia, na tentativa de não estimular a prática na população. Porém, esse esforço para se conter esta ou aquela informação – ainda que bem intencionado – soa infrutífero no mundo de hoje, das redes sociais, do WhatsApp e da circulação veloz de informação, que passa ao largo dos canais tradicionais de comunicação que conhecíamos até então. O melhor, portanto, é falar sobre o tema: botá-lo em discussão e esclarecê-lo ao grande público.

Nos últimos anos, a campanha de conscientização Setembro Amarelo tem prestado um grande serviço nesse sentido. Agora em 2022 ela está presente mais uma vez, sob o lema “A vida é a melhor escolha!”. O assunto ganhou o protagonismo que merece, apoiado por organizações e instituições sérias e referendadas. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de um milhão de pessoas tiram as próprias vidas todos os anos. Segundo a OMS, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que HIV, malária ou câncer de mama, guerras e homicídios.

No Brasil, os registros de casos de suicídio se aproximam de 5,23 por 100 mil habitantes. A prática é a segunda principal causa de morte de jovens entre 15 e 29 anos. O suicídio já é uma realidade em muitos filmes e séries assistidos pelos jovens, como o polêmico “13 Reasons Why” (Netflix). Diversos influencers e ídolos dos jovens aderiram ao posicionamento do momento e assumiram seus transtornos mentais, dando a percepção de que qualquer um pode ser alvo de tais doenças.

O surgimento da pandemia e seu consequente isolamento social foram elementos que promoveram ou intensificaram quadros de depressão, transtorno bipolar, transtorno de personalidade, esquizofrenia e uso abusivo de substâncias – que se não forem corretamente tratados podem levar às tentativas de suicídio.

Além disso, o uso excessivo de recursos tecnológicos, como computadores, celulares e tablets podem não apenas ampliar a sensação de isolamento como provocar ansiedade pelas comparações com as vidas que os outros divulgam nas redes sociais – e sabemos que todas aquelas fotos e momentos alegres são apenas um “recorte” da realidade.

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Mas como saber se seu filho ou um amigo está em perigo? É fundamental ficar atento ao padrão de comportamento do jovem e seu nível de interação social. Pessoas que apresentem quadros de isolamento, tristeza constante e sem razão concreta, introspecção ou falta de apetite merecem atenção redobrada.

Também é preciso ficar atento nos reincidentes: estima-se que 50% daqueles que se suicidaram já haviam tentado previamente. Segundo as estatísticas da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), pacientes que passaram por tentativa previamente tem de cinco a seis vezes mais chances de tentar novamente.

Outro sinal de alerta é queda injustificada no rendimento escolar. Os familiares tem papel fundamental não apenas na identificação de sintomas como no apoio ao jovem; não devem nunca zombar ou desqualificar a dor que ele aparenta estar sentindo.

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Entre os fatores já mapeados que fazem a diferença entre a decisão de viver ou morrer estão: bom suporte familiar, laços sociais bem estabelecidos com família e amigos, religiosidade, estar empregado, ter crianças em casa e capacidade de adaptação positiva.

O tema do suicídio é cercado por mitos, tais como “o suicídio é uma decisão individual, já que cada um tem pleno direito a exercitar o seu livre arbítrio”. Isso não é verdade porque os suicidas estão, quase invariavelmente, passando por uma doença mental que altera, de forma radical, a sua percepção da realidade e interfere em seu livre arbítrio.

Outra lenda é a crença de que quando uma pessoa pensa em se suicidar terá risco de suicídio para o resto da vida”. Porém, na verdade, o risco de suicídio pode ser eficazmente tratado e, após isso, a pessoa não estará mais em risco.Também é mito a ideia de que “as pessoas que ameaçam se matar o fazem apenas para chamar atenção”.

O tratamento eficaz da doença mental é o pilar mais importante da prevenção do suicídio. Se houver dúvidas sobre a saúde mental de um adolescente, procure a Santa Casa de sua cidade ou os ambulatórios especializados das Universidades.

Fabio Barbirato é médico psiquiatra pela UFRJ, membro da Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência e responsável pelo setor de Psiquiatria Infantil da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na PUC-Rio. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

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