Um dia a criança chega da escola ou da casa de um amiguinho e conta uma história rocambolesca, que mais parece um filme de animação. Que pai nunca passou por isso? É preciso fazer uma distinção entre mentira e fantasia, pois, dependendo da idade, a criança pequena não estará mentindo ao relatar certas histórias. Ela fantasia, acredita piamente no que está contando.
Mas existe uma fase, já na escola, em que a criança mente porque tem medo de contar algo que lhe parece vergonhoso ou mostrar seus fracassos, com receio de decepcionar os pais. Mais tarde, muitos casos estarão associados a burlar regras – por exemplo, matar aulas, falsificar a assinatura dos pais no boletim – ou desafiar limites.
De qualquer modo, isso é diferente da mentira patológica, compulsiva. Fundamental é distinguir o tipo patológico do eventual, aquele que faz parte da fase de crescimento, porque a criança quer experimentar fazer coisas diferentes daquelas que o papai e a mamãe fazem.
O importante é perceber como a criança se sente ao ser descoberta, se a culpa está presente – se ela chora, fica triste quando é apanhada só pelo medo do castigo ou se sente culpa mesmo. O diagnóstico e prognósticos são muito importantes porque se verificam a ordem de grandeza, a intensidade e frequência da mentira e o seu “planejamento”.
A mentira merece mais atenção quando a criança começa a fazer o que quer, do jeito que quer, na hora que quer. Os pais devem estruturar, então, com ajuda profissional, se necessário, uma dinâmica familiar que faça a criança interiorizar as regras. Aliás, ela precisa de regras claras. A liberdade de questionar, de reclamar existe, mas ela deve saber que a decisão final é sempre dos pais.
Fabio Barbirato é médico psiquiatra pela UFRJ, membro da Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência e responsável pelo setor de Psiquiatria Infantil da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na PUC-Rio. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).