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Fábio Barbirato

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Psiquiatra infantil

Por que a solidão é um sentimento recorrente entre os jovens?

Presença online e dificuldades inerentes à idade acabam por provocar essa sensação

Por Fabio Barbirato
23 Maio 2024, 09h38
Jovem de camiseta branca sentada no chão aparentando tristeza.
Pesquisas apontam maior sentimento de solidão entre jovens. (Pixabay/Reprodução)
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Quem lançou a provocação foi o jornal americano The New York Times, em edição recente. De acordo com o periódico, estudo publicado na Psychological Science, pesquisadores concluíram que o sentimento de solidão tende a ter um comportamento de “curva em U”: se inicia quando jovens adultos, declina na meia idade e reaparece depois dos sessenta anos, ainda mais pronunciada na casa dos oitenta.

Vou me valer deste espaço para abordar um pouco o que pode levar jovens – uma idade em que se pressupõe tantas descobertas e vivências – ao sentimento de solidão. Alguns fatores são bastante claros, como a guinada desta faixa etária para o isolamento em telas numa vida online, com a redução do convívio social presencial.

Mas a verdade que muitos não falam é que ser jovem não é fácil. Nunca foi. O tempo faz com que os adultos amenizem lembranças desagradáveis ligadas a esta época da vida, como as mudanças no corpo e na voz, a timidez e a busca por pertencimento a um grupo, por exemplo. Daí para o sentimento de solidão, é um pulo. O que já era difícil, ficou ainda mais desafiador nos tempos de hoje com o surgimento das redes sociais e do bullying virtual.

O resultado é o crescimento de casos de depressão entre adolescentes, comprovado por diferentes pesquisas. Segundo estudo americano do National Healthcare Quality and Disparities Report, de 2022, cerca de 20% das crianças e jovens com idades entre 3 e 17 anos nos Estados Unidos têm algum transtorno mental, emocional, comportamental ou de desenvolvimento. Os comportamentos suicidas entre estudantes do Ensino Médio aumentaram mais de 40% na década anterior a 2019. Os desafios de saúde mental foram a principal causa de morte e incapacidade nesse grupo etário. Essas tendências foram potencializadas durante a pandemia.

Ainda de acordo com o estudo americano, de 2016 a 2019, as taxas de entradas em emergências hospitalares com diagnóstico principal relacionado à saúde mental aumentaram de 784,1 para 869,3 por 100 mil habitantes para as idades de 0 a 17 anos. A taxa para esse grupo etário caiu ligeiramente em 2019, mas em 2018, a taxa foi de 976,8 por 100 mil habitantes, um aumento de 25% desde 2016.

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Quanto ao suicídio, as estatísticas de mortes entre pessoas com 12 anos ou mais aumentaram 16% no geral, de 14,0 para 16,3 por 100 mil habitantes entre 2008 e 2020. Especificamente entre jovens de 12 a 17 anos, o número aumentou de 3,7 para 6,3 por 100 mil habitantes.

Por aqui, embora não haja estatísticas tão precisas e recentes no Brasil, pode-se supor que o comportamento tende a ser o mesmo e acompanhe o que ocorre hoje nos Estados Unidos. Muitos pais me perguntam como agir para evitar que os filhos acabam entrando nestas estatísticas. De modo geral, o que mais recomendo a eles é: presença. Pais, mães ou responsáveis precisam se fazer presentes na vida dos filhos, mostrarem-se interessados sobre a vida e a rotina deles, limitarem e acompanharem a presença dos filhos nas redes e no mundo online, tendo ciência do tipo de conteúdo que eles estão consumindo e, o mais importante de tudo: devem exercerem seu papel de adultos, dando limites, dizendo “não” quando é o melhor para a criança ou jovem, evitando ser “coleguinha” do filho, mas sim seu ponto de confiança, para onde eles sempre podem e devem voltar.

Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

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