Por que a solidão é um sentimento recorrente entre os jovens?
Presença online e dificuldades inerentes à idade acabam por provocar essa sensação

Quem lançou a provocação foi o jornal americano The New York Times, em edição recente. De acordo com o periódico, estudo publicado na Psychological Science, pesquisadores concluíram que o sentimento de solidão tende a ter um comportamento de “curva em U”: se inicia quando jovens adultos, declina na meia idade e reaparece depois dos sessenta anos, ainda mais pronunciada na casa dos oitenta.
Vou me valer deste espaço para abordar um pouco o que pode levar jovens – uma idade em que se pressupõe tantas descobertas e vivências – ao sentimento de solidão. Alguns fatores são bastante claros, como a guinada desta faixa etária para o isolamento em telas numa vida online, com a redução do convívio social presencial.
Mas a verdade que muitos não falam é que ser jovem não é fácil. Nunca foi. O tempo faz com que os adultos amenizem lembranças desagradáveis ligadas a esta época da vida, como as mudanças no corpo e na voz, a timidez e a busca por pertencimento a um grupo, por exemplo. Daí para o sentimento de solidão, é um pulo. O que já era difícil, ficou ainda mais desafiador nos tempos de hoje com o surgimento das redes sociais e do bullying virtual.
O resultado é o crescimento de casos de depressão entre adolescentes, comprovado por diferentes pesquisas. Segundo estudo americano do National Healthcare Quality and Disparities Report, de 2022, cerca de 20% das crianças e jovens com idades entre 3 e 17 anos nos Estados Unidos têm algum transtorno mental, emocional, comportamental ou de desenvolvimento. Os comportamentos suicidas entre estudantes do Ensino Médio aumentaram mais de 40% na década anterior a 2019. Os desafios de saúde mental foram a principal causa de morte e incapacidade nesse grupo etário. Essas tendências foram potencializadas durante a pandemia.
Ainda de acordo com o estudo americano, de 2016 a 2019, as taxas de entradas em emergências hospitalares com diagnóstico principal relacionado à saúde mental aumentaram de 784,1 para 869,3 por 100 mil habitantes para as idades de 0 a 17 anos. A taxa para esse grupo etário caiu ligeiramente em 2019, mas em 2018, a taxa foi de 976,8 por 100 mil habitantes, um aumento de 25% desde 2016.
Quanto ao suicídio, as estatísticas de mortes entre pessoas com 12 anos ou mais aumentaram 16% no geral, de 14,0 para 16,3 por 100 mil habitantes entre 2008 e 2020. Especificamente entre jovens de 12 a 17 anos, o número aumentou de 3,7 para 6,3 por 100 mil habitantes.
Por aqui, embora não haja estatísticas tão precisas e recentes no Brasil, pode-se supor que o comportamento tende a ser o mesmo e acompanhe o que ocorre hoje nos Estados Unidos. Muitos pais me perguntam como agir para evitar que os filhos acabam entrando nestas estatísticas. De modo geral, o que mais recomendo a eles é: presença. Pais, mães ou responsáveis precisam se fazer presentes na vida dos filhos, mostrarem-se interessados sobre a vida e a rotina deles, limitarem e acompanharem a presença dos filhos nas redes e no mundo online, tendo ciência do tipo de conteúdo que eles estão consumindo e, o mais importante de tudo: devem exercerem seu papel de adultos, dando limites, dizendo “não” quando é o melhor para a criança ou jovem, evitando ser “coleguinha” do filho, mas sim seu ponto de confiança, para onde eles sempre podem e devem voltar.
Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).