Jogos Olímpicos: o que os esportes ensinam às crianças e jovens
Diferentes práticas esportivas oferecem lições educativas para adolescentes e crianças
Difícil encontrar alguém que não esteja envolvido de alguma forma com as Olimpíadas de Paris, que começaram semana passada. Muita gente tem feito verdadeira maratona no sofá, diante da televisão. Os que não podem, tentam se informar entre um compromisso e outro, sobre o resultado do vôlei ou a última conquista de Rebeca Andrade.
Mas os Jogos Olímpicos são muito mais do que isso. Trata-se de uma oportunidade de ouro (perdão pelo trocadilho) para se abordar diversos assuntos com os filhos, não apenas porque esporte faz bem à saúde, mas porque o evento oferece uma série de aprendizados que podem marcar a educação das crianças.
Qualquer prática esportiva é regida por regras claras e de conhecimento de todos os competidores. Isso faz com que vencedores e perdedores aceitem o resultado da partida. É uma excelente oportunidade para que as crianças entendam que qualquer competição se submete a regras e reconhecer o vencedor é parte do jogo.
Outro ponto importante é que o esporte está diretamente ligado à paixão, ou seja, competir e querer vencer fazem parte da essência do esporte. Mas não a qualquer preço.
O conceito de perder envolve reconhecer e valorizar o esforço empreendido numa partida, por exemplo. Quantos atletas dão o seu melhor e ainda assim saem perdedores?
Assim como perder, ganhar também envolve uma série de ensinamentos: ser humilde, saber que a condição de vencedor é temporária e não tripudiar do perdedor. Há lições para todos. Aos vencedores, a comemoração. Aos derrotados, resta esperar a próxima partida. O esporte é uma bela oportunidade para ensinamos nossos filhos a serem empáticos não apenas com o sucesso alheio, mas também com questões raciais e de gênero.
Os Jogos Olímpicos são a festa de todos os povos. A torcida de qualquer país é composta pelas mais diferentes pessoas, seja de idade, de raça ou condição social. Qualquer criança se torna mais respeitosa e intelectualmente mais rica quando convive com a diversidade e a diferença.
Por fim, as Olimpíadas ofereceram uma oportunidade ímpar de vermos grandes atletas mundiais assumindo algum tipo de transtorno mental, como foi o caso da ginasta Simone Biles, que anunciou ser diagnosticada com TDAH. Isso colabora de forma poderosa para a diminuição da psicofobia (o preconceito que cerca os transtornos mentais), mostrando que estes transtornos não são dificuldades instransponíveis na vida de um atleta de alta performance, desde que tenham tratamento adequado.
Fabio Barbirato é médico psiquiatra pela UFRJ, membro da Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência e responsável pelo setor de Psiquiatria Infantil da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na PUC-Rio. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).