Irritabilidade nos jovens: o que é, quais as causas e como tratar?
Irritabilidade e raiva tem diferentes origens e se expressam de formas distintas
Não é raro que pais cheguem ao consultório reclamando da irritabilidade dos filhos. O interesse pelo tema é tanto que o abordei na última edição do Congresso Brasileiro de Psiquiatria, realizado semana passada.
Mas o que é a irritabilidade em jovens? A irritabilidade é uma reação excessiva a estímulos. O termo “irritabilidade” é utilizado para crianças e jovens que, quando doentes, ficam particularmente inquietos, “reclamões” e nervosos, apesar das tentativas dos adultos para confortá-los e acalmá-los.
Em geral, os pais conhecem o comportamento dito normal de seus filhos e podem identificar alterações precoces que um médico não conseguiria perceber. Isso pode ser útil para ajudar no diagnóstico precoce, por exemplo.
A irritabilidade pode ser um sinal precoce de problemas graves. Embora a irritabilidade não seja um sintoma de alguma doença específica, os pais devem suspeitar que algo possa estar errado com a criança, mesmo se não houver outros sintomas. A gama de possíveis causas da irritabilidade é enorme e compreende: estado de suspensão do uso de álcool ou drogas; distúrbios do espectro do autismo; câncer; cólica em bebês; infecções congênitas, diabetes e outras doenças metabólicas; reação a medicamentos; infecção do ouvido; encefalite; fratura, entorse ou outra lesão em ossos, articulações ou tecidos.
Se a causa for psiquiátrica, algumas possíveis causas são transtornos mentais, distúrbios do sono, doença de Tay-Sachs ou outras doenças genéticas, TDAH, depressão, transtornos ansiosos, esquizofrenia ou autismo.
O quadro pode ter origem em problemas no autocontrole das emoções e do comportamento, seja por desregulação emocional (irritabilidade e raiva), seja por desregulação comportamental (agressividade, comportamento desafiador ou violação de regras básicas).
Convém distinguir e esclarecer a diferença entre raiva, frustração e agressividade. A raiva é uma emoção que muitas vezes é provocada pela frustração ou algumas vezes por uma ameaça. Pode ter uma função adaptativa porque está associada a um maior esforço para atingir metas. Já a frustração é uma reação inicial, normativa e afetiva a um objetivo que foi impedido. Por fim, a agressão é um comportamento verbal ou motor motivado pela raiva ou frustração.
A agressividade é um comportamento com a intenção de causar dano. A agressividade reativa é uma resposta a uma ameaça ou frustração percebida; acompanhada de raiva. Ela tem início precoce (por volta dos quatro ou cinco anos), está relacionada a histórico de abuso físico (21%), relações ruins com os pares ou resolução inadequada de problemas. Dentre suas principais formas de demonstração estão gritos quando a pessoa se irrita, reação raivosa quando provocado; postura brava quando frustrado, acessos de raiva, danos a objetos quando está com raiva e, por fim, melhora depois de bater ou grita com alguém.
Já a agressividade proativa (ou predatória) é projetada para atingir um objetivo específico. Ela tem início mais tardio (entre cinco e seis anos), sem histórico de abuso físico, modelos familiares agressivos, espera por resultados positivos da agressão, podendo estar associado a traços de insensibilidade e afetividade restrita. Dentre suas principais formas de demonstração estão gritos para manipular, luta por “status”, tirar coisas dos outros, machuca os outros para ganhar um jogo, usar a força para conseguir dinheiro, ameaças e intimidações.
Irritabilidade e explosões são sintomas relativamente inespecíficos na psicopatologia infantil que afetam uma série de transtornos: do humor, comportamentais, do desenvolvimento, transtornos relacionados a trauma e estresse e transtornos de ansiedade.
Os tratamentos recomendados podem ser significativamente diferentes com base nos sintomas-alvo. Esclarecimento diagnóstico é conseguido ao longo do tempo usando ferramentas de rastreio, individuais e história familiar, coordenação com as escolas e observação direcionada. Procure um médico para diagnóstico e, em seguida, aconselhamento da melhor medicação disponível.
Fabio Barbirato é médico psiquiatra pela UFRJ, membro da Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência e responsável pelo setor de Psiquiatria Infantil da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na PUC-Rio. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).