Filme com Porchat na Netflix: pedofilia não é assunto de piada para jovens
Polêmica sobre o filme “Como se tornar o pior aluno da escola” levanta discussão sobre como temas delicados devem ser abordados com jovens
A exibição do filme “Como se tornar o pior aluno da escola” acaba de gerar uma onda de polêmica entre pais e autoridades nas redes sociais. Presente no catálogo da Netflix desde fevereiro, o filme tem uma cena polêmica em que o personagem de Fábio Porchat intimida garotos a o masturbem e se refere a eles como retrógrados e preconceituosos por se recusarem a atender seu pedido.
Não é a primeira vez que o Porta dos Fundos se envolve em polêmicas acerca do conteúdo de seus programas. Seus especiais de Natal são constantemente criticados por fazerem piadas com a fé alheia. O grupo já se defendeu alegando que o humor não tem o compromisso de agradar a quem quer que seja. Segundo eles, a crítica é elemento essencialno trabalho dos humoristas.
Porchat rebateu as acusações de apologia à pedofilia. “Quando o vilão faz coisas horríveis no filme, isso não é apologia ou incentivo àquilo que ele pratica, isso é o mundo perverso daquele personagem sendo revelado.”
É aí que mora o problema: a quem o filme se destina. Quando se dirige aos adultos, a ironia dos humoristas é mais que bem vinda. Mas “Como se tornar o pior aluno da escola” tem a classificação etária de 14 anos. Adolescentes devem ter contato com o tema da pedofilia com abordagem diferente, adequada ao entendimento deles. Seguramente, piada não é o caminho. Pais devem sim evitar que os filhos tenham contato com tal conteúdo. No entanto, o assunto é pertinente.
Para além da discussão politico-ideológica que parece dominar – e empobrecer – qualquer tema relevante no Brasil,abuso sexual só é combatido com eficiência quando abordado com uma conversa aberta, em casa e na escola. A informação certa, transmitida com a pedagogia adequada, é a melhor aliada no enfrentamento à pedofilia. Empurrar o assunto para debaixo do tapete e simplesmente não abordá-lo com as crianças é um erro.
Aos pais, cabe responsabilidade com os conteúdos que os filhos assistem, sem fugir dos temas espinhosos. Portanto reproduzo aqui a orientação às dezenas de pais que me procuraram nas útlimas horas: não, seu filho não deve assistir o filme da Netflix. Mas sim, você deve tocar neste tema com a criança para prepará-la para a vida. Isso é educação.
Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na Pós Graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).