Fenômeno Hikikomori: você sabe o que é?
Isolamento social permeia o comportamento identificado pela primeira vez no Japão

Solidão, excesso de telas, consumo excessivo de pornografia ou de jogos, laços de amizade que se limitam ao ambiente virtual, sedentarismo, procrastinação nos estudos ou no trabalho. Quando o mundo se limita apenas à extensão do próprio quarto, às vezes por mais de seus meses. Este é o comportamento identificado como “Hikikomori”, que pode ser traduzido como “isolado em casa”. Primeiramente nomeado no Japão, nos anos 1990, começa-se também a ficar mais conhecido por aqui, no Brasil.
Não é raro que o “hikikomori” também se apresente combinado com outros transtornos, como depressão e ansiedade. Segundo relatos, há pacientes que precisam de auxílio até mesmo para saírem do quarto. É raro que os pacientes se deem conta sozinhos tem “hikikomori”, o que dificulta a busca por ajuda. Geralmente, um familiar ou amigo se dá conta dos sinais, embora haja certa dificuldade em dizerem o que exatamente está se passando.
“Hikikomori” são de difícil diagnóstico e tratamento. Desde o advento da pandemia, quando todos fomos confinados em casa, o número de casos considerou consideravelmente. O cruel é que como o mais indicado era ficar em casa, passar horas no quarto era entendido como um comportamento absolutamente normal.
A questão é que alguns dos indícios de um comportamento “hikikomori” são absolutamente contemporâneos, fazendo parte do dia a dia das novas gerações: altamente conectados, interação por telas, desestimulados. Muitos jovens se queixam da falta de um objetivo maior de vida e, quando o encontram, desistem ou entediam com rapidez.
Sim, porque o mundo real não caminha na velocidade dos games e dos vídeos do mundo virtual. Isso explica o enorme número de abandono de empregos por parte das gerações mais novas, que não se identificam mais com o que era absolutamente normal até outro dia: dedicar a vida a construir uma carreira estável. Como escreveu o poeta Raul Seixas, de maneira visionária, “é chato chegar a um objetivo num instante”. Se chegar ao objetivo é chato e persegui-lo é entediante, sobra muito pouco.
Mas japoneses e brasileiros são muito diferentes. Japoneses são um povo bastante fechado, instrospectivo, altamente conectado, tradicionalmente transferem para objetos e robôs relações de afeto. Nós não somos assim. Brasileiros são extrovertidos, solares, interpessoais. Começar a identificar casos de comportamento “hikikomori” entre brasileiros é um indício de como a saúde mental de crianças e jovens está em constante provação e como é preciso estar atento a elas.
Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).