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Fábio Barbirato

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Psiquiatra infantil

É possível diagnosticar autismo com exame nas telas em 15 minutos?

O melhor e mais eficiente recurso para diagnóstico ainda é uma avaliação clínica com especialista

Por Fabio Barbirato
9 jun 2025, 12h55
Criança segura brinquedo com as cores que simbolizam o autismo.
Congressos médicos já questionaram o método. Em todas as falas, o consenso é que elas podem ser úteis, mas não conclusivas. (Freepik/Reprodução)
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Talvez por uma grande necessidade, absolutamente compreensível, de respostas às questões de saúde dos filhos, pais buscam conforto em subterfúgios fáceis e imediatistas – mas nem sempre com os pés na comprovação científica. É por isso que, vez por outra, vemos a disseminação de mitos e mentiras, como o impacto do glúten ou do canabidiol em autistas (que ainda carece de confirmações da ciência).

Mais recentemente, tem se falado da possibilidade de diagnóstico do espectro autismo com o auxílio de uma tela. Aplicado em crianças entre 1 ano e 4 meses e 2 anos e meio, o exame se constituiu em exibir determinados vídeos em um tablet para o paciente. A máquina registra o movimento dos olhos das crianças enquanto assistem os vídeos, incluindo onde e por quanto tempo a pessoa fixa o olhar. Essas informações são enviadas aos especialistas. O que eles defendem é que crianças possivelmente autistas se atem a detalhes específicos dos vídeos, que determinariam sua condição.

Qualquer nova técnica que se mostre promissora em auxiliar a fechar diagnóstico sempre será muito bem vindas. No entanto, é preciso fazer algumas ponderações. A máquina não substitui a avaliação clínica. Pode ser, isso sim, considerada complementar à avaliação clínica – mas substituindo profissionais qualificados, treinados para aquela função, inclusive com a capacidade de fazer outras leituras do paciente, como a comportamental, que esta máquina não é capaz de fazer.

Congressos médicos já questionaram o método. Em todas as falas, o consenso é que elas podem ser úteis, mas não conclusivas.

Independente da área do especialista, sempre que um paciente faz um exame – seja de imagem ou mesmo de sangue, por exemplo – ele apresenta o documento ao médico para sua avaliação. O exame mostra uma alta concentração de açúcar no sangue, mas quem dá o diagnóstico de diabetes ao paciente é o médico. É o exame de imagem que mostra o tumor, mas é o médico que conclui sua malignidade e informa ao seu paciente. Por que com um tema tão sério como o autismo deveria ser diferente? Por que vamos delegar à máquina a responsabilidade de fechar um diagnóstico, baseado único e exclusivamente em como um paciente olha para uma tela. Não me parece prudente e triplamente injusto: com a técnica, com o paciente e com os especialistas.

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É preciso ter serenidade e responsabilidade, tanto da mídia quanto dos especialistas, quando o assunto é algo tão sensível aos pais como o diagnóstico do autismo.

Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

 

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