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Fábio Barbirato

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Psiquiatra infantil
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Autistas em salas de aula: desafio para escolas, sociedade e Estado

Crescimento exponencial de estudantes autistas impõe mudança de comportamento

Por Fabio Barbirato
Atualizado em 24 abr 2024, 10h55 - Publicado em 24 abr 2024, 10h41
Professora orienta alunos autistas.
Número de alunos no Transtorno Espectro Autista matriculados em escolas disparou nos últimos anos. (Shutterstock/Reprodução)
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De acordo com o Ministério da Educação (MEC), há 634.875 estudantes diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em escolas particulares e públicas no Brasil. Isso significa um aumento de 1.450% se comparado com 2014 (40.934 alunos). Apenas de 2022 para 2023, este salto foi de 48% (de 428.586 para 634.875 alunos). Não se trata, como alguns gostam de imaginar, de uma “pandemia” de autismo, mas sim uma maior capacidade dos profissionais em fechar o diagnóstico, em crianças cada vez com menos idade.

Este crescimento no número de alunos representa um imenso desafio para as instituições de ensino, para a sociedade, que precisa se mostrar mais empática, e para o Estado, que deve encarar desafios de diversas ordens, desde orçamentários ao adequado preparo dos profissionais de ensino. Crianças no espectro autista apresentam alterações de neurodesenvolvimento que impactam na interação social, na aprendizagem, no comportamento, linguagem e comunicação.

É importante ressaltar que os alunos autistas não estão matriculados em escolas especializadas, como acontecia no passado, mas sim em escolas regulares, interagindo e compartilhando espaço com as demais crianças. No entanto, diferentemente do objetivo inicial, a plena integração não se concretizou a contento.

E aqui esbarra-se no primeiro problema: a falta de preparo do corpo docente para lidar com crianças com condições especiais. A consequência é um crescente número de queixas destes profissionais, incapazes de lidar com alunos que podem apresentar eventuais crises em decorrência de hipersensibilidades variadas, como excesso de barulho, dificuldade de aprendizagem do conteúdo programático ou falta de flexibilidade. É importante ressaltar que não existe na formação pedagógica destes profissionais uma disciplina que os prepare para lidar com as situações que aparecem em sala de aula. Já é mais do que tempo de uma adequação dos cursos superiores à situação de inclusão de alunos com TEA.

Desde 2015, uma lei determina que as crianças com TEA devem contar um profissional de apoio, destinado a auxiliar os alunos com TEA em sua alimentação, higiene e locomoção. No entanto, os órgãos públicos se quer são capazes de enumerar quantos são e qual a formação dos profissionais designados para tais atividades.

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Não são raros os relatos de pais e responsáveis denunciando escolas que se recusaram a matricular crianças e jovens com TEA. Na falta de uma legislação objetiva, muitos casos acabam indo parar na Justiça, acarretando mais complicações aos familiares. Aos pais, sempre recomendo pensar bastante se determinada escola é ideal para seu filho autista. Um dos motivos mais recorrentes do bullying é a ingenuidade da vítima e sua falta de capacidade de defesa. Uma instituição de ensino que se mostra incapaz de lidar com alunos autistas desde o ato da matrícula dificilmente será habilidosa na hora de lidar com qualquer crise que envolva alunos com TEA.

Os dados acima apenas confirmam o quanto o Estado e as instituições de ensino brasileiras estão atrasados em suprir as necessidades crescentes da sociedade. Em um mundo ideal, são as escolas e o poder público que tem a obrigação de se adequarem aos alunos – e não o contrário.

Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

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