Autismo em adultos: por que há mais diagnósticos?
Comportamentos que passavam como introvertidos ou estranhos hoje são entendidos como sinais do espectro autismo
Recentemente a atriz Letícia Sabatella, 52 anos veio à público em suas redes sociais contar que foi diagnosticada com um grau leve do Transtorno Espectro Autista (TEA). A notícia pegou muita gente de surpresa. Mas a verdade é que isso tem ocorrido com mais frequência do que se imagina. E por que?
O autismo é um distúrbio do desenvolvimento neurológico, marcado por uma série de comportamentos como dificuldade de socialização, de manter conversas com estranhos, de participação de atividades em grupo e interesse compulsivo por determinados assuntos ou dificuldade sensoriais, como som alto, toques, corte de cabelo, roupas justas, texturas de alimentos, por exemplo. Até algumas décadas atrás, pessoas assim eram percebidas como tímidas, reclusas ou até esquisitas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o TEA “se refere a uma série de condições caracterizadas por algum grau de comprometimento no comportamento social, na comunicação e na linguagem”, que “começa na infância e tende a persistir na adolescência e na idade adulta”. Na maioria dos casos, afirma a entidade, as condições são aparentes durante os primeiros cinco anos de vida.
Hoje, com tudo que se sabe sobre a doença – e que com os recursos de diagnóstico disponíveis, um maior número de diagnósticos e realizado. E quando isso acontece, faz o maior sentido para os pacientes: eles não eram estranhos ou introvertidos, apenas tinham um transtorno que não foi percebido.
E o número de autistas adultos é maior do que se imagina. Segundo o Center for Disease Control and Prevention dos Estados Unidos (CDC, em inglês), cerca de 1% da população mundial adulta — ou seja, mais de 75 milhões de pessoas com mais de 18 anos — está no espectro autista. Não há dados e estatísticas específicas sobre o Brasil, mas baseado nos dados do CDC, estima-se cerca de 2 milhões de adultos com Transtorno do Espectro Autista no país.
Testes para diagnósticos não devem ser feitos em redes sociais ou internet. Para se chegar à conclusão que alguém tem TEA, é preciso ter muito critério e bom senso. E isso só é possível com a parceria de uma equipe multidisciplinar, competente e bem preparada. O tratamento do autismo pode envolver a ajuda de diversos profissionais, entre eles, psiquiatras, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e psicólogos.
Sempre convém reforçar que não há cura para o autismo. O que de fato existe é uma série de tratamentos terapêuticos que, aliados ou não a medicamentos, podem mitigar os sintomas e reduzir o impacto do autismo na qualidade de vida dos pacientes – e de seus familiares, independente da idade, sejam os pacientes crianças, adolescentes ou adultos.
Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).