Atenção à saúde mental de crianças e adolescentes
São crescentes os números de casos de transtornos mentais entre os mais jovens
Se há um saldo concreto da pandemia de Covid, surgida em 2020, é que saúde mental se tornou um foco concreto de atenção, não apenas entre adultos, mas também entre crianças e jovens. Segundo recente pesquisa do Datafolha, oito em cada dez brasileiros de 15 a 29 anos apresentaram algum problema de saúde mental. A maioria dos jovens sofreu com pensamentos negativos (66%), dificuldade de concentração (58%) e crise de ansiedade (53%). Mais da metade avalia sua própria condição de saúde mental como regular, péssima ou ruim. A maior parte dos transtornos é descrita por pessoas do gênero feminino (90%) em oposição ao gênero masculino (76%).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 50% dos transtornos mentais tem início por volta dos 14 anos. Tornou-se frequente que jovens façam relatos de casos de depressão ou de ansiedade, pessoalmente ou em redes sociais. Os índices de automutilação ou tentativa de suicídio também foram alavancados, já que os fatos estão interrelacionados. Não é raro que jovens se queixem de solidão, embora estejam cada vez mais conectados, acreditando, equivocadamente, que a vida online substitui ou compensa o convívio social da vida real.
Escolas e instituições de ensino têm tentado identificar e acompanhar alunos com casos de transtornos mentais, mas a realidade é que poucos conseguem dar conta de administrar a questão a contento, diante da incapacidade de avaliarem o jovem como um todo e não por um determinado comportamento específico ou momentâneo.
Antes de mais nada, é preciso tirar o estigma sobre as doenças mentais e entendê-las como algo normal da vida. Se adoecemos de outros órgãos, por que não das nossas emoções? Ídolos jovens – como Justin Biber, Lady Gaga e Simone Biles – tem vindo à público falar abertamente a respeito dos transtornos mentais que o acometeram, ajudando a mitigar o preconceito. Mas é preciso mais.
Pais e responsáveis devem estar atentos a todo e qualquer sinal de que as crianças ou adolescentes estejam com questões: desde mudanças comportamentais ou de humor, passando por queda no rendimento escolar, isolamento social ou uso de roupas que cobrem em demasia o corpo (e que podem ajudar a esconder casos de automutilação). É preciso que os filhos encontrem nos pais um ponto de confiança em que possam recorrer sempre que se sentirem angustiados ou pressionados.
Fabio Barbirato é médico psiquiatra pela UFRJ, membro da Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência e responsável pelo setor de Psiquiatria Infantil da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na PUC-Rio. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).