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Fábio Barbirato

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Psiquiatra infantil

As crianças estão preparadas para a velocidade real do mundo?

Filmes e aúdios no x2 transmitem a ideia de controle sobre o tempo e ampliam a ideia de tédio

Por Fabio Barbirato
28 jul 2025, 12h38
Menino assiste tablet no quarto.
Os cada vez menores e mais ágeis vídeos do Tik Tok exigem excesso de recursos como, barulho e velocidade, para segurar a atenção das crianças.  (Freepik/Reprodução)
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O tempo do mundo mudou. Series, filmes, novelas, a duração da nossa capacidade de foco e atenção foi significativamente alterada nas últimas décadas. E me refiro a “nossa”, no plural, porque ela também impacta os adultos. Nos abrange a todos, como sociedade.

Os cada vez menores e mais ágeis vídeos do Tik Tok exigem excesso de recursos como, barulho e velocidade, muitas vezes sem sentido, para segurar a atenção das crianças e adolescentes por meio do sistema de recompensa do cérebro, com conteúdos vazios, que não as estimula seja para o desenvolvimento ou intelectualmente, encharcando o cérebro das crianças de dopamina.

Jovens e crianças com menos de 21 anos ainda estão com o cérebro em desenvolvimento. Estímulos como esses podem ser nocivos a um público incapaz de se defender a altura. É como pescar no raso: a luta é desigual.

O perigo reside no fato de que quanto mais o cérebro é exposto a conteúdos deste tipo, maior sua aversão a estímulos normais, mais lentos, que logo são percebidos como entediantes pelas crianças. Mais de uma vez, tomei ciência de crianças que assistem a filmes acelerando a velocidade, tal como se faz hoje com os áudios (inclusive adultos). Uma falsa percepção de controle sobre o tempo.

A popularidade desses vídeos é mais um alerta da importância da mediação e controle dos pais a respeito do conteúdo consumido pelos filhos. Cabe a eles ficar alerta por quanto tempo os filhos estão consumindo esse conteúdo que soa inofensivo mas que, a rigor, não traz absolutamente nada de bom.

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Desconectar-se é fundamental para o cérebro. O jornalista americano Richard Louv cunhou a expressão “transtorno de déficit de natureza” para designar o impacto na saúde física e mental de crianças que tem cada vez menos contato com a natureza, mais especificamente para problemas como miopia, obesidade, atrasos cognitivos e distúrbios psicológicos e comportamentais. Segundo Louv, brincar e ter contato com natureza – aquilo que gerações e gerações fizeram até bem pouco tempo – aumentam a imunidade, a memória, a qualidade do sono, a sociabilidade, o bem-estar e a capacidade de aprendizado.

A expressão pode ser um pouco alarmista, mas cumpre seu papel ao jogar luz sobre a necessidade de sair de casa, levantar do sofá, deixar de lado as telas e viver experiências reais, que formam nosso repertório de vida, promovem as saúdes física e mental.

Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

 

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