Tratando obesidade e diabetes como doenças crônicas
Segundo Robert A. Gabbay, presidente e diretor científico da Associação Americana de Diabetes, ambas requerem diagnóstico precoce e tratamento contínuo
A obesidade e o diabetes são doenças crônicas que afetam milhões de pessoas em todo o mundo. Reconhecê-las como condições persistentes e multifatoriais é essencial para abordar seus diversos aspectos de maneira eficaz. Estratégias de prevenção, tratamento e educação desempenham um papel fundamental. O tratamento eficaz da obesidade e do diabetes é crucial para salvar vidas, permitindo abordagens personalizadas e contínuas que reduzem complicações e melhoram a qualidade de vida dos pacientes. Nesta entrevista exclusiva com o Dr. Robert A. Gabbay, presidente e diretor Científico Médico da ADA (Associação Americana de Diabetes), discutimos abordagens inovadoras para tratar essas doenças em um momento crucial para a saúde pública no Brasil, e que a obesidade e o diabetes afetam milhões de pessoas. O Brasil, como um dos países mais afetados por essas condições, desempenha um papel fundamental na adoção e implementação de novas estratégias de tratamento.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Você poderia nos falar um pouco sobre a importância de tratar a obesidade como uma doença crônica?
Dr. Robert A. Gabbay: Tratar a obesidade como uma doença crônica é essencial porque reconhece a complexidade dessa condição. A obesidade não é simplesmente uma questão de força de vontade ou hábitos alimentares inadequados; é uma doença multifacetada que envolve fatores genéticos, ambientais, metabólicos e comportamentais. Reconhecer a obesidade como uma doença crônica nos permite abordar seus múltiplos aspectos de forma mais eficaz, oferecendo tratamentos personalizados e contínuos em vez de soluções temporárias.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Quais são os maiores desafios que enfrentamos ao mudar a percepção da obesidade, especialmente entre os profissionais de saúde?
Dr. Robert A. Gabbay: Um dos maiores desafios é o preconceito arraigado tanto na sociedade quanto entre os profissionais de saúde. Muitos ainda veem a obesidade como uma falha pessoal, o que pode levar à estigmatização e tratamentos inadequados. Precisamos educar melhor nossos profissionais de saúde sobre a ciência da obesidade, enfatizando que se trata de uma condição complexa que requer uma abordagem multifacetada e compassiva. É essencial promover uma compreensão mais profunda das causas e consequências da obesidade para fornecer cuidados mais eficazes e respeitosos.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Como podemos melhorar a educação e a conscientização sobre a obesidade entre médicos e o público em geral?
Dr. Robert A. Gabbay: A educação contínua é crucial. Precisamos integrar informações sobre a obesidade nos currículos médicos e oferecer treinamento específico sobre como abordar essa condição de forma sensível e eficaz. Além disso, campanhas de conscientização pública podem ajudar a reduzir o estigma associado à obesidade. Engajar a mídia, comunidades e organizações de saúde pública em discussões informativas pode mudar a narrativa e promover uma visão mais informada e empática da obesidade.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Você mencionou a necessidade de reduzir o preconceito. Como podemos abordar essa questão de forma prática no ambiente clínico?
Dr. Robert A. Gabbay: No ambiente clínico, é vital que os profissionais de saúde adotem uma abordagem respeitosa e empática. Isso significa ouvir os pacientes, reconhecer suas experiências e fornecer apoio sem julgamento. O treinamento em sensibilidade cultural e empatia pode ajudar os profissionais de saúde a se tornarem mais conscientes de seus próprios preconceitos e desenvolver estratégias para fornecer cuidados mais inclusivos. Também é importante criar um ambiente clínico acolhedor e não discriminatório, onde os pacientes se sintam à vontade para buscar ajuda.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Em relação aos tratamentos atuais para obesidade e diabetes, como podemos melhorar a manutenção e a adesão a esses tratamentos?
Dr. Robert A. Gabbay: A adesão ao tratamento é um desafio significativo em qualquer condição crônica. No caso da obesidade e do diabetes, é crucial oferecer suporte contínuo e educação aos pacientes. Isso pode incluir consultas regulares, monitoramento de progresso e a implementação de tecnologias, como aplicativos de saúde, que ajudam os pacientes a monitorar suas condições. Além disso, os tratamentos precisam ser adaptados às necessidades individuais dos pacientes, levando em consideração suas preferências, estilo de vida e possíveis barreiras ao tratamento.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Qual é a sua visão para o futuro dos medicamentos para obesidade e diabetes? Quais avanços podemos esperar?
Dr. Robert A. Gabbay: Estou bastante otimista em relação ao futuro dos medicamentos para essas condições. Estamos observando avanços significativos no desenvolvimento de medicamentos que não apenas auxiliam na perda de peso, mas também melhoram outros aspectos da saúde metabólica. No futuro, esperamos ver tratamentos ainda mais eficazes e específicos, personalizados de acordo com o perfil genético e metabólico de cada paciente. Além disso, novas tecnologias, como sensores contínuos de glicose e sistemas automatizados de entrega de insulina, estão revolucionando o cuidado com o diabetes, tornando-o mais preciso e conveniente.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Dr. Gabbay, muito obrigado por sua participação e valiosos insights. É inspirador ver o compromisso contínuo com a melhoria do tratamento da obesidade.
Dr. Robert A. Gabbay: Foi um prazer, Dr. Serfaty. Obrigado pela oportunidade de discutir esses conceitos importantes. Espero que nossa conversa contribua para promover uma compreensão maior e aceitação da obesidade como uma doença crônica.
Profissional Convidado:
Dr. Robert A. Gabbay, MD, PhD, FACP
Presidente e diretor Científico Médico da ADA (Associação Americana de Diabetes);
Professor Associado da Harvard Medical School.