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Fabiano Serfaty

Por Fabiano M. Serfaty, clínico-geral e endocrinologista, MD, MSc e PhD. Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Saúde, Prevenção, Tratamento, Qualidade de vida, Bem-estar, Tecnologia, Inovação médica e inteligência artificial com base em evidências científicas.
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O poder da solidão na quarentena – e como usá-la a seu favor

Se escolhermos nos apropriar de um pouco de seu atrevimento, obteremos a coragem necessária para fazer com que ela não tenha sido em vão

Por Sabrina Nigri*
Atualizado em 19 ago 2020, 18h23 - Publicado em 18 ago 2020, 16h21
Solidão: pode haver lições positivas (Jose Antonio Alba/Pixabay/Reprodução)
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Eis que surgiu o dia em que um ser vivo, invisível a olho nu, obrigou as pessoas a se reinventarem. Quando que cogitaríamos estar vivendo algo desta magnitude? Talvez nem a mente mais criativa, aquela que oferece à vida toda a riqueza de sua imaginação, fosse capaz de uma fantasia tão descabida. Fantasia, que de fantasia não tem nada. É a mais pura realidade, que nos expõe à nossa impotência e nos coloca na nossa singela posição humana.

Posição essa, de seres sociáveis. O ser-humano é altamente social. Nos constituímos, formamos nossa percepção de nós mesmos, nossa autoimagem, nosso amor-próprio, através das relações que estabelecemos com os sujeitos que nos cercam.

∙ É através da figura que lhe acolhe, que o bebê aprende que seu choro é seu meio de comunicação. É pelo afeto que recebe, que avalia que está em um ambiente seguro. É através da imitação dos sons do ambiente, que gera suas primeiras sílabas e da repetição de comportamentos observáveis que produz seus primeiros padrões de conduta.

∙ Nos identificamos com nossas figuras parentais, sejam elas quais forem e através desses vínculos construímos, moldamos nossa forma de enxergar o mundo. Então como nos pedir para estar longe de nossas referências mais precoces? Nos afastar de nossos pais, avós, filhos, netos? De que maneira explicar para nossa criança interna que não supriremos sua necessidade de acolhimento? Se não suportamos ouvir o choro de nossos filhos, como ouvir aquele que sai de nossas próprias gargantas?

∙ Há consequências em se estar longe daqueles que nos amparam. Mesmo as relações para além das familiares, as com nossos amigos, colegas de trabalho, vizinhos… Também nos constituem como sujeitos e delineiam nossas arestas da existência. Quando nos vemos fazendo parte de algo que vai além de nosso próprio ego, temos a sensação de pertencimento, que, por sua vez, nos conforta e nos deixa fortalecidos.

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∙ Ao rir das piadas dos amigos, abraçar pessoas queridas, ser ouvinte de interessantes histórias de vida… Uma série de hormônios e neurotransmissores são secretados em nosso organismo. Serotonina, endorfina, ocitocina, dopamina… Substâncias capazes de gerar prazer, que aliviam o estresse e provocam bem-estar; sem as quais fica ainda mais difícil enfrentar todo esse contexto atual.

∙ Frente a esta criança interna, que se ressente quanto às suas perdas e tenta barganhar em todos os momentos para se manter em sua zona de conforto e não abdicar de nenhum de seus prazeres, há um outro lado que também nos habita. Aquele, que mesmo podendo ter dúvidas quanto aos acontecimentos atuais e as medidas oriundas deles, se atém ao fato de que toda escolha tem consequências. É nosso lado adulto, que, em um sussurro ou em altos brados, nos lembra que se estar longe agora pode aumentar nossa probabilidade de se estar junto por mais tempo em um futuro.

∙ Esse será o lado capaz de identificar no penoso confinamento, que a solidão a dois, por vezes, já estava ali antes de a quarentena se instalar. É ele, também, que pode nos apontar que a falência de nossas amizades não é um assunto novo, nem mesmo o afastamento de nossa família.

∙ Esse sujeitinho, dentro de nós, tem a displicência de nos fazer ver que relações sólidas resistem ao tempo e à distância. Sendo ainda mais ousado quando nos faz perceber que mesmo cercados de pessoas, podemos estar sós. Mas nada, absolutamente nada, o faz tão infame quanto nos esbofetear com a verdade de que a solidão não nos dá o que queremos, mas pode ser que nos dê o que precisamos. Sendo assim, sem parcimônia, joga em nossas mãos toda a responsabilidade sobre nossas próprias vidas.

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Se escolhermos nos apropriar de um pouco de seu atrevimento, obteremos a coragem necessária para fazer com que a solidão não tenha sido em vão. Dessa forma, teremos o descaramento, a desfaçatez de usar a solidão como mola propulsora para escolhas mais apropriadas, e, certamente, para uma vida mais harmônica; onde nos descobriremos bem-acompanhados, inclusive, quando estivermos a sós.

Sabrina Nigri
Sabrina Nigri: psicóloga e escritora (Arquivo pessoal/Reprodução)

Sabrina Nigri*
CRP 0537453
Psicóloga graduada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
Hipnoterapeuta formada pelo Instituto Brasileiro de Hipnose (IBH)
Pós graduada em Neurociências e Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica (PUC)
Escritora
Idealizadora, fundadora e diretora do projeto Em Boa Companhia
Nas redes sociais: @emboacompanhia1
Contato: emboacompanhia1@gmail.com

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