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Fabiano Serfaty

Por Fabiano M. Serfaty, clínico-geral e endocrinologista, MD, MSc e PhD. Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Saúde, Prevenção, Tratamento, Qualidade de vida, Bem-estar, Tecnologia, Inovação médica e inteligência artificial com base em evidências científicas.

Obesidade: o inimigo silencioso que triplica as mortes por câncer

A obesidade é doença crônica que exige tratamento e atua como catalisador para o desenvolvimento do câncer.

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Atualizado em 16 jul 2025, 13h18 - Publicado em 16 jul 2025, 13h13
Profissional de saúde mede a cintura de uma pessoa obesa.
A obesidade é considerada uma doença crônica e um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. (Shutterstock/Divulgação)
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A obesidade, uma epidemia que se alastra como um incêndio silencioso, tornou-se um dos maiores gatilhos para o câncer no mundo, com um impacto devastador que não pode mais ser ignorado. Nos Estados Unidos, um estudo apresentado na reunião anual da Endocrine Society (ENDO 2025), em São Francisco, revelou que as mortes por cânceres associados à obesidade mais do que triplicaram entre 1999 e 2020, com a taxa de mortalidade ajustada por idade saltando de 3,73 para 13,52 por milhão de pessoas. A pesquisa analisou 33 572 óbitos e expôs a relação alarmante entre o excesso de peso e 13 tipos de câncer, como mama, cólon, endométrio, fígado e pâncreas.

No Brasil, onde 20,3% dos adultos vivem com obesidade e 55,4% apresentam sobrepeso, conforme dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, o cenário é alarmante, revelando que a obesidade vai muito além de uma questão estética: trata-se de uma doença crônica que exige tratamento urgente e atua como um poderoso catalisador para o desenvolvimento do câncer.

A epidemia de obesidade e sobrepeso

O Brasil vive uma escalada alarmante de obesidade e sobrepeso, impulsionada por mudanças no estilo de vida. Dados da PNS de 2019 mostram que mais da metade da população adulta brasileira está com sobrepeso, enquanto a obesidade já afeta um em cada cinco adultos. O problema não poupa nem as crianças: 33,5% das crianças de 5 a 9 anos apresentam sobrepeso, segundo o IBGE, sinalizando um futuro de riscos crescentes. Nos Estados Unidos, a situação é ainda mais grave, com 40,3% dos adultos vivendo com obesidade, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). A urbanização, o fácil acesso a alimentos calóricos de baixo valor nutricional e o sedentarismo formam uma tempestade perfeita que engorda a população e eleva a incidência de doenças crônicas. No Brasil, a desigualdade social agrava o quadro, com populações de baixa renda enfrentando barreiras para acessar alimentos saudáveis e espaços para exercícios. Essa epidemia não é apenas uma questão de saúde individual, mas um desafio estrutural que exige mudanças profundas na sociedade.

Como o excesso de peso desencadeia o Câncer?

A obesidade não é apenas um acúmulo de gordura, mas um estado metabólico que transforma o corpo em um terreno fértil para o câncer. O tecido adiposo, especialmente o visceral, age como um órgão endócrino, produzindo níveis elevados de estrogênio, que nas mulheres pós-menopausa aumenta o risco de cânceres como o de mama e endométrio, estimulando a proliferação celular descontrolada. A inflamação crônica, característica da obesidade, eleva citocinas como IL-6 e TNF-α, criando um microambiente que favorece o crescimento de tumores em órgãos como cólon e fígado. A resistência à insulina, comum em obesos, resulta em hiperinsulinemia e níveis altos de IGF-1, que ativam vias como PI3K/AKT/mTOR, promovendo a sobrevivência de células cancerígenas. Pesquisas recentes também apontam que exossomas liberados pelo tecido adiposo de pessoas obesas podem intensificar a agressividade de tumores, como no câncer de mama triplo-negativo, aumentando o potencial de metástases. Além disso, a disbiose intestinal associada à obesidade altera o metabolismo de ácidos biliares, elevando o risco de cânceres gastrointestinais, como o colorretal. Esses mecanismos explicam por que a obesidade está ligada a 13 tipos de câncer, que representam 40% dos diagnósticos anuais nos EUA e uma fatia crescente no Brasil, onde o câncer de mama, com 73 610 casos estimados para 2023-2025, lidera entre as mulheres.

Prevenção: O caminho para reverter a crise

Combater a epidemia de obesidade e sua conexão com o câncer exige ações coordenadas que vão além da força de vontade individual.Profissionais de saúde devem integrar o manejo da obesidade na prática clínica, oferecendo aconselhamento nutricional . A sociedade também tem um papel: desestigmatizar a obesidade e promover a educação sobre seus riscos pode incentivar mudanças de comportamento. Perder apenas 5-10% do peso corporal já reduz significativamente o risco de câncer, um objetivo alcançável com apoio adequado.

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Um futuro sem o peso do câncer

O triplo aumento das mortes por cânceres ligados à obesidade nos EUA é um grito de alerta para o Brasil, onde a epidemia de obesidade e sobrepeso avança sem freios. Cada quilo a mais carrega um risco invisível, mas evitável, para a saúde. A ciência já desvendou os mecanismos que conectam o excesso de peso ao câncer, e agora cabe a governos, médicos e cidadãos transformarem esse conhecimento em ação. Reduzir a obesidade não é apenas uma questão de bem-estar, mas uma estratégia vital para salvar vidas.

O Brasil tem a oportunidade de reverter essa trajetória sombria, priorizando investimentos em prevenção, educação em saúde e equidade no acesso a cuidados. Ignorar essa crise é deixar o câncer prosperar à sombra do excesso de peso, ceifando vidas que poderiam ser salvas. O momento de agir é agora, antes que o peso da inação se torne insustentável.

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