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Fabiano Serfaty

Por Fabiano M. Serfaty, clínico-geral e endocrinologista, MD, MSc e PhD. Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Saúde, Prevenção, Tratamento, Qualidade de vida, Bem-estar, Tecnologia, Inovação médica e inteligência artificial com base em evidências científicas.

Febre internacional,agora no Rio: por que tanta gente quer tomar Mounjaro?

A popularidade do Mounjaro reflete não apenas sua eficácia, mas também a urgência de enfrentar a epidemia de obesidade no Brasil.

Por Dr. Fabiano M. Serfaty.
Atualizado em 22 Maio 2025, 18h52 - Publicado em 22 Maio 2025, 18h42
Profissional de saúde mede a cintura de uma pessoa obesa.
A obesidade é considerada uma doença crônica e um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. (Shutterstock/Divulgação)
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O Mounjaro (Tirzepatida), um medicamento revolucionário que tem conquistado atenção global, chegou ao Brasil e já desperta grande interesse, especialmente no Rio de Janeiro, onde a busca por soluções para diabetes tipo 2 e obesidade é crescente. Aprovado pela Anvisa em 2023 exclusivamente para o tratamento de diabetes tipo 2, o Mounjaro, produzido pela Eli Lilly, é um agonista duplo dos receptores GLP-1 e GIP, oferecendo benefícios no controle glicêmico e na perda de peso. A empresa já submeteu estudos adicionais para expandir sua indicação ao tratamento da obesidade, o que pode ampliar ainda mais sua popularidade. Mas o que explica essa febre pelo Mounjaro no Brasil, especialmente no Rio?

O que é o Mounjaro e como ele funciona?

A Tirzepatida, princípio ativo do Mounjaro, age estimulando os receptores GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon 1) e GIP (peptídeo inibidor gástrico), uma combinação única que potencializa o controle da glicemia, reduz o apetite e promove a perda de peso. Nos Estados Unidos, o medicamento é comercializado como Mounjaro para diabetes tipo 2 e Zepbound para obesidade. No Brasil, a Anvisa aprovou apenas o uso para diabetes, mas a expectativa é que a indicação para obesidade seja liberada em breve, mantendo o nome comercial Mounjaro.

Administrado por injeções subcutâneas semanais, o tratamento começa com uma dose inicial de 2,5 mg, que pode ser ajustada progressivamente até 15 mg, dependendo da resposta do paciente. Essa escalada gradual minimiza efeitos colaterais e otimiza resultados, que incluem redução de até 2,4% na hemoglobina glicada (HbA1c) e perda de até 22,8% do peso corporal, segundo estudos de fase 3. Além disso, o Mounjaro melhora indicadores como colesterol e pressão arterial, consolidando-se como uma opção robusta para diabetes e obesidade.

Preço e disponibilidade no Brasil

O custo do Mounjaro no Brasil varia conforme a dosagem e o número de canetas por embalagem, com preços estabelecidos pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) entre R$ 1.523,06 e R$ 4.067,81, influenciados pela alíquota de ICMS. Apesar do valor elevado, a demanda tem crescido, especialmente em grandes centros como o Rio de Janeiro, onde a prevalência de obesidade e a cultura da estética impulsionam o interesse pelo medicamento.

Novas regras da Anvisa para medicamentos GLP-1

Em 16 de maio de 2025, a Anvisa anunciou novas regulamentações para a prescrição e dispensação de agonistas do receptor GLP-1, incluindo Mounjaro, Ozempic, Wegovy, entre outros. As medidas, que entram em vigor 60 dias após a publicação no Diário Oficial da União, exigem prescrição em duas vias, com uma retida na farmácia, e validade máxima de 90 dias para as receitas. As farmácias também devem registrar todas as movimentações no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), garantindo maior controle e rastreabilidade. Essas regras visam coibir o uso indiscriminado, especialmente para fins estéticos, após relatos de eventos adversos associados ao uso off-label sem supervisão médica. A prescrição off-label, quando o médico julga que os benefícios superam os riscos, segue permitida, desde que acompanhada de orientação adequada.

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Por que o Mounjaro é tão procurado no Rio?

O Rio de Janeiro enfrenta um cenário alarmante quando o assunto é excesso de peso. O Censo sobre Obesidade 2023, divulgado pelo governo brasileiro, revelou que tanto o estado quanto o município lideram o ranking nacional, com mais de 65% da população em condição de excesso de peso. Esses números evidenciam a necessidade urgente de políticas públicas voltadas para a saúde metabólica e o combate à obesidade, especialmente em uma região onde questões estéticas e médicas se entrelaçam de maneira expressiva. Este índice reflete desafios estruturais, como sedentarismo, hábitos alimentares inadequados e desigualdade no acesso a alimentos saudáveis. A cidade, famosa pela “cultura da vaidade” associada às praias de Ipanema e Copacabana, vive um paradoxo: a busca por padrões estéticos inatingíveis coexiste com altas taxas de obesidade, o que aumenta a procura por soluções rápidas como o Mounjaro. A eficácia do medicamento na perda de peso, aliada à sua ação no controle do diabetes, atrai tanto pacientes com prescrição médica quanto aqueles que, de forma inadequada, buscam o medicamento para fins estéticos.

Um desafio de saúde pública e uma necessidade urgente de transformação

A popularidade do Mounjaro reflete não apenas sua eficácia, mas também a urgência de enfrentar a epidemia de obesidade no Brasil. O cenário é agravado pela ausência de políticas públicas integradas, pelo acesso restrito a alimentos frescos e minimamente processados e pela insuficiente regulação do marketing de ultraprocessados, fatores que influenciam diretamente os hábitos alimentares da população.

No Rio de Janeiro, onde os índices de excesso de peso são os mais elevados do país, a pressão sobre o sistema de saúde se intensifica. O aumento de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes tipo 2, compromete não apenas os recursos hospitalares, mas também a qualidade de vida de milhares de pessoas. Além dos desafios individuais, os impactos sociais e econômicos são profundos: custos médicos elevados, perda de produtividade e um ciclo contínuo de dificuldades no tratamento e prevenção dessas condições.

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Diante desse quadro, torna-se essencial a adoção de uma abordagem ampla e estruturada, que vá além do uso de medicamentos e promova mudanças significativas na educação alimentar, no acesso a práticas esportivas e na criação de políticas públicas voltadas para a prevenção. A obesidade não deve ser vista apenas como uma questão estética, mas como um problema multifatorial que exige soluções abrangentes e sustentáveis. A chegada de novos tratamentos pode oferecer esperança, mas sem medidas complementares, como regulação da indústria alimentícia, incentivo a hábitos saudáveis e ampliação do suporte médico à população, o problema tende a persistir e a se agravar ao longo dos anos. O Brasil atravessa um período crucial no combate à obesidade, tornando indispensável a cooperação entre governos, profissionais de saúde, empresas e a sociedade em geral. A implementação de medidas eficazes e integradas será essencial para promover a saúde da população e assegurar melhores condições de vida para as gerações atuais e futuras.

 

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