Avatar do usuário logado
Usuário
OLÁ, Usuário
Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br
Imagem Blog

Fabiano Serfaty

Por Fabiano M. Serfaty, clínico-geral e endocrinologista, MD, MSc e PhD. Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Saúde, Prevenção, Tratamento, Qualidade de vida, Bem-estar, Tecnologia, Inovação médica e inteligência artificial com base em evidências científicas.

Dieta da sirtuínas: moda passageira ou revolução na medicina metabólica?

Sirtuínas são enzimas que detectam energia celular e promovem reparo do DNA e autofagia, retardando processos celulares do envelhecimento.

Por Dr. Fabiano M. Serfaty e Dr. Alberto R. Serfaty.
Atualizado em 13 nov 2025, 19h40 - Publicado em 13 nov 2025, 19h30
Mesa posta com alimentos saudáveis como salmão, frutas e leguminosas.
Alimentos ricos em polifenóis na dieta das sirtuínas (Shutterstock/Reprodução)
Continua após publicidade

Dr. Fabiano M. Serfaty: A longevidade deixou de ser mera curiosidade acadêmica e virou prioridade clínica: não basta somar anos à vida, é preciso somar vida aos anos. Entre os alvos biomoleculares mais estudados estão as sirtuínas, enzimas dependentes de NAD⁺ que integram sinais de energia celular, mecanismos de reparo e função mitocondrial. A chamada “dieta das sirtuínas” tenta traduzir essa biologia em escolhas alimentares e hábitos cotidianos com o objetivo pragmático de reduzir fatores de risco e preservar função e autonomia ao longo do envelhecimento. Para o clínico, a questão é prática e ética: quais elementos do conceito têm evidência suficiente para serem aplicados no consultório, quais permanecem experimentais e como comunicar essas diferenças ao paciente com clareza e responsabilidade? Por isso convidei para esta entrevista o Dr. Alberto R. Serfaty, diretor médico da Serfaty Clínicas e referência em medicina preventiva e gestão de risco metabólico, para oferecer uma análise clínica embasada, prática e pautada em evidência. Afinal, o que são as sirtuínas?

Dr. Alberto R. Serfaty: Sirtuínas são um grupo de enzimas que detectam o estado energético da célula e regulam processos importantes para seu funcionamento, como reparo do DNA, autofagia, defesa contra dano oxidativo, biogênese mitocondrial e metabolismo lipídico. Diferentes isoformas atuam em compartimentos celulares distintos e exercem efeitos complementares. A literatura experimental mostra que manipular essas vias pode melhorar marcadores celulares e metabólicos em modelos animais e em estudos humanos iniciais. Em termos práticos, atuam como “sensores” do estado energético da célula e por isso interessam a quem pensa em saúde e longevidade. No entanto, os dados clínicos em humanos ainda são limitados: há sinais promissores em biomarcadores, mas faltam estudos longos e controlados que comprovem efeitos consistentes sobre desfechos clínicos maiores. Por isso, ao traduzir esse conhecimento para o consultório, é prudente adotar recomendações fundamentadas em evidência, evitar promessas de “cura” ou aumentos de longevidade não comprovados e monitorizar resultados clínicos e segurança.

Dr. Fabiano M. Serfaty: A dieta das sirtuínas funciona em humanos ou é só marketing?

Dr. Alberto R. Serfaty: Há uma base científica e estudos iniciais que justificam investigar a chamada dieta das sirtuínas, mas ainda faltam pesquisas longas e consistentes em humanos que provem benefícios reais para saúde e longevidade. Do ponto de vista clínico, dois estímulos favorecem a atividade das sirtuínas: reduzir moderadamente o aporte calórico por restrição energética leve ou por jejum intermitente, e ingerir compostos bioativos presentes em muitos vegetais, sobretudo polifenóis. Estratégias que aumentam a razão NAD⁺/NADH, como essas, ativam vias relacionadas às sirtuínas em modelos experimentais. Em estudos controlados com humanos foram observadas melhorias em biomarcadores metabólicos e inflamatórios, o que aponta para um efeito fisiológico potencial. Por outro lado, a evidência clínica apresenta limitações importantes. Os ensaios são heterogêneos em desenho, de curta duração e com amostras pequenas, portanto não há comprovação consistente de benefícios em desfechos de longa duração, como redução de mortalidade ou aumento comprovado da longevidade. O jejum intermitente merece atenção especial: pode melhorar glicemia, sensibilidade insulínica e marcadores inflamatórios, mas sua adoção exige avaliação clínica individual, possível ajuste de medicamentos e monitorização para evitar riscos em pessoas com comorbidades. Em termos práticos, há evidência parcial e promissora que justifica a atenção clínica, mas não há provas definitivas de benefícios garantidos, portanto, recomenda‑se que qualquer intervenção seja proposta apenas quando houver indicação individualizada, avaliação dos riscos e benefícios para o paciente, plano de implementação seguro e acompanhamento clínico regular para monitorizar eficácia e efeitos adversos.

Dr. Fabiano M. Serfaty: Quais alimentos priorizar na dieta das sirtuínas?

Continua após a publicidade

Dr. Alberto R. Serfaty: Priorize um padrão alimentar baseado em alimentos minimamente processados ricos em polifenóis, antioxidantes, fibras e proteínas de alto valor biológico, incluindo chá verde ou matcha, frutas vermelhas e maçã, uva vermelha e romã, cacau escuro, azeite extravirgem e abacate, cebola roxa, alcaparras, alho e alcachofra, vegetais folhosos e crucíferos como couve, rúcula, brócolis e couve‑flor, berinjela e tomate, leguminosas e grãos integrais como lentilha, grão‑de‑bico, feijão, aveia e quinoa, oleaginosas e sementes como nozes, amêndoas, chia e linhaça, peixes gordos e frutos do mar, aves magras e ovos, alimentos fermentados como iogurte natural e kefir, algas e ervas e especiarias antiinflamatórias como cúrcuma e gengibre, integrando esses alimentos a estratégias alimentares quando clinicamente indicadas como redução moderada do aporte calórico ou jejum intermitente, sempre individualizando a prescrição, avaliando risco de interações medicamentosas e comorbidades, e monitorizando resultados clínicos e laboratoriais.

Dr. Fabiano M. Serfaty: Quais dicas práticas o leitor pode seguir hoje mesmo para começar a dieta das sirtuínas?

Dr. Alberto R. Serfaty: Inicie hoje adotando escolhas simples e práticas: troque bebidas açucaradas por chá verde diário ou água com limão, inclua frutas vermelhas 3 a 4 vezes por semana e acrescente frutas como maçã, uva e romã, evite excesso de carboidratos refinados favorecendo grãos integrais e porções moderadas de pães e arroz, substitua óleos refinados como soja, milho, canola e girassol por azeite extravirgem em saladas e finalizações, use abacate e cacau amargo em vitaminas ou iogurte como sobremesa, incorpore folhas verdes e crucíferas variadas como brócolis, couve, couve‑flor, repolho e rúcula em pelo menos uma refeição diária, acrescente cebola roxa, alcaparras, alcachofra, berinjela e tomate para maior diversidade de fitoquímicos, planeje duas refeições semanais com peixes gordos como salmão, sardinha ou cavala e intercale com leguminosas, consuma oleaginosas como nozes e amêndoas como lanches, tempere com cúrcuma, gengibre, canela, alecrim e orégano para aumentar compostos antiinflamatórios, inclua alimentos fermentados tolerados como iogurte natural e kefir para suporte da microbiota, pratique treino de força pelo menos três vezes por semana combinado com atividade aeróbica regular e garanta proteína em cada refeição, se estiver sob acompanhamento médico considere incluir o jejum com uma janela alimentar de 10 a 12 horas e organize compras e preparo em lotes para tornar essas escolhas práticas e sustentáveis no dia a dia.

Dr. Fabiano M. Serfaty: Quais benefícios são mais prováveis para quem tenta essa dieta?

Continua após a publicidade

Dr. Alberto R. Serfaty: Em estudos translacionais e ensaios clínicos de curto a médio prazo observa‑se com mais consistência redução de marcadores inflamatórios, melhora discreta da sensibilidade à insulina, alterações favoráveis em biomarcadores mitocondriais e perda ponderal inicial com preservação relativa da massa magra quando a intervenção é acompanhada de ingestão proteica adequada e exercício de resistência; esses achados referem‑se principalmente a parâmetros biológicos e biomarcadores, e a evidência é menos robusta para desfechos clínicos duros como redução de eventos cardiovasculares, redução da mortalidade ou aumento consistente da longevidade humana isoladamente atribuíveis à dieta.

Dr. Fabiano M. Serfaty:  Para quais pacientes essa estratégia exige mais cuidado ou é contraindicada?

Dr. Alberto R. Serfaty: Esta orientação é informativa e não substitui avaliação médica: a estratégia pode exigir cautela ou ser contraindicada em gestantes e lactantes, pessoas com histórico de transtornos alimentares, idosos fragilizados, crianças e adolescentes em fase de crescimento, pacientes com diabetes em uso de insulina ou hipoglicemiantes e pessoas em tratamento oncológico ou com condições clínicas instáveis. Antes de adotar qualquer mudança significativa na dieta ou na rotina (incluindo jejum ou redução calórica), recomenda‑se consultar o médico ou a equipe multiprofissional que acompanha o paciente para individualizar, documentar e monitorar a abordagem, além de ajustar medicações quando necessário e interromper ou adaptar a dieta conforme orientação clínica.

Dr. Fabiano M. Serfaty: E os suplementos como resveratrol, nicotinamida ribosídeo (NR) ou NMN têm lugar na prática clínica hoje?

Continua após a publicidade

Dr. Alberto R. Serfaty: Comprovam‑se efeitos moleculares observados em modelos experimentais e há estudos iniciais em humanos, mas existem limitações importantes: biodisponibilidade variável, falta de padronização de formulações e doses eficazes, e segurança a longo prazo ainda pouco estabelecida. Dê sempre prioridade à alimentação real: na prática clínica habitual recomenda‑se favorecer intervenções alimentares e alterações do estilo de vida com base em evidência científica robusta. A suplementação com resveratrol, nicotinamida ribosídeo (NR) ou NMN deve ser reservada a protocolos de pesquisa ou a situações clínicas bem justificadas, sempre sob supervisão médica, com documentação adequada e consentimento informado, e não deve substituir avaliação e acompanhamento profissional

    Fontes:

    1. Domi E; Hoxha M. Natural Compounds Targeting SIRT1 and Beyond: Promising Nutraceutical Strategies Against Atherosclerosis. Nutrients. 2025 Oct 22;17(21):3316. doi:10.3390/nu17213316.
    2. DiNicolantonio JJ; McCarty MF; O’Keefe JH. Nutraceutical activation of Sirt1: a review. Open Heart. 2022 Dec;9(2):e002171. doi:10.1136/openhrt-2022-002171. PMID:36522127; PMCID:PMC9756291.
    3. SIRT1 Activation by Natural Phytochemicals: An Overview. Frontiers in Pharmacology. 2020 Aug;11:1225. doi:10.3389/fphar.2020.01225.

      Publicidade

      Essa é uma matéria fechada para assinantes.
      Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

      Domine o fato. Confie na fonte.
      15 marcas que você confia. Uma assinatura que vale por todas
      Impressa + Digital no App
      Impressa + Digital
      Impressa + Digital no App

      Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

      Assinando Veja você recebe semanalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
      *Assinantes da cidade do RJ

      A partir de 29,90/mês