
Mestre em Cardiologia, Doutor em Fisiopatologia Clínica e Experimental
Professor adjunto de medicina interna da UERJ
Coordenador da Disciplina de Fisiopatolgia Clínica e Experimental da UERJ
Eis aí um conceito difícil de engolir: Pessoas obesas, sem aumento da pressão arterial, glicose no sangue elevada ou distúrbios do metabolismo de colesterol e triglicerídeos teriam menos risco de morrer do que indivíduos igualmente obesos, porém portadores de algumas destas anormalidades ¹ ².
Esta noção de “obesidade saudável” já havia sido desafiada por outras publicações demonstrando resultado exatamente oposto³, mas esta semana, um portentoso estudo britânico, apoiado numa extensa base de dados armazenada em prontuários eletrônicos, forneceu combustível suficiente para, quem sabe, encerrar de vez esta polêmica. Seus autores analisaram os desfechos cardiovasculares de quase três milhões e meio de pessoas inicialmente livres de cardiopatia, acompanhadas durante pouco mais de cinco anos, estratificadas segundo o índice de massa corporal (IMC) em quatro categorias: abaixo do normal, normal, sobrepeso e obesidade. Para cada uma destas categorias, catalogaram-se a presença ou ausência de distúrbios metabólicos como pressão alta, glicose alta e gorduras no sangue alteradas. Todos os desfechos foram ajustados para fatores potencialmente capazes de confundir as análises, inclusive idade, sexo, tabagismo e até desigualdades socioeconômicas (4).
Comparados a pessoas com IMC normal, livres de distúrbios metabólicos, os assim chamados “obesos metabolicamente saudáveis” tinham, ao longo de cinco anos, 50% mais chances de desenvolver doença das artérias coronárias, 7% mais chances de sofrer um acidente vascular cerebral e duas vezes mais risco de padecer de insuficiência cardíaca. Por outro lado, mesmo num indivíduo com IMC normal, a possibilidade de vir a sofrer alguns destes desfechos aumentava proporcionalmente à presença cumulativa destas anormalidades metabólicas. Assim, uma pessoa com peso normal, porém hipertensa, intolerante à glicose e com colesterol elevado, tinha 220% mais chances de morrer em cinco anos quando comparada a outra na mesma categoria de peso, não portadora destas anormalidades.
À medida em que novas e robustas evidências vêm ao conhecimento da comunidade científica, maior é a responsabilidade da nossa categoria profissional em revelar ao público leigo a real face deste inimigo, cuja prevalência cada vez maior, especialmente entre os jovens, prepara o terreno para uma explosão futura na incidência de doenças cardíacas, caso prevaleçam a inércia e o conformismo com esta situação. A receita é tão simples quanto difícil de ser seguida por muita gente, mas não desistimos de repetir: dieta balanceada, menos carboidratos, exercícios físicos regulares, e tempo suficiente de sono.
Referências
Mestre em Cardiologia, Doutor em Fisiopatologia Clínica e Experimental
Professor adjunto de medicina interna da UERJ
Coordenador da Disciplina de Fisiopatolgia Clínica e Experimental da UERJ
Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.
Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.
Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Assinantes da cidade do RJ
Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.