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Fabiano Serfaty

Por Fabiano M. Serfaty, clínico-geral e endocrinologista, MD, MSc e PhD. Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Saúde, Prevenção, Tratamento, Qualidade de vida, Bem-estar, Tecnologia, Inovação médica e inteligência artificial com base em evidências científicas.
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Covid-19: o uso dos corticoides no tratamento deve ser consciente

Dr. Fabiano Serfaty e Dr. Lucio Vilar discutem os benefícios da dexametasona em casos graves da doença, e os riscos do uso indiscriminado dos medicamentos

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Atualizado em 30 jun 2021, 09h32 - Publicado em 14 abr 2021, 02h47
A imagem mostra a representação do vírus da Covid-19, em ilustração
Corticoide: medicamento pode ajudar na redução no índice de mortalidade da doença em casos mais graves (Daniel Roberts/Pixabay/Divulgação)
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Os corticoides, também conhecidos como glicocorticosteroides, são medicamentos muito importantes no tratamento de várias doenças, incluindo a Covid-19. Mas estes devem ser utilizados apenas em pacientes com indicações médicas específicas, uma vez que podem apresentar alguns efeitos colaterais.

O estudo RECOVERY foi um importante marco na pandemia por ter demonstrado que o uso da dexametasona (um tipo glicocorticosteroide) gera redução no índice de mortalidade da doença, quando aplicado em um grupo específico de pacientes.

Para debater sobre o uso da substância no tratamento da Covid-19, convidei o Dr. Lucio Vilar, médico, professor-associado e coordenador da disciplina de endocrinologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), chefe do serviço de endocrinologia no Hospital das Clínicas da UFPE e doutor em ciências da saúde pela Universidade de Brasília (UnB). O Dr. Lucio é uma referência no assunto e autor do livro Vilar. Endocrinologia Clínica, o maior tratado de endocrinologia da América Latina.

Devemos usar corticoides em todos os pacientes com Covid-19? Por quanto tempo ?

Dr. Lucio Vilar: O estudo RECOVERY demonstrou o benefício de utilizar por até 10 dias um tipo de corticoide, a dexametasona na dose de 6 mg, uma vez ao dia, por via oral ou intravenosa.  O uso da substância reduziu a mortalidade apenas dos pacientes hospitalizados que estavam recebendo ventilação mecânica ou oxigenioterapia, mas não dos pacientes que não precisaram de suporte respiratório. Por isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) indica o uso apenas para os casos graves da doença.

Muitos profissionais começaram utilizar corticoides indiscriminadamente nos pacientes com Covid, mesmo sabendo que o benefício é restrito à um grupo específico como citado acima. Qual é a sua opinião sobre isso?

Dr. Lucio Vilar: Embora não haja consenso sobre o uso de corticoides na Covid-19, não há dados científicos que apoiem seu uso rotineiro. No estudo RECOVERY, os benefícios da corticoterapia em termos de redução da mortalidade foram observados apenas em pacientes recebendo suporte respiratório. Também deve-se considerar que todos os glicocorticoides têm efeitos colaterais e que seu uso prolongado pode comprometer a evolução da doença.

Quais são os benefícios desses medicamentos nos pacientes?

Dr. Lucio Vilar: O benéfico dos corticoides se dá pela sua atividade imunossupressora, que reduz a liberação maciça de citocinas pró-inflamatórias. Deste modo, a sua utilização pode reduzir o dano pulmonar induzido pelo novo coronavirus.

Outro ponto fundamental é que não há evidências apoiando o uso de glicocorticoides por tempo prolongado para prevenir possíveis sequelas adversas, como fibrose pulmonar. Quais são os potenciais malefícios do tratamento?

Dr. Lucio Vilar: A terapia com corticoides pode apresentar efeitos colaterais com infecções secundárias, hiperglicemia, psicose, necrose avascular entre outros e seu uso indiscriminado pode trazer consequências indesejadas. 

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Uma publicação recente no periódico Lancet coloca os glicocorticoides como uma faca de dois gumes na luta contra Covid-19 e pondera que seu emprego precisa ser feito com cautela, considerando a relação risco-benefício, e por pouco tempo (até 10 dias). 

Em casos graves, o efeito imunossupressor dos glicocorticoides tem um lado benéfico, com a redução na produção de citocinas/quimiocinas. Por outro lado, eles também podem diminuir a imunidade celular, reduzindo a apresentação de antígenos e a proliferação de linfócitos.  

Além disso, os glicocorticoides podem agravar o estado de hipercoagulabilidade, uma vez que tendem a elevar as concentrações séricas de fatores de coagulação e fibrinogênio. Devemos considerar o possível efeito dos corticoides no ambiente pró-coagulante de pacientes, nos quais mesmo o tratamento com anticoagulante poderia não protegê-los suficientemente das complicações trombóticas.

Por estas razões, é importante reforçar que o uso dos corticoides deve ser sempre realizado de forma adequada com uma orientação médica.

Referencias:

  1. Vilar L. Endocrinologia Clínica, 7a edição. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan; 2021.
  2. RECOVERY Collaborative Group, Horby P, Lim WS, Emberson JR et al. Dexamethasone in hospitalized patients with Covid-19. N Engl J Med. 2021;384(8):693-704.
  3. Corticoides: uma faca de dois gumes na covid-19. https://portugues.medscape.com/verartigo/6506153#vp_1
  4. Mishra GP, Mulani J. Corticosteroids for COVID-19: the search for an optimum duration of therapy. Lancet Respir Med. 2021; 9(1):e8.
  5. Alexaki VI, Henneicke H. The role of glucocorticoids in the management of COVID-19. Horm Metab Res. 2021;53(1):9-15.

       

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