Lançamentos de Carne Doce e Luedji Luna valem a audição
Vozes femininas que traduzem as urgências de 2020
Sexta-feira é dia de lançamentos em todos os aplicativos de música. Normalmente, os jornalistas musicais – como eu – acordam mais cedo ou dormem mais tarde às quintas (já que os lançamentos ficam disponíveis nas redes a partir de meia noite) para ouvir as novidades sonoras.
Eu não faço nem uma coisa nem outra. Eu gosto de degustação com calma. E não se faz nada com calma com sono. Ouço uma, duas, três, dez vezes uma música ou um disco antes de escrever sobre ela ou de programar a faixa para tocar no Faro. Acho muita ‘responsa’ indicar qualquer coisa em 2020. O que funciona pra mim, nem sempre funciona pro outro, não é mesmo?
Mas música…ah, a música tem uma aura mágica e quase sempre funciona no coletivo. Por isso, depois de ouvir várias vezes alguns dos muitos lançamentos desta semana, indico dois para você, caro leitor.
Carne Doce / Interior
A banda goiana formada por Aderson Maia (baixo), Fred Valle (bateria e percussões), João Victor (guitarra, sintetizador e programações), Macloys Aquino (guitarra e voz) e Salma Jô (letras e voz) acaba de lançar seu quarto álbum de estúdio “Interior”. As 12 faixas revelam a versatilidade estética e rítmica da banda, que, pela primeira vez, flerta com estilos como samba, dub, reggae e até trap, tudo costurado com guitarras marcantes e a sempre profunda poesia das letras.
Sucessor do elogiadíssimo “Tônus” (ouça “Amor Distrai”, minha faixa preferida), “Interior” teve seu lançamento adiado por conta da pandemia mas chegou no momento certo, junto com a primavera. O álbum é solar, mesmo em faixas mais íntimas, e mostra a versatilidade e universalidade dos músicos goianos.
Luedji Luna / Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água
Quando nasce uma criança, nasce uma mãe. Com álbum novo e um bebê no colo, Luedji Luna surge mais potente do que nunca. Aos 33 anos, a baiana de voz inconfundível lançou hoje o primeiro single do novo álbum. “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água” também nomeia o novo trabalho cuja produção é assinada por ela junto com o guitarrista queniano Kato Change. Composta em parceria com o cantor e compositor François Muleka, a canção traz de forma muito simbólica os tempos do afeto. “É sobre respeitar o tempo do outro, o ritmo do outro”, explica Luedji.
Filmado na Bahia, o clipe traz Luedji grávida, dançando a beira-mar, numa praia deserta. Uma lindeza, injeção de esperança na veia.