Esquinas do Esporte Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania
Continua após publicidade

Viva a arte chapliniana da altinha

Renovada à beira-mar, brincadeira cooperativa contrapõe-se à cultura da exclusão

Por Alexandre_Carauta Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 mar 2022, 17h28 - Publicado em 28 mar 2022, 22h16
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Os antigos chamam de controle. À beira-mar, refresca nossa capacidade de cooperar, brincar, conviver. Um alento.

    Publicidade

    Do Pontal a Geribá, a altinha reluz o espírito democrático. Prosaica resistência à elitização praiana.

    Publicidade

    A brincadeira integra meninos e meninas de vários tipos. Culto à diversidade, à empatia, às ancestrais vivências coletivas.

    Sem cooperação, a pelota cai, a graça evapora. Viramos folha morta, metais em surdina, como canta o samba eternizado por Arlindo Cruz.

    Publicidade

    Mesmo nas versões radicais, altinha é um fundo de quintal. Um repente. Uma roda de musicalidades corporais e afetivas.

    Alma carioca, a altinha representa uma singela vitória da rima sobre o monólogo. Da fraternidade sobre a indiferença. Do bem-comum sobre a espetacularizada cultura da exclusão.

    Publicidade

    Esses respiros opõem-se à instrumentalização da vida moderna satirizada por Chaplin já em 1936. Tempos e corpos adensados nas engrenagens do cálculo, da produção incessante, do consumo voraz.

    Continua após a publicidade

    A renovação do controle de bola revive o vagabundo chapliniano. Redime um pouco o mundo cansado de desumanidades.

    Publicidade

    Deliciosamente despretensiosa, a altinha resvala na resiliência transformadora da arte. Flor no asfalto. Com o Dois Irmãos ao fundo e a luz de outono, fica ainda mais bonita.

     

    Publicidade

    No fio da navalha

    O sinal propaga-se no desembarque de craques como Simone Biles, Gabriel Medida, Aishleigh Barty, Douglas Souza. A saída provisória ou definitiva das competições expressa o esgarçamento físico e mental inerente à conversão de pessoas, rotinas, vidas em máquinas.

    Máquinas velozes e furiosas. Máquinas até de postagens, pedágio ao reconhecimento numa sociedade inundada de imagens e fugacidade.

    Continua após a publicidade

    A fatura se reflete no avanço do Burnout, exaustão por estresse crônico no trabalho. Não poupa nem atletas acostumados ao fio da navalha.

    O esgotamento atinge volume crescente de profissionais globo afora. Por necessidade ou personalidade, muitos não cogitam recalibrar a frenética cadência.

    Hora de revermos o varal em que dependuramos nosso tempo, nossas prioridades: o simbolizado por Chaplin na esteira industrial, emblema cinematográfico da modernidade, ou o representado pelo balé cooperativo e leve da altinha.

    ____

    Alexandre Carauta é doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física.

    Publicidade
    Publicidade

    Essa é uma matéria fechada para assinantes.
    Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

    Domine o fato. Confie na fonte.
    10 grandes marcas em uma única assinatura digital
    Impressa + Digital no App
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital no App

    Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

    Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
    *Para assinantes da cidade de Rio de Janeiro

    a partir de R$ 39,90/mês

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.