Uma marca global confrontada com o desafio de renascer
Reencontro com a identidade, os títulos, as esquinas exige correções esportivas e políticas a partir de um diagnóstico imune a ufanismos e oportunismos
Dez entre dez grandes clubes nacionais sonham se internacionalizar. Pretensão quase obrigatória para expandir reconhecimento, fãs e receita no mundo globalizado.
A globalização aproxima a empreitada de um paradoxo. Por um lado, as dinâmicas digitais facilitam a tarefa, à medida que descentralizam a comunicação e condensam o tempo, o espaço. Por outro lado, a deixam mais complexa, volátil, instável.
Noves fora, o cacife financeiro prepondera. Velhos e novos ricos disparam na corrida da internacionalização.
Gigantes como Real Madrid, Barcelona, Manchester United, Manchester City, Bayern e PSG investem parcelas crescentes de suas fortunas em táticas para alargar as fronteiras do consumo. Cobiçam o emergente mercado asiático. O pacote conjuga, por exemplo, museus interativos, vídeos para redes da moda, pré-temporadas no exterior.
À ordem econômica e política, pouco importa se uma parte da grana carrega origem poluída. A fatura moral não intimida a pragmática complacência, vergonhosamente comum na história humana.
Em meio ao poderio europeu, nosso futebol ostenta uma marca há muito globalizada.
Faz mais de cinco décadas que a Canarinho enverga reputação e audiência de ícone pop. Mérito das cinco conquistas mundiais e da aura de beleza constituída pela sucessão de craques entre os anos 1960 e 1980. Tornaram o Brasil sinônimo de talento, sucesso, poesia.
Poucas marcas alcançam tamanho capital simbólico. Ele excede o valor do elenco – à beira dos R$ 6 bilhões, estima a Transfermarkt.
Sua riqueza reluz a capacidade de ativar a memória afetiva, de alumiar a vista e o coração, surpreender. De encher o peito com uma admiração voadora, além das pátrias, geografias, estatísticas. De nos conectar com pedaços de paraíso onde o inestimável se regenera. Capacidade de transcender.
Restaurá-la é tão importante quanto faturar o sexto caneco. Uma coisa abraça a outra.
A reconstrução extrapola o recomeço animador sob a batuta de Dorival. Exige correções esportivas, gerenciais, políticas. Incluem desde recalibragens na formação de talentos até um difícil pacto pela governança na conturbada regência do futebol verde-amarelo.
O desafio larga de um diagnóstico atualizado e honesto das nossas fraquezas, forças, prioridades. Um diagnóstico imune a ufanismos e bravatas, a oportunismos e precipitações.
O dever de casa não tardaria se prevalecesse premissa elementar a qualquer negócio: nem marcas largamente cultuadas sobrevivem à decomposição gradual de sua identidade. Das famosas às ascendentes, nenhuma delas dispensa a preservação constante daquilo que a singulariza e a mantém irresistível.
Para reencontrar o pódio, e honrar tão valiosa marca, a seleção tem de se reencontrar. Precisa ressuscitar a rima com a beleza, com as suas belezas. E assim renascer no gramado e no imaginário, nas esquinas, nas frações de paraíso que nos acalentam.
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Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.
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