Surfe brasileiro na maré da inclusão e da ecologia
O bicampeão mundial Filipe Toledo conta como concilia as rotinas de atleta profissional e empresário com o investimento na formação esportiva e ecológica
O bicampeão mundial de surfe Filipe Toledo se banha na maré da inclusão. Enquanto afina as manobras para a próxima temporada, o craque de 30 anos lança a categoria Sub-10 do Kids on Fire, circuito dedicado a ampliar o acesso ao esporte e a formar talentos. Meninas e meninos competem juntos e, sobretudo, brincam juntos. A segunda etapa é disputada neste fim de semana.
Fã da Prainha, Filipinho admite, num papo por vídeo, a possibilidade de expandir a iniciativa criada em Ubatuba (SP) para o Rio. Ele também conta como concilia o Projeto Namaskar, do qual é padrinho, às rotinas de surfista profissional e de empresário (fora a loja e a escola próprias, é sócio da rede de culinária Let’s Poke e da Pasokin). Filipe Toledo ainda revela a expectativa quanto à elite das ondas em 2026.
O que representa a largada do Sub-10 no circuito Kids on Fire?
A categoria estreante se soma ao Sub-12, Sub-14 e Sub-16. Mais do que uma abertura maior à formação de talentos, ela incentiva, de forma lúdica e dinâmica, a iniciação esportiva. Garotos e garotas pegam onda juntos e são recompensados pela experiência em si. Isso estimula a compreensão e a absorção de valores como humildade, diversidade, inclusão, além do respeito ao ser humano, à natureza. A vivência esportiva é intercalada com ações de sustentabilidade.
Por exemplo?
As crianças participam de coletas e reciclagens de lixo. Também adotam, desde cedo, materiais e práticas sustentáveis, como colocar a parafina no saquinho de papel, ajudar no replantio de corais, proteger os oceanos. Esses cuidados, que tem a ver com o estilo de vida do surfe, formam cidadãos bem informados sobre sustentabilidade, alinhados aos compromissos socioambientais. O esporte me propiciou, desde que eu era criança, uma formação ecológica. Ela se reflete, por exemplo, no desenvolvimento e na adoção de prancha reciclável.
Você se refere à Ecoboard?
Sim, a ideia era criar uma prancha que unisse alta performance, sustentabilidade e inclusão. A Ecoboard FT77 é 100% reciclável. Não leva resina, não gera resíduos, e se mostra acessível a crianças e iniciantes. Famílias de crianças com espectro autista me dizem que elas se sentem seguras com a prancha de espuma. É menos dura, mais lúdica: as crianças desenham na prancha e ficam orgulhosas de cuidar do planeta. Acima da formação esportiva, é formação para a vida.
O estímulo lúdico revela-se primordial a essa formação?
Extremamente importante. Se o esporte é tratado como uma obrigação, uma criança de 10 anos ou menos fica menos estimulada a vivenciá-lo e a aprender, por dele, valores socialmente importantes, como a diversidade, a solidariedade, a consciência ambiental. Por isso, na categoria Sub-10 do Kids on Fire, os pais brincam na onda com os pequenos surfistas, que podem ficar na beirinha. Esforços singelos para vencer o medo são recompensados. Esse aprendizado tem de ser natural e divertido.
Por falar em aprendizado social e inclusão, como você participa do Projeto Namaskar?
Sou padrinho desde projeto, que amplia o acesso a educação, esporte, cultura e cuidados com a saúde para comunidades pobres e periféricas. Atividades esportivas ocupam um papel essencial nessas ações, especialmente em relação ao desenvolvimento humano de crianças e jovens. Contribuem para o amadurecimento das novas gerações de esportistas, de cidadãos.
Voltando ao circuito Kids on Fire, você pretende expandi-lo ao Rio?
A ideia é expandir. Levá-lo a outros lugares, como Rio e Maresias, mas num passo pequeno e na direção certa, para manter a sua essência.
Na rotina que inclui ainda atribuições de empresário, como anda a preparação para buscar o tri mundial em 2026?
É preciso saber dosar essas frentes, até para não deixar de me divertir. Os 11 anos na elite do surfe me ajudam a manter a chama acesa, a seguir intenso nas competições, que tendem a continuar extramente concorridas em 2026, mas com harmonia suficiente para aproveitar a vida. Isso exige um apuro psicológico. No fim das contas, preciso surfar cada vez melhor.
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Sustentabilidade veste a 10
As Laranjeiras expandiram seus matizes na terça passada. Pisaram o chão Tricolor, berço da bola, ex-craques como o grande Edu Coimbra, artistas, autoridades e muita meninada. Uma aquarela de moldura socioambiental.
Orquestrada pela Terra FC, campanha global de mobilização para a sustentabilidade por meio do futebol, a programação reuniu de atividades ecológicas com 500 crianças de projetos sociais do Rio até uma partida beneficente com ex-atletas, artistas e influenciadores. Os times sob a batuta de Renê Simões e Oswaldo de Oliveira congregaram, por exemplo, Edmilson, Aldair, Ronaldão, Grafite, Washington, Alexandre Torres, Roseli, Pretinha, Jorge Vercilo, Diogo Nogueira, Xandi Barros, Daniel Braune, Natslia Guitler. Até o prefeito de Londres, Sadiq Khan, bateu uma bolinha.
Os vitrais históricos do Fluminense testemunharam também homenagens a antingos bambas e, em especial, à família Antunes Coimbra, família artilheira, estrelada por Zico e ali representada por Edu. O que seriam das prosas de boteco sem a lenda de que Eduzinho teria jogado mais do que o irmão caçula?
O encontro ainda acolheu, no Salão Nobre das Laranjeiras, a premiação da campanha Gols ela Terra, que movimenta mais de 100 mil jovens no país. Terá uma nova edição em 2026, assim como a Ecofut. “O futebol, maior meio de convivência no mundo, pode ser um agente relevante às soluções climáticas”, ressalta o ex-árbitro profissional Marcelo Pinto, coordenador de Parcerias da Terra FC.
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Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.
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