Recados e troféus do Fla-Flu de enlouquecer a cabeça
Acima das canonizações e crucificações automáticas, prevalece a leveza do toque de bola simbolizada na cambalhota do técnico tricolor
Todo Fla-Flu decisivo para no ar igual Dadá. Levita sobre a taquicardia dos celulares, do trânsito, do calendário. Desafoga o atropelo dos campeonatos emendados. Um beija-flor no meio da vertigem.
Não, o Fla-Flu não acolhe a transitoriedade dos nossos dias. Nascido a 40 minutos do nada, como decretou Nelson Rodrigues, cultiva um tempo próprio, imune ao imediato. O tempo das pequenas eternidades.
Exatamente por isso, o Fla-Flu lega mensagens menos efêmeras do que a procissão vitoriosa e o purgatório escalado pelas almas derrotadas. Recados acima das crucificações e canonizações automáticas.
Um Fla-Flu assim impõe as belezas sobre os martírios. Lembra a importância de enxergarmos além das palmas e condenações que borbulham a espuma dos resultados. A sabedoria de identificarmos, nas palavras de Fernando Diniz, os verdadeiros troféus.
Troféus como o equilíbrio para compreender a pedagogia das derrotas, e controlar impulsos maniqueístas que condicionam destinos esportivos a encarnações do bem e do mal. Nem oito, nem oitenta.
Sem subestimar a responsabilidade de Vítor Manuel Pereira nos insucessos do elenco poderoso, sem desconsiderar a perda de identidade e competitividade, tampouco a enigmática barração de Éverton Ribeiro, seria ilusório isolar o treinador no banco dos réus.
Há mais cartas pesadas na mesa.
Outros fatores – internos e externos – gravitam em torno dos fiascos rubro-negros, sistematicamente tratados com repulsa megalômana. Envolvem de vacilos gerenciais a retrocessos de atletas estelares.
Beiraria a injustiça, ou a ingenuidade, menosprezar o protagonismo tricolor nessa balança. Mesmo que o Fla revivesse os melhores dias de Jesus ou Dorival, encontraria um Flu à altura. Não porque tem levado vantagem nos duelos recentes. Não só porque tem André, Arias, Ganso, Cano, Marcelo. Mas porque vem comendo a bola.
A conquista de domingo premia a beleza, a leveza. Reverencia o toque envolvente, descomplicado, delicioso para quem vê e quem joga, gravado nas taças e no imaginário do futebol brasileiro. Não garante títulos, e sim gostosura.
Extasiados com a virada sobre o rival, tricolores comemoram, antes de tudo, o encontro com um jeito moleque de jogar bola. Um jeito simples e elegante, divertido como o bobinho no recreio, algumas vezes próximo do encanto. Jeito de infância.
Esse jeito enlouquece a galera, canta a arquibancada. Eis o maior troféu do campeão estadual. Tão indelével quanto o regaço da família ou uma cambalhota no gramado do Maraca. Talvez nada simbolize melhor o insinuante Flu de Diniz quanto aquela doce cambalhota.
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Corridão na Quinta
Já a galera da corrida se reúne, sábado agora (15), na Quinta, num treinão de cinco quilômetros organizado pela ASICS. Os participantes largam às sete da matina rumo aos jardins da ex-residência imperial.
Batizada de Pegadas de Nimbus, a iniciativa integra a campanha de um novo tênis da marca. Depois do Rio, seguirá para Fortaleza (29/4) e Brasília (6/5).
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Alexandre Carauta é professor da PUC-Rio, doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.