Primavera de atividades esportivas e recreativas ao ar livre
Da corridinha às raquetadas do pickleball, Quinta oxigena vocação para o lazer banhado de verde e de sol, tão importante à saúde física, mental, espiritual

O sol ainda espreguiça quando o vaivém aquece a primavera. Antigas e novas brincadeiras esparramam-se cariocamente ao ar livre. Irradiam a leveza infantil.
Mãe e filho improvisam um pique, o pai namora o futebolzinho ao lado, gol de chinelo, raiz da raiz. Moleques descalçam o mundo e brincam de bobinho. Outros rolam sobre a grama úmida de sereno: o tobogã perto do lago é um eterno sucesso.
A garotada encara matreira a placa que proíbe o mergulho no cartão-postal, outrora rabiscado de pedalinhos, louca para desobedecê-la e nadar com a serpente de bronze. Ela continua dócil às fotos.
Mulheres fazem ioga sobre o tapete de folhas, famílias ensaiam o piquenique, discos de plástico cruzam a sombra alheios à gravidade. O menino macaqueia no galho igual Mogli. Dependura-se pelos pés, a avó congela, o tempo acalma.
O trenzinho, quase de brinquedo, cantarola uma melodia de recreio. Circula manso, vagar caipira, avesso à pressa cotidiana.
Atletas atravessam os jardins imperiais afagados pelo calor manhoso do começo de estação. Da corridinha marota ao treino de maratona, cadenciam diversidade.
Mistura também sobra na pelada semanal. Pelada de almanaque. Poeticamente rústica, democrática, efervescente que nem almoço de domingo. Banquete de clichês.
Ali têm vez o bom de bola na dele e o bom de bola marrento, o pereba marrento (pior espécie não há) e o pereba gaiato (imprescindível à resenha), o reclamão e o encrenqueiro (às vezes é impossível distingui-los), o vovô-garoto, o tiozão metido a craque, o fominha, o toglodita, o convidado do cunhado, o presepeiro e, claro, o infalível perna de pau. Ali, no chão pisado por monarcas há dois séculos, ninguém reina acima do perna de pau.
A quadra vizinha é das raquetadas. Bolinhas quicam no compasso do pickleball, misto de tênis, badminton, pingue-pongue, com uma pitada de taco, clássico do asfalto suburbano.
Enquanto isso, crianças tentam adivinhar os bichos atrás da cerca que dá para um cantinho do zoológico (BioParque). “Parece avestruz”, admira-se a menina, como quem entra numa dimensão mágica.
O encantamento miúdo compõe a aquarela de pequenas grandes diversões sob a brisa bucólica do parque público. Lazer simples, acessível, precioso à saúde física e mental de qualquer geração.
O Museu Nacional contempla do alto a movimentação banhada de verde. Renascido do incêndio de 2018, respira sua própria primavera. Pipas sorridentes o cortejam.
De quebra, a volta pela Quinta colore a memória daqueles que nela descobriam seu quintal e aprendiam que pouca coisa vale tanto quanto se aventurar numa árvore. Todo quintal, diria Manoel de Barros, ensina a cumplicidade da árvore. Que seria da vida sem quintais?
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Levantando a bola da doação
Outro quintal visceralmente carioca, o Maracanã levanta a bola da responasbilidade social, sábado agora (4), quando Flumiense e Atlético-MG duelam, às 18h30, pela 27ª rodada do Brasileiro. Antes da partida, uma faixa estampada no gramado lembra: “A vida continua através da solidariedade. Doe órgãos, doe vida”. Organizada pela Suderj e pela Fundação de Apoio e Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), a iniciativa reforça a importância deste tipo de doação para a saúde.
“Doar órgãos é permitir a continuidade da vida. Precisamos cada vez mais conscientizar a população, em todos os lugares, para este gesto que salva o próximo”, ressalta o presidente da Suderj, Marcos Santos. O futebol e, em particular, o Maraca impulsinam a campanha, observa a presidente da Faperj, Caroline Alves:
“Levar essa mensagem ao Maracanã, um dos maiores símbolos do Rio e do Brasil, é uma forma poderosa de sensibilizar milhares de pessoas sobre a importância da doação de órgãos. Embora o Setembro Verde seja dedicado à causa, a conscientização deve se estender por todo o ano. A ciência e a vida caminham junta. Ações assim ajudam no recomeço de muitas histórias”.
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Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.