O papel do esporte diante da pedagógica calamidade
Fora ajustes da agenda competitiva, compatíveis à complexidade da tragédia no Sul, setor pode estimular as correções urgentes alertadas por colapsos assim
O esporte divide-se entre o socorro às vítimas da calamidade no Sul e a adaptação às suas sequelas. Em meio a escombros materiais e imateriais, o auxílio envolve desde a participação de surfistas nos resgates reforçados por voluntários até o apoio de atletas e organizações às correntes solidárias multiplicadas país afora.
Rifas, leilões, contribuições por pix. Clubes do Rio e de outros estados incorporam-se, de várias formas, às ajudas financeiras e humanitárias para superar a tragédia que acumula pelo menos 100 mortos, 130 desaparecidos, 374 feridos, 153 desalojados.
Aos medicamentos e ao milhão de reais prometidos aos flagelados, a CBF soma uma campanha mobilizadora liderada por astros da seleção, como Vini Jr. e Endrick. Também lança uma plataforma para doações.
A dona do futebol brasileiro suspendeu jogos dos times gaúchos até o próximo dia 27. Descarta, por ora, a paralisação do campeonato.
Poucos se surpreenderiam se a licença concedida a Inter, Grêmio e Juventude precisasse ser prorrogada. Fica impossível depurar rapidamente todas extensões da catástrofe que privou de água potável 85% da população estadual.
Decisões sobre os rumos da competição nacional abrangem aspectos sensíveis, complexos, conflitantes. Extrapolam as condições logísticas e estruturais necessárias à retomada das partidas, como a reabertura do Salgado Filho. O principal aeroporto de Porto Alegre só deve se normalizar no fim de maio.
O ajuste no apertado calendário da elite deve considerar também parâmetros sanitários, econômicos, sociais. Implica análises, por exemplo, de eventuais renegociações comerciais e de riscos inerentes a uma escalada de doenças infecciosas quase inevitável em casos assim.
Impermeáveis às convicções instantâneas das redes, onde todos logo viram especialistas na bola da vez, as incertezas em torno do colapso histórico não autorizam precipitações, tampouco reducionismos. Difícil precisar quando os rios baixarão ao nível habitual, quando as vias metropolitanas e intermunicipais se restabelecerão por completo, quando os escretes locais tornarão a treinar satisfatoriamente, quando capital e interior poderão respirar resilientes às devastações.
Tamanha complexidade recomenda parcimônia à indústria esportiva, ao calibrar sua agenda, seus processos, às circunstâncias trágicas. Algumas se prolongam sem prazo de expiração.
Eis uma boa oportunidade de aplicarmos valores culturalmente associados ao esporte – cooperação, perseverança, coragem – em aprendizados e avanços civilizatórios, em correções e reconstruções imunes à indiferença. Ou se tornará insuportável, e irreversível, a fatura cobrada pela surdez aos berros climáticos.
Nosso horizonte depende da vontade em curvar ganâncias particulares aos interesses coletivos. Tal dilema nos confronta com o espelho. Ele indica como andam nossa inteligência, nossas prioridades. Reflete a que renúncias nos dispomos em nome da dignidade e da sobrevivência humana.
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Quando o pódio é a vista
Um domingo antes de correrem às urnas, cariocas e visitantes oxigenarão o corpo e a alma pela Floresta da Tijuca. A Meia Maratona do Cristo vai bordejar o verde urbano dia 29 de setembro. (As inscrições estão abertas.)
O programa inclui opções de 21km e de 10km. Os participantes passarão por maravilhas como Vista Chinesa, Paineiras, Mesa do Imperador, até ganharem o pódio da panorâmica desfrutada ao pé do cartão-postal.
Parceria entre Effect Sport e Tribus Adventure, a Meia Maratona do Cristo abrirá as celebrações de aniversário do monumento inaugurado em 12 de outubro de 1931. Aos 709 metros acima do mar, a vista recompensa cada fibra muscular recrutada na subida.
“A Meia Maratona do Cristo é uma experiência que junta a prática esportiva com a natureza, percorrendo cartões-postais da cidade, respirando o ar puro da Floresta da Tijuca e chegando aos pés do Cristo Redentor. Tudo isso colabora para que a prova seja muito desejada por atletas de fora do Rio, sejam de outros estados ou de outros países”, destaca o CEO da Effect Sport, Pedro Rego Monteiro.
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Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.