Libertadores, triatlo, corrida de fitness: um sábado cheio de adrenalina
Fora o duelo do Flamengo com o Palmeiras, na decisão sul-amerticana, o tradicional XTerra e o estreante Hyrox fervem o Rio no dia 29
Que sábado, senhoras e senhoras, bradaria o velho locutor. Dia 29 o Rio respira adrenalina.
Fora o duelo titânico entre Flamengo e Palmeiras na final da Libertadores, o sangue ferve na última etapa do Prio XTerra e na estreia do circuito Hyrox por aqui. As novidades reforçam o tônus multiesportivo do Rio – dourado com o pentacampeonato de Rayssa Leal no STU, domingo passado. A competição internacional de skate faz da Praça Duó, na Barra, a sua casa.
Enquanto flamenguistas e secadores afiam os nervos na aguardada decisão continental, atletas profissionais e amadores aventuram-se por restingas de Búzios. Disputam corrida em trilha (5, 10 e 21 quilômetros), triatlo e mountain bike em Aretê, região por onde o XTerra passou em 2022. Um retorno impulsionado pela triangulação entre preciosidades naturais, apetite esportivo e entretenimento, justifica Mauricio Leal, gerente de Projeto da X3m, organizadora do tradicional circuito off-road no Brasil.
“Celebramos o contato com a natureza, o equilíbrio entre o corpo, a mente e o espírito de desafio que faz parte da nossa cultura. A etapa em Búzios reforça o compromisso com o bem-estar e o desenvolvimento socioambiental”, destaca a executiva de Marketing e Comunicação da Prio, Olivia Richardson. “A cada edição, limpamos mais de 80 quilômetros de trilhas”, completa.
Já o Hyrox ganha o Riocentro embalado pela ascensão mundial entre frequentadores de academia. Intercala corrida (oito quilômetros, no total) com exercícios funcionais, como remar, saltar, esquiar e até empurrar trenó (sked push).
“Cada participante segue o respectivo ritmo. A maioria busca superar a própria meta, ao invés de concorrer com outros competidores. Por isso o circuito tem atraído milhões de praticantes mundo afora. A chegada ao Rio fortalece esse crescimento”, anima-se o representante do Hyrox no Brasil, Edward Dier.
Ele cogita uma versão praiana, afinada à vocação carioca para o lazer ao ar livre. Projeta a modalidade incorporada de vez ao calendário esportivo da cidade:
“A praia concentra uma mistura esportiva tipicamente carioca. O Hyrox joga no mesmo time. Acredito que possamos desenvolver uma variação para a praia, como fizemos em Miami. Isso não diminui a facilidade de praticá-lo em ambiente fechado, bem estruturado, como o Riocentro”.
Difícil não é encarar a jornada de fitness, tampouco as trilhas à beira-mar de Aretê. Difícil mesmo, impossível, é esfriar o sangue rubro-negro nesse sábado elétrico.
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Luzes corajosas, inspiradoras
Aída, Melânia, Daiane, Formiga, Rafaela. Beatriz, Rayssa, Wanda, Rebeca. Fofão, Irenice, Ketleyn, Janeth. Inspirações resilientes. Reluzentes.
Seus brilhos transcendem os pódios conquistados com brio, talento, persistência. Vitórias sobre a pobreza, a desigualdade, a estatística, sobre teimosas discriminações. Vitórias da negritude.
Seus brilhos emanam a espinha ereta perante o racismo, o machismo, a misoginia. Espinha altiva e calejada, resistente igual batida de funk, leve como fundo de quintal. Violências materiais e imateriais não cansam de testá-la.
Seus brilhos iluminam, acima de tudo, perseverança. Nem os músculos moídos dos treinos e das provas incessantes nem o coração doído por inarredáveis segregações abatem a coragem de perseverar.
Assim, quase por milagre, elas amealharam feitos como o salto de Aída dos Santos – sem treinador, sem calçado, sem uma gota de apoio – para o histórico quarto lugar nos Jogos de Tóquio, 1964. Ou a ginga borboleteira da multicampeã Rebeca Andrade. Ou a maestria discreta de Pretinha e de Janeth, asas do futebol e do basquete brasileiros. Ou equilíbrio sorridente, e premiadíssimo, de Rayssa Leal.
Os brilhos ultrapassam suas façanhas de HQ. Relampejam a luta diária de tantas e tantas mulheres pretas por dignidade, igualdade, reconhecimento.
Seus brilhos ativam a consciência de que tal luta, invisibilizada pela indiferença, é todos nós. Exige, portanto, um pacto inegociável, incansável, em torno do combate às maldades e opressões perpetradas pelo preconceito.
Começa por reconhecermos e valorizarmos esses brilhos habitualmente à margem dos holofotes, dos palcos digitais, da batuta algorítmica. Brilhos pedagógicos.
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Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.
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