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Esquinas do Esporte

Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania
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“Há dinheiro para o esporte, mas é preciso saber captá-lo”

Ex-secretário de Incentivo e Fomento ao Esporte e professor do IDEC, Leonardo Castro aponta as condições para o setor atrair mais investimentos

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1 set 2023, 17h12
Divulgação
Divulgação (Divulgação/)
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A democratização do esporte como fonte de lazer, saúde, educação, inclusão esbarra em cobertores curtos de orçamentos públicos e privados. A verba federal para o setor, por exemplo, recuará 52% em 2024 (R$ 607 milhões). A virada de jogo é esboçada na ressalva pedagógica do empresário e consultor de gestão esportiva Leonardo Castro: “Dinheiro há, mas é preciso saber captá-lo”, afirma o dono da Trilha, ex-secretário nacional de Incentivo e Fomento ao Esporte.

Sua convicção fundamenta-se em experiências como a estruturação olímpica do Flamengo, a temporada no Ministério do Esporte e as consultorias prestadas a Fluminense, Vasco e Botafogo. O especialista compartilha os conhecimentos acumulados com profissionais do terceiro setor reunidos no curso gratuito de capacitação esportiva do Instituto para o Desenvolvimento do Esporte e da Cultura (IDEC).

Neste papo por vídeo, Castro indica caminhos para acessar os bilhões disponíveis por meio incentivos fiscais. Ele também aponta a necessidade de governos, empresas e ONGs convergirem esforços prioritários para efetivar o esporte como instrumento-chave de uma política pública centrada na saúde preventiva.

Como o esporte pode captar mais recursos para ampliar seus benefícios à educação, à saúde, ao lazer?

Um dos caminhos é aproveitar melhor as leis de incentivo fiscal. Elas podem render mais de R$ 1 bilhão por ano ao setor.  Há dinheiro, mas é preciso saber captá-lo.

Quais os deveres de casa para explorar ao máximo essas oportunidades?

É preciso substituir uma cultura assistencialista, ligada ao equívoco de que o dinheiro tem que vir por vir, pela gestão profissional. E aí desenvolver, a partir de um diagnóstico preciso, planejamentos estratégico e financeiro para captar fundos de acordo com a natureza e as especificidades de cada organização. Há diferenças substantivas entre uma ONG e um clube como o Flamengo, por exemplo.

Falando em Flamengo, você foi um dos responsáveis pela reestruturação gerencial dos esportes olímpicos do clube, em 2013. Que aprendizados extraiu desta experiência?

Esse caso reforça a importância das práticas profissionais, responsáveis, transparentes para construir um ambiente favorável ao aporte de investimentos. Assim, os esportes olímpicos saíram de um déficit de R$ 16 milhões para a autossuficiência. Primeiro, cortou-se na carne e, depois, consolidamos uma estrutura administrativa e financeira que propiciou um crescimento sustentável, sólido.

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Que atributos compõem o ambiente propício a investimentos no setor esportivo, incluindo os incentivos fiscais?

Os investimentos se fundamentam na cooperação entre as entidades esportivas, as empresas investidoras e o governo, um ajudando o outro. É preciso entender que as marcas só investem em projetos alinhados ao marketing e às diretrizes estratégicas da empresa. À medida que as organizações procuram se associar cada vez mais a princípios e valores ESG, centrados na responsabilidade social e ambiental, projetos esportivos de caráter educacional ou sociocultural, em sintonia com parâmetros como as metas de desenvolvimento sustentável da ONU, adquirem um grande potencial para atrair patrocínios, para se enquadrarem às demandas de investimentos públicos e privados.

Além desse alinhamento à cartilha ESG, que condições ou requisitos organizacionais são necessários para o sucesso na captação de recursos públicos e/ou privados?

Governança institucional, transparência operacional e regularidade fiscal geram segurança ao investidor. A captação pública, seja de forma direta ou por meio das leis de incentivo fiscal, também devem estar em consonância com as responsabilidades com o uso do dinheiro público. Essas condições exigem uma gestão qualificada. Por isso é tão importante profissionalizá-la, inclusive no terceiro setor.

Até para potencializar os incentivos fiscais…

Exato. As leis de incentivo fiscal representam a fonte mais democrática de recursos, contribuindo para valorizar as modalidades regionais, como o mambol, no Norte. Elas contemplam desde projetos sociais até grandes eventos. Têm funcionado bem, por exemplo, no Rio, no Maranhão, em Minas. Mas há outras fontes relevantes de recursos ligados à esfera pública, como emendas parlamentares e o Comitê Brasileiro de Clubes (CBC), voltado à formação de atletas olímpicos e paralímpicos, que recebem recursos das loterias.

Que casos, no Rio, você considera inspiradores quanto ao uso de incentivos fiscais?

As duas últimas edições dos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs), por exemplo, reuniram mais de sete mil crianças, entre 12 e 14 anos, no Parque Olímpico. Há muitos casos inspiradores, desde projetos sociais na capital e no interior, como o voltado ao paradesporto em Campos, até grandes eventos, como o Rio Open, principal torneio de tênis sul-americano. Os incentivos fiscais são aliados para avivarmos a vocação esportiva carioca. Dificilmente encontramos uma cidade tão atrativa ao esporte. O Rio congrega tudo, da maratona aquática ao ciclismo de estrada, por exemplo.

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Leonardo Castro na bancada
Leonardo Castro (Divulgação/Reprodução)

E o investimento privado? A percepção de que o setor poderia receber mais recursos privados corresponde à realidade?

Sim, precisamos melhorar o aporte direto de recursos privados. Isso envolve, entre outros aspectos, aprimorar os retornos apresentados aos potenciais investidores. Retornos de mídia, social, educacional etc.

Como incrementar esse aporte?

O primeiro giro da roda é a principal barreira. Para sair da inércia e captar diretamente mais recursos privados, a organização esportiva precisa construir ou consolidar aquelas condições: governança, transparência, responsabilidade fiscal, segurança jurídica, planejamento financeiro, planejamento de marketing, capacitação para a formatação de projetos. Não basta a causa boa. É preciso transformá-la num trabalho profissional, com efeitos no longo prazo, para, como se diz na área da cultura, estimular a formação e sustentação de plateia, a partir da percepção de valor.

Quais os deveres de casa para efetivarmos a responsabilidade constitucional de democratizar o esporte?

Vivemos um processo evolutivo, com avanços neste sentido, mas precisamos acertar o rumo. Estamos atirando para todos os lados. Devemos consolidar um plano de desenvolvimento esportivo, agregando competências e esforços do meio esportivo. Sermos unidos e assertivos. Para democratizar do esporte, e efetivá-lo como instrumento de uma política pública de saúde direcionada à prevenção, precisamos incentivá-lo prioritariamente na escola, não no clube, que é restritivo. Isso vai muito além da educação física escolar.

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Alexandre Carauta é professor da PUC-Rio, doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação FísicaOrganizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.

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