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Esquinas do Esporte

Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania
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Futebol: guinada empresarial precisa favorecer inclusão

Redução da desigualdade e responsabilidade social deveriam acompanhar debates e empreendimentos relacionados à conversão dos clubes em S.A.

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Atualizado em 30 dez 2021, 15h14 - Publicado em 29 dez 2021, 21h40
Mãos unidas simbolizando harmonia
 (Pixabay/Reprodução)
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Marcão é safo com o bonde andando. Matou o abacaxi no peito e o conduziu à Libertadores. Repetiu a façanha da temporada anterior. Nem assim livrou-se das críticas às escolhas técnicas e táticas nos quatro meses ao volante do Flu. Tampouco entrou no clã dos treinadores cobiçados, ora quase restrito a estrangeiros.

Técnico de fora está na moda, ironizam uns. É a globalização, naturalizam outros. Esforço à internacionalização de marca, aponta o marketing. Reciclagem para arejar concepções arcaicas ou viciadas, justificam os entusiastas. Complexo de vira-lata, diriam os ufanistas.

O xodó por treinadores importados tem um pouco disso tudo. Noves fora, dificulta o acesso de revelações domésticas à antessala da elite nacional. A realidade brasileira acrescenta outros obstáculos.

Aos 49 anos, Marcão parece confortável com o protagonismo interino. Embora as seguidas classificações à Libertadores o credenciem a voos maiores, o ex-volante reassume o plantão de bombeiro. Passa a assessorar Abel Braga, velho conhecido, quarta vez nas Laranjeiras.

O retorno de Marcão a “auxiliar permanente” acentua um disparate emblemático. Jair Ventura, do Juventude, vira o único treinador negro entre os times que disputaram a Série A do Brasileiro.

As raízes populares do futebol, as filiações à nossa identidade sociocultural, revelam-se insuficientes para transformar sua indústria numa exceção à desigualdade crônica. O racismo estrutural asfixia as oportunidades a negros em gestões de equipes, clubes, federações. Só dois chegaram à seleção: Gentil Cardoso, no Sul-Americano de 1959; e Vanderlei Luxemburgo, entre 1998 e 2000.

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Marcão e o antecessor, Roger Machado, sistematicamente engrossam o coro por mais equilíbrio e menos discriminação no mercado da bola. Reiteram a necessidade de dirigentes, atletas, comissões técnicas, investidores, torcedores embarcarem nesse desafio.

Sem perder a serenidade, Marcão embutiu o apelo nas boas-vindas a Abel. A habitual simpatia não escondeu a urgência da mobilização contra a discrepância adubada por preconceitos endêmicos. Terreno no qual se alastra o estigma do síndico de vestiário tatuado em vários treinadores caseiros.

O apartheid informal reflete a segunda maior concentração de renda no mundo. Aqui os mais ricos ganham 35 vezes acima dos mais pobres, calcula o IBGE. Assimetria pior, só no Qatar.

O desequilíbrio assola a população negra. Ela beira a metade (46%) dos 13,5 milhões formalmente desempregados, assinala o relatório “Síntese de indicadores sociais”, publicado mês passado.

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A diferença estende-se aos empregados. Pretos recebem, na média, salário 69% inferior ao dos brancos. Uma atrofia agravada pela queda de 11% do rendimento real (descontada a inflação) em 12 meses.

A redução da desigualdade deveria incorporar-se aos rumos empresariais do futebol verde-amarelo. Responsabilidade social constitui, ao lado de compromisso ambiental e governança, a bola da vez no universo corporativo.

Tais atributos, indicados na sigla ESG, tornam-se vitais ao investimento sustentado. Tão indispensáveis quanto a transparência, a competência político-administrativa e o ambiente de negócios confiável.

Debates e empreendimentos em torno da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), embrulhada como saída aos clubes endividados, hão de contemplar esses princípios. Não só porque disso depende o aporte de investidores. Mas pela chance de construir um horizonte inclusivo. Ensejá-lo soma-se aos votos de um revigorante 2022.

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O inestimável valor da resenha

A resenha com Zico flui igual ao Flamengo de 81. Transcende glórias, superações, reverências acumuladas desde a estreia profissional, em 1971. Evoca surpresas, superstições, curtições. Histórias de quintal.

Histórias como a pegadinha aplicada no folclórico Peu, o drible no figurino italiano, a barração do pé-frio japonês, a inspiração dos irmãos comendo a bola, a cumplicidade com pai regada a bacalhau. Memórias além do mito. Habitam o Galinho de Quintino, assim eternizado pelo radialista Waldir Amaral.

Alguns desses causos, os mais divertidos, talvez sucumbissem ao patrulhamento das redes. Pior para as redes. Melhor para quem viu Zico contá-los a Roger e Paulo Nunes no derradeiro Boleiragem de 2021 (SporTV). Afagam a alma desidratada com a pausa dos jogos.

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O que desejar do novo ano senão deliciosas resenhas e singelas histórias de quintal?

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Alexandre Carauta é doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva.

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