Duplas que jogam por música e acendem o melhor do Brasil
Reavê-las nos clubes e na seleção é um pedido natalino, um voto de fé na tradição artística que nos conecta com a beleza, a infância, a poesia
A resenha caminha diplomática. Sem piada de quinta, sem lorota de alcova, sem Fla-Flu político. Nem parece festa da firma. Eis que o provocador desafia a serenidade: “Chico ou Caetano?”.
A pergunta aparentemente aleatória dirige-se a dois cânones da crítica musical que integram a roda. O provocador fareja polêmica. Não se contentaria com o empate técnico entre os gênios. “No par ou ímpar, qual vocês escolhem?”, insiste.
Talvez pelo vinho, talvez por intuir um bom debate, o catedrático da MPB desce do muro:
“Caetano”, opina moderado, como se pedisse licença.
O outro emenda, numa convicção igualmente comedida:
“Chico. Ah, o Chico Buarque”.
Todos no grupo aderem à pilha. Defendem seus eleitos com argumentos técnicos, históricos, afetivos. Argumentos inequívocos. O incêndio pisca pro parquinho. Um pseudo-bombeiro tenta o consenso:
“Acima deles está João Gilberto, concordam?”.
“Pera lá. E o Tom?”, aflige-se o único até então calado.
Entre goles e impasses, os amigos evocam letras e melodias preciosas. Cantarolam sucessos, recordam gravações e shows. Acrescentam Gil, Gal, Bethânea, Edu, Elis, Milton. Não ambicionam a unanimidade, obviamente inalcançável. Esgrimam lembranças com a irreverência de um amigo-oculto natalino e o deleite infinito de quem traça uma rabanada de vó.
Esticam a brincadeira: Renato Russo ou Cazuza? Pouco importam as preferências, até porque bambas assim flutuam incomparáveis. A graça é reencontrar o Brasil virtuoso, o Brasil iluminado, redentor. Refúgio às obscuridades. Afago na autoestima nacional.
O papo escancara a nostalgia diante do certo estio de grandes duplas, aquelas beijadas pelos anjos, diabolicamente celestiais. Duplas que nos conectam com a beleza, a infância, o impossível.
Nosso esporte costuma fabricar muitas delas. Paula e Hortência, Oscar e Marcel, Jacqueline e Sandra, Pelé e Garrincha, Pelé e Coutinho, Bebeto e Romário (foto), Assis e Washington, Túlio e Donizete, Gabigol e Bruno Henrique.
Ninguém sabe como nascem. Existem desde sempre, tamanha a naturalidade com que se completam.
Comunicam-se por telepatia. Um antevê o pensamento do outro, coisa de bruxo.
Mesmo nos piores dias, lampejos recriam a mágica ancestral. Até no sofrível Fluminense de 2024, por exemplo, Ganso e Arias rascunharam poéticos e decisivos entrelaces, coloridas exceções num time desbotado.
As luzes na varanda nos autorizam a pedirmos aos céus um reabastecimento. Estamos um tanto carentes desses bruxos.
A encomenda, reconheçamos, não é moleza. Deixemos o sapatinho na janela do quintal. As estrelas hão de atender.
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Entre talentos e paixões
Por falar em virtuoses da música e da bola, uma sugestão: ver ou rever os documentários “Uma noite em 1967” (2010) e “Fla-Flu – 40 minutos antes do nada” (2013), ambos assinados por Renato Terra. Navegam pela rima entre talentos prodigiosos e paixões formadoras da nossa identidade cultural.
O primeiro, codirigido por Ricardo Calil, dedilha bastidores, comentários e imagens marcantes do festival que nos legou Gil, Caetano, Chico, Edu Lobo, Os Mutantes. O segundo conta, num compasso de prosa de boteco, histórias cadenciadas pelo clássico e seus personagens mitológicos, como o Casal 20.
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Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.
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