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Esquinas do Esporte

Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania

Contra gigantes europeus, cariocas escalam a irreverência

Enquanto Brasil tenta reaver a identidade e a proeminência no futebol, o escaldado torcedor ancora a fé na memória e troca ufanismo por humor

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Atualizado em 5 jun 2025, 09h51 - Publicado em 5 jun 2025, 09h30
Arrascaeta comemora o gol marcado contra o Fortaleza
O Flamengo de Arrascaeta estreia no Mundial dia 16, contra o Espérance, da Tunísia (Adriano Fontes/Flamengo/Reprodução)
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O Mundial à vista desperta menos ansiedade do que memes. Enquanto as redes especulam reforços de última hora, cariocas moderam a expectativa. Caminham entre o orgulho de representar o país, o medo de fazer feio, a numa zebra bíblica e, claro, a irreverência.

Frente a pesos-pesados europeus, os primos pobres de cá teriam destino semelhante ao do basquete comunitário contra o dream team americano. A razão reconhece: nem com todas as preces do mundo, Flamengo, Fluminense e Botafogo, campeões das Libertadores recentes, tampouco o competitivo Palmeiras, seriam páreo a Real Madrid, Barcelona, Manchester City, PSG.

O coração rebate: calma, deuses do futebol são inimigos do óbvio. Adoram contrariar a ciência, a lógica, a probabilidade. Nem as cartomantes escapam.

A esperança alvinegra, rubro-negra e tricolor constitui uma extensa profissão de fé. Ultrapassa os apelos ao sobrenatural e aos padroeiros.

Fé na costumeira brecha ao imponderável. Só nos gramados azarões derrubam, vez ou outra, gigantes econômicos e esportivos.

Fé numa certa indiferença europeia ao torneio da Fifa, menos valorizado do que as principais disputas do continente. Nada indica, contudo, que o cacife material e simbólico da Copa seja insuficiente para estimular as grifes globais. Convenhamos, 125 milhões de dólares ao vencedor atraem até quem nada em dinheiro.

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Fé num encontro com o passado. Com o Brasil das pernas aladas, despretensiosamente poéticas, nascidas no morro, no asfalto, na poeira das periferias. O Brasil dos gols feitos de chinelo, da chapinha chutada no recreio, do drible sorridente. Brasil acalentado no imaginário, onde seguimos bons no couro e encantamos o estrangeiro.

Ali nossa identidade cultural continua irmanada à bola, ao jeito insinuante e inventivo de jogar bola. Ainda conseguimos avistá-lo no retrovisor, progressivamente distante da realidade, até virar um pôster na parede, um cheiro que parte, um amor perdido.

Enquanto sonhamos com esse reencontro – nos times do peito e na seleção –, enquanto a memória conserva a fé num Brasil brasileiro, uma voz jocosa na feira abafa qualquer sopro ufanista:

“Relaxa, amigo, a gente vai lá só pra sair na foto. O que vier é lucro”.

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“Deixa de ser pessimista, Cristiano Ronaldo vem aí. A Taça é nossa”, retruca o gaiato na barraca ao lado.

Perdemos a supremacia, o prumo, a banca, mas não perdemos a piada. Menos mal.

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Um banho na ficção

Descontração também reveste a alma botafoguense lavada pela Liberta. Às inarredáveis lembranças que a banham, soma-se o livro da jornalista Aline Bordalo.

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“Difícil acreditar que não foi ficção”, admite Aline. Sangue de repórter, ela radiografou bastidores das conquistas nacional e sul-americana.

Envernizado de paixão, o mergulho documental desembocou no “2024 – o ano do renascimento” (Ed. Livros Ilimitados). Histórias do campo, da arquibancada, do vestiário, entrevistas, preleções, canções, fotos exclusivas e comentários de torcedores famosos compõem uma aquarela do ano glorioso.

“Incluí até as músicas cantadas pela nossa torcida”, observa a autora. “O prefácio do técnico Artur Jorge é a cereja do bolo”, completa, com orgulho de campeã.

A publicação será lançada na próxima segunda (9), às 18h30, na sede de General Severiano (Av. Venceslau Brás, 72, Botafogo). Alvinegros vivos e mortos, felizes como nunca, lá baterão ponto.

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Arraíá F.C.

Festa junina ganha a força de esporte nacional. Deveria se estender pelo ano todo. A maratona caipira reúne arraiás como o do colégio Notre Dame Recreio, sábado agora (7), a partir das 9h. O cardápio da 23ª edição combina forró, danças típicas, quadrilha com estudantes e, naturalmente, brincadeiras e quitutes.

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Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.

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