Acelerando os passos por diversidade e inclusão
Embaixadora da Corrida Brasil sem Preconceito, Daniela Lopes reivindica mais espaço, também no esporte, para a comunidade LGBTQIAPN+
Acostumadas com a mistura imprescindível aos parques, as palmeiras da Quinta cortejam, dia 30 de junho, a diversidade. Nela se oxigenam os oito mil participantes da Corrida Brasil Sem Preconceito. De volta ao Rio, passados nove anos, a disputa soma-se à programação em torno do Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+.
“É uma oportunidade de mostrar que existimos e resistimos”, anima-se a embaixadora da prova Daniela Lopes. A alegria em rever a cidade, na qual sempre descobre “um novo encanto”, não dilui o combate às discriminações estruturais, tampouco o apelo enfático à inclusão: “Precisamos ampliar as oportunidades e o apoio à comunidade LGBTQIAPN+ no esporte”.
Aos 33 anos, a corredora trans inspira-se na jogadora de vôlei Tiffany Abreu para superar preconceitos e “focar no que ama”. Uma filosofia que acompanha a paulistana desde sua largada esportiva, em 2018:
Como você se encontrou na corrida?
Conheci o esporte em 2018, quando participei de um grupo de corrida em São Paulo. Na primeira vez, corri cinco quilômetros, do Ibirapuera até o MASP. Desde então, nunca parei.
Por que o esporte constitui um agente de transformação social?
O esporte tem o poder de unir pessoas. Além disso, a corrida estimula uma competição com você mesmo. A gente busca se superar constantemente. E a torcida nos incentiva a continuar correndo, a concluir a prova. É sensacional. Mas precisamos ampliar as oportunidades e o apoio à comunidade LGBTQIAPN+, normalmente esquecida ou excluída desse espaço.
Neste sentido, qual a importância de iniciativas como o coletivo LGBT de esporte Unicorns?
Não faço mais parte da Unicorns Brazil, porém foi um começo essencial, uma porta de entrada num universo que eu desconhecia. Os meninos me deram o que deveria ser normal: a oportunidade de mostrar o meu talento e a paixão pela corrida. Isso se transformou em cinco anos me superando, melhorando cada vez mais o meu tempo.
Qual a importância da Corrida Brasil sem Preconceito no combate às discriminações?
Precisamos ser vistos como iguais, com mais respeito. É representativo ter uma prova que valorize quem somos, que seja palco para nossas lutas, uma prova na qual podemos celebrar nossas vitórias e reedificar nossos direitos no esporte, na corrida de rua. É uma oportunidade de mostrar que existimos e resistimos, que ainda estamos aqui.
Como você concilia a agenda de treinos e competições com a vida profissional, doméstica, social?
Tenho uma rotina bem flexível. Adapto os treinamentos conforme a minha agenda. Treino corrida quatro vezes por semana e fortalecimento muscular cinco, seis vezes. Tenho o privilégio, nesse momento, de dar prioridade a isso. Mas não é uma realidade para minha comunidade.
Que lugares do Rio você mais aprecia, tanto para correr quanto para curtir a cidade?
Todas as vezes que vou ao Rio conheço um pedaço novo e me encanto. Já corri na Lagoa e nas provas entre Leblon, Aterro, Centro e Marina da Glória. Estou animadíssima para correr agora na Quinta da Boa Vista.
Qual a expectativa para essa prova?
Quero fazer um melhor tempo nos 10 quilômetros e curtir a prova. Estou focando agora em viver esse momento que será inesquecível.
Que casos você considera inspiradores, simbólicos, da relação entre o esporte e a causa LGBTQIAPN+?
Tenho a Tiffany Abreu (jogadora de vôlei) como inspiração. Apesar de todo preconceito e dos ataques, ela segue focando no que mais ama: jogar. E recebe muito carinho da torcida. Isso é o que importa.
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Caligrafias morais
A história mal contada não merece desprezo. Passaria batido a renúncia ao rosa, se o lateral Yan Couto não a atribuísse a uma recomendação contra cabelos coloridos. A CBF tratou de negá-la.
Caso se confirmasse, atiçaria a tutela à espreita. Ronda sorrateira igual bicho à espera de um cochilo para dar o bote.
O veto cromático seria irrelevante ao desafio esportivo da seleção. Nada acrescentaria à missão de restituir os títulos e a beleza ressecados pela estiagem de craques, de maestros, de laterais insinuantes.
Também não se poderia compará-lo a retrocessos como a criminalização de meninas estupradas que abortarem após a 22ª semana de gravidez. Projeto de Lei assinado por 32 deputados as equipara a homicidas sujeitas a 20 anos de prisão, o dobro da pena prevista para o estuprador.
Considerada inconstitucional pela Ordem dos Advogados, a proposta desperta protestos país afora. Talvez sejam suficientes para derrubá-la. Nem por isso apagará rastros da nossa caligrafia moral e política.
Sem a mesma gravidade, prosaicas cartilhas moralistas não deixam de ameaçar direitos fundamentais. A prudência sugere mantê-las sob guarda alta. Dissimulam afrontas a conquistas humanitárias, democráticas, como a liberdade de expressão.
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Criançada ilumina estrelas da ginástica
Os olhos brilhavam que nem uma medalha estufada no peito. Cada segundo ao lado de estrelas como Rebeca Andrade, Flavinha, Jade Barbosa era um pódio conquistado.
Nem as luzes parisienses cintilariam mais do que as 40 crianças do programa Sesc+Esportes cara a cara com bambas do solo, do salto, das barras assimétricas. O encontro no Parque Olímpico adoçou os treinos para o Troféu Brasil de Ginástica Artística, última competição antes dos Jogos na capital francesa. As finais masculina e feminina serão disputadas domingo agora (23), com transmissão do Sportv.
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Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.