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Daniel Sampaio

Por Daniel Sampaio: advogado, ativista do patrimônio, embaixador do turismo carioca e fundador do Instagram @RioAntigo Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
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Gaiola de Ouro: memórias do Palácio Pedro Ernesto

Conheça a história controversa e quase centenária da Câmara Municipal

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Atualizado em 21 jul 2020, 19h49 - Publicado em 21 jul 2020, 19h37
A "Gaiola de Ouro", apelido dado à Câmara Municipal do Rio de Janeiro (foto sem data) -  (Augusto Malta - acervo do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ)/Reprodução)
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Conta-se que, por ocasião da vitória da Tríplice Aliança na Guerra do Paraguai, em 1870, uma campanha popular arrecadou recursos para construir uma estátua equestre do Imperador D. Pedro II, que recusou a homenagem e preferiu destinar o dinheiro à construção de oito escolas públicas. Uma delas, a Escola Pública da Freguesia de São José, teve sua construção finalizada em 1872 e ficava no Largo da Mãe do Bispo, atual Cinelândia. O imóvel, em estilo neomanuelino, funcionou como educandário até o ano de 1896, ano em que passou a sediar o Conselho da Intendência Municipal, sede do Poder Legislativo do “Districto Federal” instalado até então nos arredores do Campo de Santana.

O antigo colégio não tinha a estrutura ideal para o funcionamento do Conselho e, já em 1911, propõe-se a construção de um palácio no mesmo local para abrigar os conselheiros locais da capital da República. O projeto foi iniciado pelo célebre arquiteto Heitor de Mello, o mesmo que projetou diversos edifícios na Avenida Central (atual Avenida Rio Branco). O projeto previa um suntuoso palácio em estilo eclético, com uma mistura de estilos que incluía elementos à moda Luís XIV e Luís XV, algo parecido com uma das alas do Museu Louvre, de Paris. Com a morte de Heitor de Mello, em agosto de 1920, o projeto continuou sob a responsabilidade do mesmo escritório, sendo liderado pelos arquitetos Archimedes Memória e Francisque Cuchet.

Segundo o livro “Efemérides Cariocas”, de Neusa Fernandes e Olínio Gomes P. Coelho, o projeto contou com a participação de um grande número de artistas — pintores, escultores, como Álvaro Teixeira, Candido Caetano de Almeida, Carlos Chambelland, Carlos Oswald, Décio Villares, Eduardo de Sá, Eliseu Visconti, Gustavo dell’Ara, Helios Seelinger, Honório Peçanha, J. Batista, Lucílio de Albuquerque, Oscar Pereira da Silva, Petrus Verdié, Rodolfo Amoedo, Rodolfo Chambelland, Sebastião Vieira da Silva e Timóteo da Rocha.

O historiador Brasil Gérson apelidou o novo prédio de “Gaiola de Ouro”, pois o custo de sua construção chegou ao valor de 23 mil contos de réis. A título de comparação, o Theatro Municipal, inaugurado em 1909 — uma obra arquitetônica muito mais extravagante e luxuosa —, havia custado 10 mil contos de réis aos cofres públicos. Esse codinome também deve ter relação com o excesso de móveis banhados a ouro nos salões nobres e gabinetes do novo palácio.

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Se essa fortuna se deveu a extravagâncias no uso de materiais e na compra de mobiliário ou à velha prática de superfaturamento não se sabe. A belíssima “Gaiola de Ouro” foi inaugurada, com pompa e circunstância, há exatos 97 anos, em 21 de julho de 1923, com a presença do Prefeito do Distrito Federal, Alor Prata.

O nome “Palácio Pedro Ernesto” veio apenas nos anos 50, em homenagem ao médico e ex-Prefeito do Rio, falecido em 1942. Desde que abriu suas portas, o palácio, que é a “casa do povo carioca”, e parte do importante conjunto arquitetônico da Cinelândia, tem sido cenário de escândalos. Não estou falando apenas do valor absurdo de sua construção, mas também das escandalosas comendas, medalhas, nomes de ruas, honrarias e homenagens, uma farra e desperdício de tempo e dinheiro público para honrar pessoas nem sempre tão honradas. 

O escândalo da vez é o PL 174, uma aberração legislativa que permite puxadinhos pela cidade e uma série de outros absurdos para agradar a especulação imobiliária, em plena pandemia. Felizmente, foi barrado por uma liminar. Isso até ela ser cassada pelos poderes que fingem nos reger.

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O que a Câmara deveria estar fazendo, no momento? Fiscalizando os gastos públicos com hospitais de campanha desnecessários e votando a tão necessária lei de outorga onerosa pelo uso do solo, talvez a única solução para salvar o nosso patrimônio histórico. Mas isso é papo para outro dia.

 

*Daniel Sampaio é carioca do Grajaú. Advogado, memorialista e ativista do patrimônio. Criador do perfil @RioAntigo no Instagram.

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