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Cristiana Beltrão

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A OMS sugere restringir o consumo de álcool durante o isolamento

Corram para as montanhas!

Por Cristiana Beltrão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 15 abr 2020, 17h34 - Publicado em 15 abr 2020, 12h21
 (Cristiana Beltrão/Arquivo pessoal)
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Todos os dias, quando abro os olhos, tenho um segundo e meio de alegria, me lembro do Covid e falo um palavrão.

Pareço ter desenvolvido uma patologia temporária, com um ritual de tiques que passa por limpar a garganta, tossir, dar aquela checada em sintomas do vírus e… palavrão.

Demoro uns 45 minutos pra me levantar e vou rolando a inércia dia abaixo, trabalhando o pouco que posso como quem tenta se mexer com camisa de força, esperando uma notícia incrível que salve vidas, o Mundo, talvez meu negócio… Passam duas, três, quatro horas, e minhas esperanças são uma sucessão de “só que não”. E então chega a hora de beber.

Já acabaram os vinhos baratos, migrei para os caros, não sem antes passar pelo estoque de whiskies e gins, que esperava derrubar em momentos especiais. Especial sou eu, que aguento aqui esse rojão! – digo pro espelho. E mato outra garrafa.

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E então me vem a OMS, agora, sugerir que os governos limitem o consumo de bebidas durante a quarentena porque o álcool reduz a imunidade, aumenta o risco de violência doméstica e pode prejudicar a saúde física e mental. Nada disso é piada, eu sei…. Tosse! Tique! Palavrão! Palavrão!

Sim, sabemos disso tudo, mas sem querer parecer insensível ou fazer uma apologia às drogas permitidas por lei, há um vírus lá fora querendo nos pegar, sou responsável pelo emprego de um mundaréu de gente, e preciso acreditar que tudo vai acabar bem, no melhor estilo “me engana que eu gosto”.

Como ser Pollyana sem abrir a válvula mágica que me tira a pressão avassaladora do dia e faz as ideias horríveis que brotam na minha cachola se misturarem confusas na banheira de minha moleira cheia, como numa sopa de letrinhas?

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Como me preparar para o amanhã? Eu já morava, muito antes do isolamento, na esquina de “vende-se” com “aluga-se”, como o resto do Brasil que já se esforçava pra sair da crise.

E não somos só nós. O aumento de álcool aconteceu no Canadá, nos EUA, Russia. Estamos todos bebendo como gambás. As vendas aumentaram entre 30% e 50%, dependendo da região. Morreremos agarrados ao copo, feito mosquitos.

Se não for o álcool, eu juro, vou me acabar em Doce de Leite Viçosa, o anticristo que mora na minha despensa. É leve, etéreo, maravilhoso e faz a mágica de desaparecer na boca e aparecer nos quadris em 15 segundos. Meus quadris morarão em fusos horários diferentes – e isso ainda vai dar um jeito de irritar a OMS ou criar um conflito internacional – mas só álcool ou o açúcar dão conta da frustração, da ansiedade, do tédio, da insegurança, da raiva.

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OMS, ou me dá um sedativo e me acorda com um beijo no fim desse troço, ou me deixa beber! Porque amanhã é dia da marmota.

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