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Cristiana Beltrão

Por Cristiana Beltrão, restauratrice e pesquisadora de gastronomia e alimentação Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
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Respeite os mais velhos!

Os desafios demográficos e o emprego na terceira idade

Por Cristiana Beltrão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 1 jun 2021, 11h26 - Publicado em 1 jun 2021, 10h45
Que lugar terão os mais velhos no futuro?
Que lugar terão os mais velhos no futuro? (Cristiana Beltrão/Arquivo pessoal)
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Li ontem que o governo chinês autorizou casais a terem 3 crianças, encerrando a política anterior de dois filhos, que não chegou a cumprir o objetivo de aumentar as taxas de natalidade daquele país. Em 2020, os números que já não vinham bem, encolheram a patamares inferiores aos dos anos 60 e 70, também por conta da pandemia.

A política pouco sensibilizou a população, que sofre com os custos altos de educação e já corta um dobrado sustentando uma crescente população de idosos. Esse trem ameaça bater e comprometer a estratégia chinesa de se tornar uma potência econômica ainda maior, graças à força de trabalho de seus jovens.

Há pouco mais de um ano, dias antes do Covid-19 virar notícia, decidi compilar várias pesquisas europeias e uma americana, com projeções para o mundo dos restaurantes, em 2030. Entre as várias mudanças que o negócio iria experimentar, de acordo com os especialistas, uma me chamava particular atenção: o envelhecimento proporcional da população indicava que, em dez anos, os restaurantes daquelas bandas empregariam mais pessoas de terceira idade, no salão e na retaguarda.

No Brasil, comentei que desperdiçamos os anos de bônus demográfico (quando o número de habitantes em idade ativa supera o total de brasileiros considerados dependentes, como idosos e crianças) e que também estamos envelhecendo, só que muito antes de crescer. Pior: não estamos culturalmente preparados para empregar pessoas com mais idade.

Então vem o coronavirus. O resultado disso tudo? Nossa pirâmide terá um tanto de jovens, uma cintura apertada no meio e uma pancada de idosos sendo sustentados por gente que não consegue suportar esse peso, a não ser que mudemos nossa mentalidade.

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Em jornais e revistas só se fala de sustentabilidade, “upcycling” na moda, reaproveitamento do lixo, energias alternativas, consumo consciente e prolongamento da vida útil das coisas. Tudo muito bonito, mas a verdade é que um dos recursos mais banalizados e descartáveis da nossa sociedade é a experiência.

Hoje tem até um nome bonito para isso: etarismo, o preconceito contra pessoas de mais idade. Mas aqui a gente conhece mesmo como: “quem gosta de velho é reumatismo, cadeira de balanço, fila do INPS e rede”, “burro velho não toma ensino” e “papagaio velho não aprende a falar”.

Um dito só vira ditado quando muito entranhado.

Todos associam startups a nerds virtuosos de 20 e poucos anos, geniais e ousados, com ideias “fora da caixinha”, mas de acordo com um estudo recente do MIT (Massachusetts Institute of Technology), a faixa etária MÉDIA das startups que mais cresceram nos EUA é de 45 anos. Pois é. Ideias originais são fantásticas, mas a fórmula que combina energia e inovação com anos de experiência é a que rende mais dinheiro.

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Ao invés de lidar com um jovenzinho que vê o emprego como uma passagem, empresas estão aprendendo a buscar profissionais que tenham compromisso com a marca no longo prazo e reforcem seus valores sem perder a criatividade ou energia.

E afinal, o que é um idoso? Com os avanços na tecnologia e saúde, o conceito está cada vez mais móvel. Eu não pretendo ficar idosa antes dos 90, numa boa.

Me lembro sempre do adorável Alfredo, garçom do Bar Lagoa (que vi por lá, da última vez, talvez com uns 80 anos de idade), um dos serviços mais eficientes e carinhosos do Rio de Janeiro. Jogar fora talentos como esse, em tempos de crise e com os desafios adiante, é uma grande bobagem. A verdade é que não se vê muitos Alfredos por aí, mas os setores de restauração e hospedagem têm muito a ganhar com a experiência e disposição das pessoas com mais de 65, ávidas por ocupar seu tempo produtivamente.

Vivemos em tempos lindos e complexos. A informação, antes passada somente de pais para filhos, de professores para alunos e de cima para baixo, hoje vem pela palma das mãos, pelos ouvidos, por todo canto, subversivamente e sem censura, alcançando todas as idades e invertendo o fluxo.

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Crianças, adolescentes e jovens já leram tudo por aí, muito antes de explicarmos, e nos provocam quotidianamente com debates sobre o futuro. Esse barulho é bom, garanto. Como mostram as plaquinhas da vida, o que importa é dar as mãos antes de cruzar a estrada.

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