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Cristiana Beltrão

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A dança do almoço executivo

Por onde anda o almoço de negócios nos dias de hoje?

Por Cristiana Beltrão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 28 Maio 2022, 12h18 - Publicado em 28 Maio 2022, 12h18
Rio Minho, no Centro do Rio desde 1884
Rio Minho, no Centro do Rio desde 1884 (Cristiana Beltrão/Arquivo pessoal)
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Parece loucura, mas há 30 anos a sala de um executivo de sucesso tinha sofá em “área de estar”, mesinha adicional de reuniões e até um aparador com bandeja de prata, whisky e copos de cristal.

 

Hoje, sucesso é não ter sala. 

 

Muito antes da pandemia, a maior parte das empresas já havia deixado alguns “signos de poder” de escanteio e seus executivos se apertavam em estações de trabalho não mais importantes que as outras, em estruturas democráticas. Sucesso era (e é) ter uma empresa enxuta, sem custos desnecessários.

 

O menu executivo também era parte da “cultura empresarial”: um pacote de pratos montado para sair mais rápido – sem avançar no precioso tempo de trabalho – e caber no cartão empresarial. Mas será que o nome ainda faz algum sentido? Não seria apenas um menu a preço fixo? Afinal, o que são, hoje, os horários de um executivo?

 

A verdade é que, depois da peste, as fronteiras entre trabalho e lazer se esfarelaram de vez. Se de um lado, o trabalho entrou na casa de todos, o escritório de hoje também pode “acontecer” num hotel, numa casa de veraneio ou ainda, falando do meu assunto preferido, num restaurante qualquer. 

 

Comecei com uma enquete com a turma que ainda resiste no Centro, perguntando por onde andava o almoço de negócios, em que assuntos importantes eram discutidos em restaurantes tradicionais do tipo expense account, com bom espaço entre as mesas, cartas de vinho com sobrepreço e serviço discreto? 

 

A verdade é que, à medida que o Centro do Rio deixa de ser uma zona de vocação única – de 100% comercial para mista/residencial – as coisas mudaram bastante. Com a presença física nas empresas diminuindo e o tamanho dos escritórios encolhendo, a necessidade de fazer reuniões por perto está acabando e o tempo das refeições pós-pandemia, aumentou bastante, como resposta ao confinamento. 

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Alguns passaram a matar a fome mais longe – como na Marina da Glória graças às varandas abertas – mas também em qualquer canto da Zona Sul, já que bom mesmo é fazer reunião perto de casa. 

 

De outro lado, restaurantes com boa qualidade no Centro ganham um público mais abrangente e até turístico. É o caso do Lilia, que continua atendendo um forte almoço-executivo graças à proximidade com a Petrobrás e Prefeitura, mas também recebe artistas, chefs, jornalistas e outros, que vão atrás da boa mesa, onde quer que ela esteja. 

 

Soube ainda que três escritórios de advocacia aproveitaram a queda dos aluguéis comerciais no Jardim Botânico e transferiram seus escritórios para aquele bairro, criando mais oportunidades para o setor de restaurantes. Roberta Sudbrack, por exemplo, percebeu a nova demanda executiva e pretende reabrir o almoço, que hoje só acontece aos domingos, em junho. Mais Sud para nós.

 

Quando trabalhava no Centro, aliás, o economista Manuel Thedim, também morador do Jardim Botânico, raramente saía do bairro para almoços a trabalho e ia, no máximo, até o Leme. Hoje, tem no quintal de casa opções variadas, mas diz que trata de negócios em qualquer bairro, distante ou próximo, em refeições mais longas. Para Thedim, a boa mesa (e os bons copos) inspiram projetos, ideias e futuro. 

 

A pandemia também esquentou as bleisure trips, viagens que unem business (negócios) e leisure (lazer), e agora o pouso temporário de executivos vindos de outros Estados pode se estender por até dois meses. 

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Antes, alguém que viesse para uma feira no Riocentro, por exemplo, era colocado em um hotel próximo do pavilhão, onde provavelmente faria suas refeições. Hoje, viagens contratadas pela empresa estão virando matéria morta. Cada vez mais, executivos fazem uso de aplicativos que gerenciam seus gastos e garantem um teto para despesas corporativas. Com a decisão descentralizada, cada um fica onde bem entende, inclusive hotéis de lazer em bairros mais distantes. O que importa é não furar o orçamento.

 

É o caso do paulista Gustavo Mansur, executivo da indústria de entretenimento digital Kuack Media, que há anos vem ao Rio, a trabalho. Gustavo acredita que cuidar diretamente das viagens e hospedagens é um trabalho novo para os executivos, mas um modelo muito mais feliz para ambas as partes. Cliente frequentador de bons restaurantes em qualquer lugar do mundo, costumava ficar perto do aeroporto, mas hoje prefere ficar na Zona Sul e catar as boas novidades para o estômago, desde que haja um co-working por perto. 

 

Paulo Lima, presidente da Universal Music do Brasil, também esticou o escritório para fora de casa. Depois de tanto tempo confinado, acredita que o tempo passado em torno da mesa de um restaurante é uma válvula de escape importante para ele e seus clientes: “bons negócios e ideias criativas só acontecem em ambientes idem”, diz Paulo. 

 

Eu só posso concordar. 

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