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Por Cristiana Beltrão, restauratrice e pesquisadora de gastronomia e alimentação
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A morte do dress code?

O choque entre as gerações de foodies

Por Cristiana Beltrão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
12 jun 2023, 23h35

 

Por Chichico Alkmin: Bar na Rua Direita,s/d, Diamantina, Minas Gerais, Acervo do IMS
Por Chichico Alkmin: Bar na Rua Direita,s/d, Diamantina, Minas Gerais, Acervo do IMS (Chichiko Alkmin/Instituto Moreira Salles)

Me parecia uma questão menor, mas é das perguntas que mais ouço: “Afinal, morreram as regras de vestuário para um restaurante importante?”.

Para começar a definição de “restaurante especial” vem mudando muito. Os incrivelmente cobiçados, com reservas impossíveis, têm ambientes cada vez mais informais e há muito ninguém precisa se emperequetar, meter um paletó ou encarar um salto alto para ir à maioria deles, incluindo Michelins ou 50Bests mundo afora.

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Os códigos mudaram.

Para mulheres, sabemos que sempre foi um rolo, mas puxe aí, no seu Google o termo “smart casual” para homens e veja que a coisa também complicou. A busca pode até trazer um paletó, mas talvez apareça um sujeito de tênis e camiseta, ou ainda com uma polo arrumadinha, quem sabe outro com a tradicional calça e sapato social, ou muito pelo contrário, uma foto de um jeans estiloso, um mocassim… Pois é, já foi bem mais fácil, para eles.

Homens da geração X (hoje com 44 anos ou mais) adoravam morar na definição de que um restaurante escolhido para aniversários, formaturas ou simplesmente mais caro, merecia camisa, calça e sapato social, ou ainda um paletó, se a casa assim exigisse. Há 20 anos (nem tanto tempo assim), e mesmo no Rio, uma cidade turística e de praia, essa era a regra.

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Podem esquecer.

Enquanto ELEGÂNCIA era a palavra de regra para a geração X e anteriores, o mundo de hoje quer ESTILO.

Elegância é um conceito mais atemporal, carrega uma ideia de requinte, harmonia, proporção. Estilo está mais relacionado a um viés artístico, de tendência, comportamento relativo a um grupo, a um movimento. E não, nada tem a ver com preço. Um tênis pode ser tão especial quanto um salto agulha e uma calça rasgada pode custar 3 vezes o preço de uma bolsa Gucci. Para mulheres “X”, por exemplo, o “little black dress”, coringa de ontem, hoje e sempre, sempre podia custar barato, mas salvava a noite desde que o corte fosse elegante. O estranhamento é mais que nunca, geracional.

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Donos de restaurantes e suas equipes, mundo afora, concordam que, ainda que os sites indiquem um vestuário, ninguém parece dar a mínima importância, a não ser que a casa faça o raro estilo de barrar pessoas na porta.

É claro que cada país ou região tem seus códigos não ditos, mas será que existe alguma regra geral de vestuário que sobreviva à mudança dos tempos?

Achei interessante conversar com garçons, maîtres e chefs de várias gerações em Singapura, um lugar para onde vai gente de todo o canto (europeus, asiáticos, americanos…), um país habituado à coexistência de culturas absolutamente distintas.

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Para eles, é possível mostrar personalidade ou identidade sem ofender ninguém. “A maior parte dos clientes não liga para cabelos de todas as cores e tamanhos, unhas compridas e pintadas, para homens ou mulheres, alturas de salto ou coisas assim”. Alguns clientes de mais idade estranham, mas acabam se habituando.

Depois de ouvir muita opinião, concluí que há apenas três questões que incomodam a todos:

A primeira é quando o estilo beira o desleixo: “Pessoas excessivamente informais parecem não valorizar o esforço que colocamos para fazer daquela refeição algo muito especial e acabam interferindo na experiência de outros clientes, que consideram aquele almoço ou jantar um momento importante.”. Houve unanimidade quanto a roupas amassadas, sapatos sujos, camisas sem manga, estampas com dizeres ofensivos ou chinelos, que dificilmente combinam com uma ocasião especial. E ainda que o ano todo seja aquele calor do cão, ninguém irá a um restaurante especial de bermuda.

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A segunda é ser tolerante quanto a questões culturais e religiosas: “Aqui há tanto muçulmanos, quanto católicos, budistas e hindus, portanto não se mostra pele demais. Decotes muito profundos ou vestidos muito curtos costumam causar desconforto, portanto é importante que os dois lados exerçam a tolerância. Também não custa evitar roupas muito apertadas, ultra-brilhosas ou sexy demais (tanto para homens quanto mulheres).

E a última, e mais fundamental: “Não adianta estar extremamente bem-vestido e tratar mal a equipe, falar alto ou fazer qualquer coisa que incomode outras mesas, inclusive ouvir audios com volume ligado ou filmar ou fotografar excessivamente as mesas vizinhas”. Vestir bom senso e educação também é fundamental.

Habitue-se! Quer ser elegante? Seja. Agora, se o sujeito da mesa ao lado tem um estilo totalmente diferente, mas entende que aquele momento é tão importante para ele como é para você, faça um brinde mental e celebre as diferenças num mundo cada vez mais plural.

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