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Carla Knoplech

Por Carla Knoplech, jornalista e especialista em conteúdo digital Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
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O que achei do Clubhouse após testá-lo por um mês

Nova rede social de áudio tem futuro promissor com salas de temas variados, criadores de conteúdo interessantes e conversas espontâneas

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Atualizado em 12 mar 2021, 16h30 - Publicado em 12 mar 2021, 12h24
Tudo sobre a nova rede social de áudios
Tudo sobre a nova rede social de áudios (Divulgação/Divulgação)
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Se tem um mercado onde avaliações são feitas precocemente é no meio do marketing digital. A vítima mais recente foi o aplicativo Clubhouse, uma espécie de chat de áudios ao vivo, que estourou no fim de janeiro internacionalmente quando o empresário Elon Musk, da Tesla, participou de um bate-papo público e no Brasil, no início de fevereiro, ao repercutir em bolhas de empresários, investidores financeiros, influenciadores digitais e celebridades de grande alcance nacional. Ele ganhou milhares de reviews de pessoas que o exaltavam ou execravam em comparações infinitas com outras redes de sucesso como Instagram, Twitter e Spotify. Como eu sou do clube de observar primeiro e falar depois, resolvi escrever a coluna de hoje apresentando a evolução do app ao longo desse mês após explorá-lo bastante e zapear por salas que iam desde análises do reality show Big Brother Brasil a sabatinas com pré-candidatos à presidência da república. Vamos lá.

Antes de tudo vale entender um pouco dos números que acompanham o Clubhouse. Se em dezembro de 2020 ele só tinha cerca de 600 mil usuários registrados, estimativas atuais apontam para mais de 8 milhões de downloads até a segunda quinzena de fevereiro. Foi uma ascensão meteórica. Da noite para o dia, no Brasil, milhares de pessoas baixaram o app a partir de convites enviados entre si onde criaram salas virtuais para discutir os temas mais variados possíveis. Empreendedores com agendas disputadíssimas passaram a “morar” no app e emendavam conversas com pares ainda mais exclusivos, tudo isso diante de uma plateia ávida pelo ineditismo e proximidade que os encontros causavam. Parte do sucesso explica-se pela facilidade em acessá-lo, adentrar em uma sala do seu interesse e participar da conversa. Dinâmica essa que requer apenas alguns segundos.

Isso sem contar no fato de que em um universo excessivamente imagético e editado, onde fotos e vídeos inundam as timelines dos usuários, um aplicativo que funcione apenas através do áudio e com transmissão ao vivo, sem edições, é um banho de espontaneidade em uma sociedade que está exausta de tanta performance. Não que não haja as ditas “palestrinhas” no Clubhouse ou pessoas que falam demasiadamente em uma egotrip infinita. Mas não ter que se arrumar e poder participar de uma sala enquanto executa outras atividades é um dos fatores de sucesso de tanta adesão. Um ponto a mais para o promissor mercado de conteúdo através do áudio que não para de crescer com podcasts, audiobooks e audioposts.

Em tempos onde a economia da atenção é quem manda e engajamento é ouro, ter usuários retidos por horas dentro de um aplicativo é demonstração de um futuro promissor para o Clubhouse. O negócio criado pelo engenheiro industrial Paul Davidson, do Vale do Silício, e pelo cientista da computação Rohan Seth, ex-funcionário Google, vem testando o seu modelo em fase beta disponível por enquanto apenas para o sistema iOS. Devido ao sucesso, a previsão é que já em abril desse ano o mesmo seja disponibilizado para Android, o que permitirá a entrada em massa de novos usuários. O formato elitista é justificável quando compreende-se como no universo de desenvolvimento de aplicativos é mais fácil é barato criar primeiro um modelo que performe em um tipo único de celular (caso do iPhone) para depois expandi-lo para todos os telefones compatíveis com o Android.

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Outro aspecto interessante é pensar na efemeridade do conteúdo criado ali. Por enquanto, no Clubhouse, nada que é falado fica disponível para ser reproduzido depois que é ouvido em tempo real, ou seja, não há rastro digital aparente (apesar de que a questão do armazenamento de dados e o sigilo da plataforma ainda não estão totalmente claros). No contexto atual da internet onde há que se calcular cada palavra escrita e imagem postada, há uma despressurização no uso do aplicativo, o que deixa as conversas mais fluídas e menos controladas. Ponto para a espontaneidade gerada nas salas.

Passado o frisson do primeiro mês de uso onde a curva de downloads freou o seu ritmo e só permaneceu na plataforma quem de fato encontrou sentido na proposta, a meu ver, o Clubhouse demonstra um enorme potencial por aqui. A experiência de usuário e a usabilidade do mesmo são interessantes, é possível acompanhar salas apenas como espectador absorvendo uma enorme riqueza de conteúdo, não há nenhum tipo de “climão” ao deixar uma sala e os temas dos encontros propostos são muito variados. Há clubes de escritores, encontros para ler os jornais coletivamente, painéis sobre ciência e até mesmo salas de paquera. Acredito que ele, literalmente, ainda vá dar o que falar.

Carla Knoplech é jornalista, fundadora da agência Forrest, de conteúdo e influência digital, consultora e professora

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