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Carla Knoplech

Por Carla Knoplech, jornalista e especialista em conteúdo digital Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Harari provoca reflexão arrebatadora sobre Inteligência Artificial no RJ

Escritor israelense best seller mundial e o apresentador Luciano Huck debatem sobre temas fundamentais e contemporâneos

Por Carla Knoplech
Atualizado em 8 nov 2025, 12h07 - Publicado em 8 nov 2025, 11h49
Yuval Noah Harari
Escritor best seller mundial e o apresentador Luciano Huck debatem sobre temas fundamentais contemporâneos no Rio de Janeiro  (Divulgação/Divulgação)
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Eu poderia escolher muitas formas de abrir o texto que vai tentar resumir as principais ideias trazidas pelo escritor e professor israelense Yuval Noah Harari na bela estreia do evento Fronteiras do Pensamento, na noite da última terça-feira (4), no Rio de Janeiro. Mas vou aproveitar que estamos às vésperas do início da COP30 no Brasil, principal conferência mundial sobre mudanças climáticas, para linkar com o tema sustentabilidade e citá-lo de maneira literal quando provocado sobre o impacto do gasto de recursos naturais para que haja Inteligência Artificial funcionando a pleno vapor. “Se a I.A. sair do controle e causar um colapso na civilização, não teremos que nos preocupar com a mudança climática dos próximos 30 anos. Temos que nos atentar sobre a corrida da I.A. dos próximos cinco anos e que pode vir a destruir ou salvar o mundo”, bradou Harari. Essa análise contundente, mas ao mesmo tempo didática é a síntese da genialidade que alçou o autor de “Sapiens: Uma breve história da humanidade”, “Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã” e “21 Lições para o Século 21” ao estrelato mundial como um escritor tão potente que virou uma espécie de guru de nações e líderes mundiais.

Harari foi entrevistado pelo apresentador Luciano Huck frente a cerca de três mil pessoas, no Qualistage, na Barra da Tijuca, em uma troca que passeou por diversos temas, mas desenvolveu principalmente a sua visão contemporânea sobre o impacto da I.A. na sociedade. Ele fez críticas contundentes a aspectos dessa tecnologia ao mesmo tempo que mostrou-se absolutamente fascinado pela capacidade deste recurso. Entretanto, um ponto em comum uniu a plateia e os debatedores: não há como menosprezar a revolução que estamos vivendo. Vamos aos tópicos principais da conversa.

A I.A. como linguagem

Harari acredita que o livro atual que ele está escrevendo muito provavelmente será o seu último livro. Há quem pense que esta frase faça referência a zona de conforto do best seller mundial, mas não. O escritor acredita que a I.A. muito em breve irá dominar tudo que possa ser reduzido a palavras ou símbolos, portanto, tarefas braçais como o esforço hercúleo de escrever um livro, segundo ele, já não serão mais necessários (o que não significa que as pessoas não possam fazê-lo). “O que realmente significa pensar?”, ele introduz. “O pensamento é colocar as palavras em ordem. A essência do pensamento mostra que existe uma experiência e um sentimento por trás do pensamento. A I.A. coloca o pensamento através de palavras. Então tudo que pode ser reduzido a palavras ou símbolos será dominado, não importa se é da área de Engenharia ou de História”, conclui Harari. A reflexão pode ser desanimadora para uma série de segmentos verbais, mas também delimita o alcance atual do que esta tecnologia pode fazer enquanto a I.A. constrói pensamento “apenas” através de palavras, mas não tem sentimentos ou consciência própria.

Experiências insubstituíveis (por enquanto)

Falando em sentimentos, Harari é fulminante ao explicar como a Inteligência Artificial é potente, mas não substitui a experiência humana. Fã de assistir futebol na TV, o escritor convida a plateia a continuar assistindo ao esporte dessa forma por dois motivos: primeiro porque é terapêutico (você precisa esperar os 90 minutos para ver o resultado alcançado), segundo porque mesmo que a I.A. resuma a partida, ela jamais conseguirá transmitir todas as sensações vivenciadas ao longo daquela uma hora e meia de jogo.  “Se o jogo só tiver dois gols e você pedir para a I.A. resumi-lo, ela vai te dar os 30 segundos dos dois gols, mas isso não resumirá a experiência de vê-lo. Sustentar o processo é o que fará parte”, conclui Harari sobre a nossa diferenciação enquanto humanos.

Autodeterminação das I.A´s

Huck pergunta a Harari como ele enxerga uma máquina de fazer café daqui a dez anos. O escritor explica que uma cafeteira não é uma I.A., ela é uma máquina automática, que é um conceito completamente diferente de uma I.A., já que precisamos apertar o botão para que ela nos obedeça e, ainda mais importante, a cafeteira só executa passos previamente programados. “A cafeteira só seria uma I.A. se ela presumisse questões do seu comportamento ao analisá-lo como um todo e então criasse um café com base no que ela achasse que você precisa agora”, exemplifica. O que mudará nessa relação café-máquina-humano é que a I.A. não vai mais esperar os nossos comandos para funcionar. E antes que haja pânico generalizado sobre isso, Harari convoca a entender o poder transformador dessa tecnologia e como está nas nossas mãos a forma de usá-la. “Uma faca pode cortar uma salada, ser usada por um médico para operar uma pessoa ou ser usada por um assassino”. É o uso que damos para uma ferramenta que configura a mesma, mas nesse caso, a I.A. é uma faca que vai decidir por ela mesma o que fazer. Esse é o pulo do gato.

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Regulamentação

Confesso que fiquei aliviada quando ele opinou sobre a regulamentação das I.A.´s sendo a favor da mesma. Esse assunto a meu ver é fundamental para um uso “saudável” dessa tecnologia, ainda que haja um desafio imenso em estabelecer esses limites na prática. Harari é a favor de uma regulamentação, mas elevou a conversa a outro patamar com uma pensata que só quem tem uma visão sistêmica brilhante como a dele pode trazer. “Uma questão que todo país vai enfrentar nos próximos cinco anos é decidir se irá absorver I.A.´s como pessoas legais ou não. Um país permitirá, por exemplo, que uma I.A. abra uma conta bancária? E por conta da sua eficiência em analisar cenários econômicos e de investimentos essa I.A., se tiver acesso a fazer investimentos pode se tornar a pessoa mais rica desse país. E talvez sendo a pessoa mais rica desse país isso significa que ela possa, por exemplo, apoiar campanhas de políticos que tenham discursos e medidas a favor da I.A., certo?”, coloca Harari de maneira estarrecedora para a plateia. Depois dessa frase dele eu confesso que percebi a miopia que temos acerca desse assunto e como o impacto de uma Inteligência Artificial pode ser em aspectos absolutamente impensáveis e sobre os quais nos chocaremos nos próximos anos.

Ciclos orgânicos

O exemplo anterior traz um segundo ponto de vista interessante que eu queria destacar e sobre o qual Harari explicou, novamente, de maneira didática e genial. A grande diferença entre um excelente trader de mercado de investimentos, ainda que este possua a seu dispor as melhores ferramentas de análise de mercado em mãos, e uma I.A., é que a Inteligência Artificial é invencível porque ela nunca pára. “O que é comum em todas as vidas orgânicas? O que eu, um dinossauro e uma banana temos em comum? Nós vivemos em ciclos. Vidas não-orgânicas como as I.A’.s não trabalham em ciclos, para elas não têm dia e noite, elas não precisam descansar”, e é esse pequeno detalhe, com muita ironia, que faz toda a diferença, em sociedades onde essa tecnologia chega de maneira avassaladora.

Um bunker pra chamar de seu

Eu poderia destacar ainda dezenas de provocações impactante do encontro, mas este publicador tem limite de espaço, e acredito que um dos trunfos de ser jornalista é trabalhar o nosso poder de síntese, por isso, vou fechar a coluna com a reflexão final da noite e que achei muito simbólica. Huck provoca Harari sobre os bunkers que bilionários mundo afora estão construindo para se protegerem de um possível cenário de crise global de diferentes naturezas: saúde, guerras, desastres climáticos ou outros. O escritor devolve de forma improvável. “Acho que o melhor lugar para se construir um bunker é na sua mente. Por isso pratico a meditação há tanto tempo. A regulação da I.A é mais um desafio que teremos a frente, entre os muitos choques que virão. Não sabemos exatamente o que acontecerá, mas sabemos que as pessoas vão precisar de uma mente forte e você não pode ter um agente de I.A. para criar uma mente forte para você. O lance da meditação é separar o que é real do que não é. Nossa mente é um fator de criação de fantasias e conexões. E meditação é sobre deixar fluir todas as histórias, ficções e desenvolver a habilidade de entender o que está acontecendo agora. Quando fiz meu primeiro curso de meditação há 25 anos eu achei que seria fácil, mas percebi que era muito difícil. Se você pegar uma pessoa da plateia e dizer que vai dar um milhão de reais para ela por ficar uma hora parada ela pode tentar, se for pra mente ficar parada por dez minutos, um minuto que seja, ela não vai conseguir. E se eu não consigo observar a minha respiração, como eu vou resolver problemas complexos?”, diz Harari.

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Em um cenário extremamente digital e tecnológico, o convite à meditação era o desfecho possível que precisávamos, não é mesmo?

Carla Knoplech é diretora da agência Forrest, de conteúdo e influência digital, jornalista e professora.

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