Subprefeito de 24 anos coordena região com 800 mil habitantes
Flávio Valle, gestor da Zona Sul, se declara fã do Prefeito, revela que tem vergonha de políticos corruptos e busca fazer carreira pública nos próximos anos
Ele é tricolor, morador de Botafogo, apaixonado por churrasco, com carne mal passada e não tem uma escola de samba definida – torce por Portela, Viradouro e Mangueira. Formado pela Escola Brasileira de Economia e Finanças da FGV e um dos gestores mais novos da Prefeitura do Rio, o caçulinha Flávio Valle, de apenas 24 anos, é o subprefeito da Zona Sul, região da cidade com 800 mil habitantes. Recentemente, o jovem político foi notícia com a fiscalização de caixas de som, com decibéis acima do permitido, que é considerado por ele como um dos principais problemas. “O ordenamento e a conservação da cidade estão sendo os principais desafios”.
1 – Como entrou na política?
Flávio Valle (FV) – Sempre gostei da representatividade e na escola comecei dando os primeiros passos; como representante de turma, candidato ao grêmio estudantil, organização de festivais e reivindicações. Fui presidente do Centro Acadêmico na faculdade e líder do grupo jovem da comunidade judaica (representante do movimento judaico na América Latina). Mas quem me aproximou de fato da política foi o Eduardo, acompanhei seus mandatos como prefeito e admirava a forma como conduzia o Rio. Me espelhava nele. Um dia, numa conversa sobre política num bar, alguém disse que o Eduardo respondia as mensagens nas redes sociais; na época ele estava sem mandato, estudando e trabalhando para uma empresa de carros elétricos. Não tive dúvidas, mandei um direct dizendo que estava interessado em comprar um carro e ele me retornou. Marcamos, mas ele não apareceu e logicamente não comprei carro nenhum. Mas a partir daí começamos a trocar mensagens, me envolvi na campanha que o elegeu para seu terceiro mandato e recebi o convite para fazer parte do time. De lá pra cá, estamos caminhando juntos e com o apoio dele, vou me desenvolvendo politicamente. Hoje, não me vejo fazendo outra coisa, o desafio de cuidar diariamente do Rio me inquieta e motiva a fazer cada vez mais e melhor; quero poder continuar cuidado da cidade e principalmente das pessoas. A atividade política tem disso, cuidar do próximo e impactar positivamente a vida de alguém. Esse é o meu combustível, não quero mais parar!
2- Tem uma escola de samba?
FV -Impossível declarar amor apenas a uma escola: sou Viradouro em homenagem a parte da minha família que é de Niterói. Sou Mangueira por causa de uma ex-namorada mangueirense, que me apresentou o Carnaval na Avenida e também torço para a Portela, porque sou Eduardo Paes!!
3- Assistimos diariamente casos de corrupção na política, gestores enriquecendo em meio à gestão. Você faz parte de um núcleo novo desse setor. O que acha que deveria mudar?
FV -Infelizmente, no Brasil criou-se uma má impressão da classe política devido a alguns maus exemplos que muito nos envergonha, mas da mesma forma que existem esses maus exemplos, temos também excelentes referências na política quando o assunto é integridade. Sempre me interessei por política e ver um movimento de renovação no poder público me deixa cada vez mais inspirado a fazer parte desse movimento.
4- Como é sua relação com o Prefeito? Se falam com que frequência?
FV – O Prefeito Eduardo Paes é o exemplo que busco seguir, é meu mentor e meu amigo, muitos me chamam de Prefeitinho, porque o próprio Eduardo me acha muito parecido com ele quando iniciou na vida pública. Nos falamos com frequência, afinal, sou o gestor de uma das regiões importantes da cidade, estamos sempre dialogando para atender as demandas dos bairros e da população, sempre em busca das melhores soluções e entregas.
5 – Quais têm sido os maiores desafios?
FV – Tudo é desafiador, manter em ordem uma cidade como o Rio de Janeiro não é simples, ainda mais depois de uma gestão desastrosa (Crivella) e de uma pandemia que mexeu com toda a rotina da cidade e das pessoas. Mas um dos maiores desafios tem sido o ordenamento dos bairros. Tenho trabalhado muito junto com a Secretaria de Ordem Pública, coordenada pelo secretário Brenno Carnevalle, para mitigar os problemas. A conservação da cidade como um todo é outra demanda importante que estamos avançando por meio a revitalização das áreas de lazer, do programa asfalto liso, da implantação das lâmpadas de Led (Programa Luz Maravilha) por todo o Rio. Também lançamos na subprefeitura da zona sul o programa Corredores de Excelência, que em um único dia realiza mais de 20 serviços em um logradouro da Zona Sul.
6 – Como é a sua rotina? Trabalha quantas horas por semana?
FV – Tento ser uma máquina de trabalho, igual ao prefeito! Aqui na subprefeitura não tenho horário para pegar no expediente nem para sair. Isso, inclusive, me motivou a comprar uma cama retrátil para minha sala de trabalho no início da gestão, que é usada semanalmente. Tenho agendas muito cedo e outras que terminam bem tarde. Finais de semana, fico ligado 24h. São sete dias por semana, sem hora para começar. Ontem, por exemplo, estava passando na Lagoa – a princípio sem estar trabalhando – e vi uma árvore que tinha acabado de cair na ciclovia.
Imediatamente parei, coloquei meu colete, puxei cones e acionei as equipes da guarda municipal e Comlurb para resolverem o problema. Acabamos criando um olhar crítico quando andamos nas ruas, independentemente de estar em horário de trabalho, ou não. Não consigo mais andar na rua a passeio sem reportar algum buraco ou uma poda para os órgãos, mesmo nos fins de semana.
7 – Qual foi a ação marcante nesse seu período de gestão?
Tudo é marcante quando lidamos com a vida das pessoas, e é isso que o gestor de uma cidade como o Rio faz todos os dias, todas as nossas ações são impactantes! Mas tem uma que destaco: Em junho do ano passado, recebemos uma denúncia de ocupação irregular na encosta do Vidigal, numa área íngreme e perigosa; quando chegamos ao local nos deparamos com uma família, pai com três filhos pequenos que moravam no barraco. Naquela área já havia tido deslizamentos sérios, pessoas tinham morrido e por mais difícil que fosse, foi necessário tirar a família da casa e executar a remoção da construção irregular. Foi um dia difícil. Se por um lado estava fazendo aquilo para proteger a vida de todos eles, por outro eles viam como seu eu estivesse destruindo a casa deles. Hoje, eu tenho a convicção que fizemos a coisa certa. Acompanho esta família desde então. Eles passaram a residir em um abrigo familiar da prefeitura. Passaram a receber o aluguel social, as três crianças estão matriculadas em escolas, já voltaram a morar no Vidigal, em uma casa digna e com a nossa ajuda; o pai está trabalhando com carteira assinada e feliz. Só por esse desfecho, posso dizer que cada momento valeu a pena e que quero e preciso fazer muito mais.