Carnavalescos relembram episódio inusitado no aniversário da Vila Isabel
Gabriel Haddad e Leonardo Bora trazem à tona uma aventura: quando recriaram uma fantasia de Rosa Magalhães para desfilar “na surdina” nas Campeãs de 2013

No dia em que a Unidos de Vila Isabel completou 79 anos – foi no dia 04 de abril -, os carnavalescos recém-chegados à escola, Gabriel Haddad e Leonardo Bora, compartilharam uma lembrança especial — e inusitada — que os conecta à agremiação muito antes do anúncio oficial de suas contratações.
Tudo aconteceu no Carnaval de 2013, quando a azul e branco do bairro de Noel conquistou o título com o enredo “A Vila canta o Brasil Celeiro do Mundo – Água no Feijão que Chegou Mais Um…”, carinhosamente apelidado de “Festa no Arraiá”.
“Eu queria muito desfilar na Vila naquele ano. O pré-carnaval foi incrível: ensaios lotados, o samba na boca do povo, a escola ainda empolgada com o desfile de Angola no ano anterior. A carnavalesca era a professora Rosa Magalhães, minha maior referência. Morava na Tijuca, pertinho, e queria participar de tudo. Mas me enrolei com o tempo, perdi o prazo da inscrição e acabei ficando de fora. Assisti ao desfile da arquibancada do Setor 10, à época era o setor 4 – com o Gabriel e alguns amigos. Quando o último carro passou, eu virei e disse: ‘A Vila vai ser campeã!’”, lembra Leonardo Bora.
Dito e feito: a escola foi campeã. E foi ali, logo após o desfile, que surgiu a ideia inusitada com o tempero de verdadeiros apaixonados por escola de samba.
“Na saída da Sapucaí, perto da entrada do metrô da Praça XI, vi um pedaço de fantasia encostado numa árvore. Era uma estrutura circular de ferro com folhas verdes feitas de macarrão de piscina, e uma nuvem de acetato no topo. Faltava a cabeça, a malha e os sapatos. Mas eu não pensei duas vezes: peguei o que restava e falei pro Gabriel: ‘Vou levar isso pra casa, reformar o que falta e desfilar nas Campeãs’. Todo mundo riu, mas eu levei a sério. Na quarta-feira a Vila foi oficialmente campeã, e eu passei quinta e sexta reconstruindo a fantasia”, conta Bora.
A “restauração” aconteceu na casa de Haddad. Juntos, os dois mergulharam nos vídeos do desfile para refazer, nos mínimos detalhes, a fantasia assinada por Rosa Magalhães. “Desde o início achei que ia dar errado. Era uma fantasia muito específica. Mas o Leo foi no Saara, conseguiu tudo o que precisava e, quando voltou animado, comecei a embarcar também. Ficamos cortando macarrão de piscina, montando o chapéu igual ao do desfile. Eu nunca tinha ouvido falar de alguém que reproduziu uma fantasia de outra escola só pra conseguir desfilar. Era ousado. Eu incentivei, mas confesso que tinha medo dele ser barrado”, lembra Gabriel.
No sábado, com tudo pronto, veio o teste final. “Cheguei na concentração morrendo de medo de alguém perceber. Mas o chapéu novo ficou idêntico aos da ala. Ninguém notou nada. Fiz a maquiagem com os demais componentes e ainda encontrei o Vinícius Natal (hoje pesquisador da escola), que estava na bateria. Desfilei como se fosse da ala desde sempre. Foi um dos melhores desfiles da minha vida. Realizei dois sonhos: usar uma fantasia da Rosa e cantar um samba de Martinho, Arlindo Cruz, André Diniz e outros craques, na Vila. Inesquecível!”, emociona-se o carnavalesco.
Agora, mais de dez anos depois, Haddad e Bora voltam à Vila Isabel em uma nova condição: como carnavalescos oficiais da agremiação. A dupla já trabalha no desenvolvimento do enredo para o Carnaval de 2026. Por enquanto, mantêm o mistério: “Estamos mergulhados na pesquisa. Em breve, o Povo do Samba terá novidades”, finaliza Haddad.