Meus queridos lobos, desde criança vocês estão no meu imaginário como símbolo de força, mistério, perigo e independência. Com seus hábitos noturnos, sua beleza e com tantas histórias em que fazem sempre o papel do vilão: “Pedro e o Lobo”, “Os três Porquinhos” e minha estreia no teatro, aos oito anos na Aliança Francesa, “le petit chaperon rouge”,isto é, “chapeuzinho vermelho”, onde perdi o papel de lobo para um garoto e tive que me contentar com a menina que leva doces na cestinha para sua vovó. La grand-mère. Tenho fotos para provar! Meu francês não teve grandes progressos desde então, mas minha paixão por esses selvagens só aumenta.
Para quem ainda não sabe o seu nome tem vários significados, entre eles “animal dourado, vermelho”. E eis que fazem uma cédula de dinheiro em sua homenagem com as cores mais sem graça! Um desenho banal com você olhando para um matinho bem esquisito. O tamanho da nota igual a outra de menor valor, para dar bastante confusão. Fico me perguntando pra quem servem essas notas de 200 reais. Só se fala em facilitar as malas de corruptos, mas acredito que no meio de muita burocracia e incompetência venha junto uma boa intenção: A preservação da espécie. E para isso precisamos de informação! Vocês não são nem maus nem perigosos. Não atacam pessoas se não forem encurralados. Ou se alguém for idiota o bastante de se esconder ao lado de um galinheiro e cacarejar com a mão de fora como um títere até atrair o pobre predador faminto e curioso. Mas mesmo assim não é grave, a mordida deles é como a de um cachorro pequeno. Eu posso garantir…Se estiver com a antirrábica em dia nada de mal acontecerá ao bichinho.
O lobo-guará é um animal onívoro, pois consome uma grande variedade de animais e frutos. Se alimenta de pequenos mamíferos, como gambás e roedores, além de aves, lagartos, cobras e insetos, e principalmente gosta de uma frutinha cuja árvore recebeu o nome de lobeira. Após comer a fruta-do-lobo ele ajuda a espalhar suas sementes, pois as elimina através de suas fezes. É linda a lobeira! Com suas folhas aveludadas e foscas, flores roxas com pistilos amarelos e seus frutos que parecem maçãs ou marmelos bem lisos e verdes. Muito ruins se comidos ainda não maduros. Um amigo me ensinou como tirar a casca para não amargar a polpa. Uma delícia. E tem cheiro de tutti-frutti.
O Guará já foi também homenageado em obras de arte, como na grande escultura feita pelo português Bordalo ll, que fica na esplanada da Cidade das Artes. Presente do “Festival Portugal 360” para a cidade do Rio de Janeiro. O artista queria retratar um animal em risco de extinção. Alguns acham que é uma raposa gigante. Ou um ratão colorido. Amo.
Mas o que mais me apaixona nesses animais é sua inteligência instintiva e sua capacidade de adaptação. Por isso sigo me comovendo com a perfeição da diversidade, de como a natureza em eterna transformação cria as mais diversas possibilidades de seres que interagem no fluxo da vida. Nada está pronto. Tudo é uma aventura da criação. Isso é o divino. E contraditório com a crença de que somos um projeto. Por isso Charles Darwin adiou tanto a publicação de sua obra “A Origem das Espécies”, e escreveu em 1856: “Que livro um capelão do Diabo poderia escrever sobre os desajeitados, dispendiosos, enganosos, baixos e horrivelmente cruéis trabalhos da natureza!
Para quem quer se encher com a beleza indestrutível da vida veja o documentário “Professor Polvo”, na Netflix, uma história de amor. Eu chorei.