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Beco do Becoza

Por Juarez Becoza, repórter de gastronomia popular e caçador de botequins Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Lá na Rosi: um achado para quando a pandemia passar. Ou antes

Ex-dona de um dos bares mais badalados da Ilha do Governador vem transformando seu pequeno quiosque de pescador numa pérola cada dia mais lapidada

Por Juarez Becoza
Atualizado em 9 mar 2021, 11h28 - Publicado em 8 mar 2021, 17h48
Lá na Rosi: quiosque discreto e delicioso na Ilha
Rosiana Coelho, do Lá na Rosi: quiosque discreto e delicioso na Ilha do Governador (Juarez Becoza/Arquivo pessoal)
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Caro leitor:

Não tem sido fácil escrever sobre botequim nos últimos tempos. Não da forma que eu gosto, que é de registrar o ambiente, recontar a história, valorizar trabalho da equipe e, sobretudo, estimular que você visite e aproveite o lugar também.

Porém, mais difícil ainda – incomensuravelmente mais difícil – tem sido a vida desses empreendedores, cada vez mais limitados no seu trabalho pelas restrições naturais de horário e público impostas pela luta coletiva contra a propagação do vírus.

Nesse drama, há quem sofra ainda mais que os donos de bar. Os donos de quiosques, por exemplo, que essa semana estão inteiramente interditados e assim ficarão até o dia 13, pelo menos. E mais ainda que os donos de bares e quiosques: seus funcionários. Nos locais responsáveis – que respeitam as restrições oficiais, a despeito de concordar com elas ou não – reduziram-se as mesas, restringiram-se os horários, rarearam os clientes, evaporam-se as gorgetas. Quem não já perdeu o emprego sofre com a redução abissal da renda, a dificuldade de deslocamento casa-trabalho-casa e a pressão psicológica das patrulhas – oficiais e ideológicas. Tudo muito difícil, amigo.

Mas os bares resistem, do jeito que dá. Essa semana queria indicar um quiosque que, mesmo fechado essa semana, merece demais uma visita, assim que possível. O Lá na Rosi, debruçado sobre o mangue da colônia de pesca Z10, na Ilha do Governador, é uma pérola de gastronomia popular com toques de sofisticação, atendimento responsável e solidariedade.

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Rosi e seu hot dog de polvo: coisa de louco no quiosque da beira do mangue
Rosi e seu hot dog de polvo: coisa de louco no quiosque na beira do mangue (Juarez Becoza/Arquivo pessoal)

Comecemos pela história. A carioca, quase portuguesa, quase francesa e 100% insulana Rosiana Coelho, ou simplesmente Rosi, foi por muitos anos a cara de um dos bares mais populares da Ilha: o Pontapé Beach, na Praia da Ribeira. Casa enorme, sempre lotada, com shows ao vivo todos os finais de semana e uma cozinha fantástica de petiscos, todos da sua lavra. Mas a vida agitada cansou a cozinheira, que também era sócia, gerente e relações-públicas do lugar. Rosi cansou e deixou o Pontapé em 2017, em busca de uma vida mais tranquila.

Depois de um tempo viajando, pesquisando receitas e conversando com as centenas de amigos do mundo da gastronomia popular que arregimentou em décadas de trabalho, Rosi estava comprando siri na peixaria da colônia de pesca do Zumbi, a Z10, quando soube de um pequeno quiosque disponível para alugar. E foi ali, num espaço de meros dez metros quadrados, com algumas mesinhas na beira da água, que a cozinheira abriu em 2018 o seu bar Lá na Rosi.

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Desde então, o quiosque recebe poucos e bons para jantar às sextas-feiras e indulgências gastronômicas vespertinas nos finais de semana – tudo num ambiente que remete aos tempos em que a Ilha era o local de veraneio dos cariocas. Frutos do mar, lógico, são a especialidade. O tal “hot-dog de polvo”, invenção da dona, faz do tentáculo octópode uma “linguiça” que, todos sabemos, é muito melhor que uma linguiça. Tudo com um molho cheio de segredos encharcando o pão francês fresquinho. Simples e delicioso, com um imenso toque de sofisticação. Para abrir os trabalhos, caldinhos fumegantes variados – outro carro chefe da casa – e o famoso bolinho de arroz de siri catado da Rosi: acompanhamentos perfeitos pra cerveja gelada sobre a brisa do mangue.

O localização do quiosque remonta os tempos em que a Ilha era um paraíso de veraneio
O localização do quiosque remete aos tempos em que a Ilha era um paraíso de veraneio (Juarez Becoza/Arquivo pessoal)

Apesar do ambiente marítimo à toda prova, o Lá na Rosi ainda acha espaço pra preparar uma bela rabada com agrião e um excelente filé aperitivo com gorgonzola. Na carta de bebidas, cachaças de primeira também agregam o seu valor. Nada disso, porém, tem sido apreciado por muita gente. Além do tamanho reduzido do espaço, a pandemia e a própria localização do quiosque, num canto pouco badalado da orla entre a Ribeira e o bairro do Zumbi, contribuem para um movimento que tem sido discreto nos últimos meses, mas que merece aumentar, assim que for possível circular livremente de novo pelo Rio mais profundo.

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O que me traz de volta ao que dizia no começo deste post: a dura vida dos funcionários… Pensando nisso, Rosi teve uma ideia digna de nota. Mesmo sofrendo também com as dificuldades da pandemia, a cozinheira reservou as quintas-feiras para reverter integralmente aos funcionários o faturamento que arrecada com a venda dos seus caldinhos. É o projeto “Sou + Minha Equipe”, uma singela contribuição da cozinheira com quem de fato, está mais sofrendo com essa crise imensa que vivemos.

Fica então, caro leitor, a dica empolgada: assim que puder e se sentir à vontade, visite o quiosque Lá na Rosi. A gastronomia popular – e principalmente o seu estômagoa – agradecerão.

Quiosque Lá na Rosi
Praia do Jequiá, 04
Zumbi, Ilha do Governador
(21) 98939-3984
Sextas-feiras, dsa 19h às 23h
Sáb. e dom., de meio-dia às 16h
(Horários restritos por causa da pandemia)

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