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Um passeio por Cascadura (parte II): viaduto e a Rua Luiz Delfino

Parte final da expedição fotográfica por Cascadura, no subúrbio do Rio Do alto do viaduto. Panorama da Rua Nerval de Gouveia, que margeia a linha férrea e a estação de Cascadura. por Pedro Paulo Bastos Depois de termos percorrido as dependências do Hospital Nossa Senhora das Dores com o irmão João Pedro, rumamos em direção ao […]

Por Pedro Paulo Bastos
Atualizado em 25 fev 2017, 18h56 - Publicado em 10 out 2013, 03h10
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  • Parte final da expedição fotográfica por Cascadura, no subúrbio do Rio


    Do alto do viaduto. Panorama da Rua Nerval de Gouveia, que margeia a linha férrea e a estação de Cascadura.

    por Pedro Paulo Bastos

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    Depois de termos percorrido as dependências do Hospital Nossa Senhora das Dores com o irmão João Pedro, rumamos em direção ao viaduto de Cascadura, localizado logo em frente à alameda de entrada do hospital. No declive, chamou a nossa atenção o terreno que fica ao lado da alameda, onde, aparentemente, funcionava um anfiteatro ou algo dessa espécie. O imóvel é amplo e acimentado e a portaria dele dá para a Avenida Ernani Cardoso. Até onde pudemos entender, mesmo não sendo um terreno propício para “garagens”, o espaço é utilizado como abrigo das vans que circulam entre Cascadura e a zona oeste.

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    Até aí tudo bem se não pararmos para refletir o seguinte: muito do que se aponta como fator de decadência do subúrbio pode ser esse movimento de desfuncionalização dos imóveis, que só preza os retornos financeiros. Ou seja, o que poderia ser um lugar mais bem tratado e menos degradado, na verdade, acaba sendo deixado às traças de propósito porque sua principal atividade – e nova funcionalidade – não exige nenhum tipo de tratamento estético ou o mínimo de “asseio”. O proprietário lucra, é bem verdade, mas e o espaço urbano? É uma relação delicada, polêmica e que se sobressai bastante na paisagem do subúrbio carioca, só que, muita das vezes, de maneira negativa.

    O viaduto de Cascadura é genuinamente um local para automóveis, embora o fluxo de pedestres por lá seja algo a ser levado em consideração. Se por um lado isso dificulta o nosso ir-e-vir diante da estreita faixa destinada a nós, andarilhos, por outro, é de cima do viaduto onde podemos visualizar toda a organização do bairro, seus detalhes e paisagens. Um dos ângulos mais interessantes é a visão que se tem da Rua Nerval de Gouveia, a rua que beira a linha férrea e que descarrega o trânsito vindo de Quintino Bocaiúva e Piedade. Do alto, é possível observar as nuances de cada imóvel centenário, muitos detonados pela falta de conservação. A substituição das pinturas ao longo das décadas foi precária, o que resultou num jogo de sobreposições de letreiros e dizeres pintados à mão que resistem langorosamente.

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    Arborização. Os ipês cor-de-rosa rente ao viaduto de Cascadura e a mata do Morro do Dendê.

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    Arquitetura e comércio. Os imóveis centenários da Rua Nerval de Gouveia e suas sutilezas. A degradação toma conta não só das fachadas, mas das utilizações comerciais, também.

    A organização do bairro também é muito instigante, e vê-la do alto permite-nos tirar conclusões. Cascadura é uma zona de urbanização pura, tem um aspecto pra lá de cinzento. É difícil avistar algum corredor verde, a não ser a mata dos morros em volta. No entanto, vislumbra-se, em meio aos trilhos da Supervia, cerca de meia dúzia de espigões modernosos, como o Hospital Norte D’Or e alguns lançamentos imobiliários nos arredores da Ernani Cardoso e da Rua Cerqueira Daltro. Há quem diga que o bairro está “progredindo” por levantar edificações nesses moldes, como se qualidade de vida estivesse vinculada a esse modelo de verticalização. Mas isso é papo – e reflexão – para outro dia. O que vale mesmo é que, mesmo com tantos ângulos não muito inspiradores, logo ali estão os ipês cor-de-rosa. A altura deles se nivela ao do viaduto, margeando-o até o ponto onde esse conjunto de árvores termina. O rosa e o cinza, a natureza e o concreto, o céu e o chão: é possível, sim, ver poesia no improvável.

    O viaduto desemboca na Avenida Dom Hélder Câmara, a tradicional Avenida Suburbana, que, aliás, sempre vai ser conhecida como Avenida Suburbana. Não adianta! O mesmo vale para a Avenida Lúcio Costa, que sempre será a Sernambetiba. Acho que só a Avenida Ayrton Senna é que “pegou” mesmo – era a antiga Avenida Alvorada. Pois bem: diferentemente da Rua Nerval de Gouveia, o comércio na Suburbana e no entorno do Largo de Cascadura é mais próspero, tem mais vida. Apesar dos letreiros chamativos que escondem a beleza das casas também centenárias nesse lado do bairro, é uma área comercial que atende bem às necessidades domésticas e ao estômago dos famintos, vide a quantidade de pastelarias.

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    O outro lado do bairro. O comércio na Avenida Suburbana se alterna entre o antigo (e conservador) e o novo. Essa distinção é facilmente realizada através dos letreiros. Ao lado, lançamento imobiliário na Rua Cerqueira Daltro.

    Entramos na Rua Cerqueira Daltro após um pequeno lanche com os biscoitos wafer de limão do Tiago e com as goladas d’água da garrafinha que o Luciano comprou gentilmente para nós. É nessa rua, aliás, onde figura um dos exemplares de lançamentos imobiliários na região. Nas cores vermelha e bege, o térreo foi destinado a estabelecimentos comerciais, como na Rua Nelson Mandela, que eu ilustrei aqui no As Ruas do Rio há algumas semanas. A partir dali, recorremos, igualmente, as ruas Brasilina, Luiz Delfino e Florentina, três logradouros que representam bem como se dá o clima residencial das ruas internas de Cascadura.

    Logo na esquina da Luiz Delfino com a Rua Brasilina, dois tipos de religiosidade se confrontam, cada qual no seu lado da calçada: uma igreja evangélica e um centro espírita umbandista. Uma placa da prefeitura indica que o local é área de lazer aos domingos e feriados, ou seja, é proibido o tráfego de automóveis ali neste período. Se bem que, observando bem, talvez nem fosse preciso um decreto da prefeitura atestando o fechamento da rua nessas circunstâncias já que o panorama da Rua Luiz Delfino – acredito que nos seus dias úteis, inclusive – parece ser bastante pacato. É um traço reto que finda lá na Rua Florentina cujo percurso conta com vários redutores de velocidade, vulgo quebra-molas.

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    A Rua Luiz Delfino. Compreendida entre as ruas Brasilina e Florentina, a rua que leva o nome do romancista e poeta Luiz Delfino tem ambiência familiar e casas confortáveis.


    Entre a Luiz Delfino. À esquerda, a Rua Brasilina, e à direita, a Rua Florentina. Ambas são vias com razoável fluxo de trânsito.

    As calçadas, largas e bem cuidadas, foram remodeladas após a implementação do projeto Bairro Maravilha, que vem contemplando diversas ruas no subúrbio com obras de reurbanização. Assim, todo o passeio de pedestres da Rua Luiz Delfino foi padronizado, o que deveria acontecer em todas as ruas da cidade, sobretudo no Centro da cidade. Os poucos prédios não ultrapassam os três pavimentos e as casas são aquelas com muros baixos e referências católicas no topo da fachada. Diria que ali é o estereótipo do subúrbio genuíno: aquela ambiência familiar, as residências muito bem tratadas, o cheiro de comida traspassando os portões, o aviso publicitário de uma “explicadora” nas redondezas, que, em linguagem suburbana, significa “professora particular”. O hidrante vermelhinho e o cesto de lixo, aqueles moldados em ferro, retrôs, são elementos que complementam a paisagem.

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    O final do passeio foi o nosso regresso à Praça Nossa Senhora do Amparo com a certeza de que ainda há muito a ser explorado, não só em Cascadura, assim como em muitos outros bairros que pertencem a esse tecido urbano coeso, denso e cultural que é o norte do município. Valeu a pena!

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