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As Ruas do Rio

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Blog sobre as ruas do Rio de Janeiro

Rua Roquete Pinto

Zona sul não é só um mar de prédios em meio a um trânsito caótico. A Rua Roquete Pinto, na Urca, prova o contrário.

Por Pedro Paulo Bastos
Atualizado em 16 jan 2021, 17h08 - Publicado em 3 mar 2012, 05h34

Zona sul não é só um mar de prédios em meio a um trânsito caótico. A Rua Roquete Pinto, na Urca, prova o contrário.

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Nada muito vertical, sombra, árvores, e um vistaço para o Pão de Açúcar. Eis a Rua Roquete Pinto, na Urca, que exala um gostoso clima de interior.

por Pedro Paulo Bastos

Se Jô Penteado vivesse em 2012, a emblemática personagem de Christiane Torloni na novela “A gata comeu” (1985) não circularia mais pelas ruas da Urca, na zona sul. Provavelmente a TV Globo teria recriado o bairro como parte de sua cidade cenográfica no Projac, deixando os mais saudosistas, como eu, na mão. Afinal, as novelas atuais quase não são mais gravadas em áreas externas públicas, tornando as produções mais antigas em grandes fontes de pesquisa e de observação no que tange às modificações urbanas ao longo do tempo. (Dica: dê uma assistida na novela “Barriga de Aluguel”, transmitida pelo Canal Viva. Tem muita cena gravada em Copacabana, de onde se vê a pintura beeeem antiga dos ônibus, além de linhas que nem existem mais!)

A novela em questão é mais velha do que eu (nasci três anos depois), mas lembro-me de tê-la assistido na reprise há pouco tempo e achava um barato que a história fosse gravada na Urca, bairro que lhes trago hoje em fotos. Personagens que caminhavam pelas ruas, as crianças que se encontravam em uma das pracinhas, a cena final em que Jô e Fábio estão sentados na mureta… Todas essas cenas estão eternizadas, sendo impossível ir à Urca sem resgatar “A gata comeu”.

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Não faz mais do que um mês em que estive por lá de bicicleta. Pedalando é mais fácil de desbravar o bairro do que a pé, pois mais ruas são percorridas em menos tempo. No caso da Urca, que é uma pequena aldeia urbana, el recorrido é quase imediato. Num desses passeios despretensiosos, acabo por selecionar futuras ruas a serem retratadas por aqui. E geralmente as ruas menorzinhas e mais escondidas costumam ser mais interessantes. Na Urca, todos os logradouros são bem expostos, ligando sempre as extremidades. Não tem rua escondida ou menos importante na minha opinião. É tudo bonitinho, linear e calmo. É escolher uma, fotografar e escrever.

Escolhi a Rua Roquete Pinto, uma simpática via que começa na Avenida João Luis Alves, com uma das mais belas paisagens cariocas, terminando nos fundos do morro do Pão de Açúcar. Nem preciso dizer mais nada; a localização é uma das mais cobiçadas da cidade. O grande bônus é que ali, apesar da cobiça já comentada, o mercado imobiliário não tem como expandir-se. Muito difícil alguma casa ser desapropriada, bem como um edifício ser levantado.

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Duas esquinas: a primeira, com a Rua Almirante Gomes Pereira, onde pode-se ver uma bela residência em estilo suíço; a segunda, com a Avenida João Luis Alves, que tem uma vista já bastante autoexplicativa

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O verdadeiro estereótipo das ruas na zona sul do Rio é formado por um mar de prédios com um fluxo intenso de veículos para lá e para cá. Na Rua Roquete Pinto a tranquilidade é tanta que pode-se caminhar até mesmo pelo meio da via, de ponta a ponta. Isso facilita a vida (e a infância saudável) das crianças, que não precisam brincar trancafiadas em um play, como aconteceria no bairro vizinho, Botafogo. Na Urca, brinca-se na rua. Bicicletas são bem comuns, tenha o ciclista dez ou cinquenta anos.

É importante dizer que a Rua Roquete Pinto, apesar da beleza rústica, tem um aspecto meio decadente também, mas que não chega nem um pouco a ser chocante. Funciona mais como uma prova de que o lugar é conservado, no sentido de não ter sofrido grandes interferências, tão comuns aos grandes centros. Nesse contexto que as memórias de “A gata comeu” ficam ainda mais realçadas… 1985 poderia ser hoje e não veríamos grande diferença.

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A Praça Raul Guedes, com o edifício Uyrapurú ao fundo, é ponto de encontro de babás e crianças durante as manhãs. Ao lado, um exemplo de como todas as casas têm um detalhe em especial que as torna ainda mais bonitas.

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Embelezada pelo edifício Uyrapurú, vê-se a Praça Raul Guedes que, nas manhãs, vira ponto de encontro de babás e crianças. O parquinho parece ser bem aproveitado e respeitado, já que o número de usuários é bem restrito aos moradores do entorno. A mesma praça é rodeada por casas também muito simpáticas. Se não estão bem conservadas como um todo, pelo menos em algum detalhe se destacam, seja por um pequeno vaso de flores na janela ou por algum outro tipo de arte.

A visão para o Pão de Açúcar e os cabos que transportam os bondinhos é bem exclusiva quando se caminha pela Rua Roquete Pinto. Cenário mais ou menos parecido poderá ser visto na zona norte, mais especificamente no bairro do Grajaú, dono de uma rocha bem grande e charmosa, o Pico do Papagaio. Definitivamente a natureza é o maior dos atrativos do Rio de Janeiro. Sem ela seríamos apenas mais uma cidade, e não “a” cidade que encanta tantos nativos e estrangeiros. Orgulho!

Diria que o trecho final da Rua Roquete Pinto é o mais bonito e florido, ali entre as ruas Cândido Gafrée e Manuel Niobei. Flores brotam inesperadamente pelos longos galhos das árvores, enquanto casas lindíssimas despertam a inveja do pedestre, que está só de passagem, e não de entrada. A tranquilidade é, mais uma vez, letal de tão boa e positiva. A certeza que a gente tem quando se sai dali é a de que, sim, o Rio tem seu próprio paraíso.

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O último trecho da Rua Roquete Pinto: uma das residências, e o encontro dela com a Rua Manuel Niobei

Vou colocar mais fotos da Rua Roquete Pinto na página do As Ruas do Rio no Facebook. Curte lá para ver!

Para contato direto | asruasdorio.contato@gmail.com

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