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As Ruas do Rio

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O elegante da Tijuca nos anos dourados

Conjunto de ruas ao lado do Colégio Militar resguarda o melhor da arquitetura no bairro por Pedro Paulo Bastos Mesmo numa das partes mais barulhentas da Tijuca, a Rua Professor Lafayette Côrtes consegue ser silenciosa. Mapa do entorno Em um dos trechos mais movimentados da Rua São Francisco Xavier, na Tijuca, um pequeno posto de […]

Por Pedro Paulo Bastos
Atualizado em 25 fev 2017, 19h39 - Publicado em 7 jul 2011, 04h36

Conjunto de ruas ao lado do Colégio Militar resguarda o melhor da arquitetura no bairro


por Pedro Paulo Bastos

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Mesmo numa das partes mais barulhentas da Tijuca, a Rua Professor Lafayette Côrtes consegue ser silenciosa.

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Mapa do entorno
Em um dos trechos mais movimentados da Rua São Francisco Xavier, na Tijuca, um pequeno posto de gasolina de esquina abastece um montão de carros, no meio de outros que, ao serem lavados, também acabam recebendo algum tipo de serviço mecânico. Do outro lado da calçada, lojinhas familiares compartilham o térreo de um edifício alto, composto de pastilhas em diferentes tonalidades de azul. Não há a existência de placa-pirulito que identifique a rua, mesmo que ela desemboque na São Francisco Xavier, a principal da região. Aliás, ninguém daria nada pela rua, pois, verdade seja dita: ela não leva a lugar algum… relevante.

Essas ruas são as melhores, pois são menos previsíveis do que as já muito circuladas e badaladas. E também, até onde o meu conhecimento de geografia-urbana-carioca me permite afirmar, eram justamente nesses “cantinhos” onde se construíam as melhores casas no passado, de forma a oferecer uma certa qualidade de vida e um ar mais interiorano, de serra, oferecido pela natureza própria da cidade. A rua em questão é a Professor Lafayette Côrtes, incrustada entre o terreno verde do Colégio Militar e a sua pedra, a Pedra da Babilônia, melhormente conhecida pelos tijucanos do que pelo resto dos cariocas. Já conhecia a rua, mas, ao fotografá-la e observar melhor os seus detalhes, pude comprovar a tal teoria de que alguns cantinhos do Rio realmente são bem aprazíveis e surpreendentes.


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O conjunto de ruas formado pela Professor Lafayette Côrtes, General Marcelino e, mais adiante, a Rua Dulce, é abraçado pela Pedra da Babilônia (à esquerda, ao fundo).

Linhas retas,
janelas grandes
Tenho fascínio por prédios antigos, desses construídos em meados do século XX. Na minha opinião, são bonitos, têm desenho sofisticado e com apartamentos gigantescos. Tá certo que muitos estão ultrapassados em relação às exigências atuais, como falta de elevador e garagem; mesmo assim, continuam sendo muito mais elegantes que esses edifícios surgidos recentemente, na década de 90, com varandas de vidro e/ou espelhadas. A Rua Professor Lafayette Côrtes consegue livrar-se da esquisitice da sua esquina com a São Francisco Xavier em poucos passos adentro, onde estão, consideraria eu, os melhores edifícios da Tijuca dentro do critério descrito inicialmente.

Conversando com o meu irmão, que é arquiteto (logo, melhor entendedor no assunto do que eu), ele estava me mostrando que embora os prédios da Lafayette Côrtes sejam bonitinhos – apesar dos ares decadentes -, nenhum deles é pertencente a um estilo arquitetônico muito definido. Confesso que não sei identificá-los muito bem; para mim, toda casa ou edifício de linhas mais retas simétricas, um vitral comprido ao longo da fachada com nome do imóvel em letras meio animadas ou em anagrama, eu já acho logo que é art déco. Nem sempre é assim. Possuir elementos de um determinado estilo não quer dizer que ele seja totalmente incorporado nele. Nessa rua da Tijuca, por exemplo, muitos prédios têm elementos, mas poucos se afirmam como tal.


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Prédio com varanda em coluna e arcos contém elementos ecléticos, mas precisa de recuperação. Ao lado, edifícios siameses já quase no encontro com a Rua General Marcelino.

Poderia até me atrever a dizer que alguns nasceram como art déco ou em estilo eclético, embora, hoje, estejam descaracterizados a ponto de não se reconhecer mais a sua proposta inicial. Isso se reflete na substituição de janelas diferentes das originais, destoando do desenho-padrão; na inserção de grades nessas mesmas janelas; no fechamento das varandas abertas com vidro, uma reação compreensível perante a violência urbana; na má conservação das fachadas… Enfim, perderia uma tarde aqui enumerando todos esses detalhes.


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Os azulejos são herança portuguesa. No topo, uma espécie de galo em chapa de ferro enfeita, como se estivesse cantando ao amanhecer.

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Edifício Cibrasil
Entretanto, lá na curvinha da Rua Professor Lafayette Côrtes com a Rua General Marcelino está uma das maiores preciosidades já vistas por mim nessa região: o edifício Cibrasil, no número 156. De estilo eclético, a sua entrada é ornamentada por um portão elegante, de ferro, com detalhes dourados em formato de ondas. Ora lembram um caracol, ora uma série de bigodes bem penteados, ou o que a sua imaginação preferir. Esse parte da entrada se assemelha a uma torre, com ondulações na fachada sob o portão, além de um vitral que se estende até o seu topo. Os espaços entre as ondulações são preenchidos por azulejos floridos, dando um aspecto bem lusitano ao conjunto. Para completar, lá em cima, no telhado em formato de círculo, um galo de ferro com bico apontado para o céu. Aviso logo: se vagar apartamento ali, é meu!

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Observe o esmero com que foi produzido os detalhes do portão. É uma obra de arte, numa época onde cada imóvel construído era distinto dos demais, reforçando as suas particularidades.

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Panorama da Rua General Marcelino, com a Praça Dulce ao fundo.

Acrescentando, por ser uma rua de imóveis antigos, não poderia deixar de lhes dizer que é uma rua idosa também. Estava por ali no período da manhã, e um monte de senhorinhas passavam arrastando seus respectivos carrinhos de feira com sacolas e frutas. A movimentação fica por conta também dos alunos do Colégio Militar, impecavelmente uniformizados, a boina vermelha caída levemente para a direita da cabeça. Em tempos de frio e chuva como agora, eles andam com umas botas pretas até um pouco abaixo do joelho, daquelas típicas de quem pratica hipismo. Além disso, os seguranças e os porteiros de prédios da rua foram muito simpáticos e brincalhões comigo. Eu, inclusive, passei ali dois dias depois de ter tirado essas fotos e mesmo assim eles me reconheceram, cumprimentando-me e fazendo poses de como quem está fotografando.

Para finalizar, insisto no meu discurso: é preciso preservar a arquitetura das ruas. Não se pode descuidá-las, nem substitui-las por qualquer outra coisa. O que seria de muitas cidades europeias se seus edifícios não fossem preservados nos mínimos detalhes? Essa consciência precisa brotar aqui pelo Rio. Ainda que estes não sejam prédios públicos, eles fazem parte da nossa história e merecem receber uma atenção especial, assim como um melhor esclarecimento aos seus moradores sobre sua importância.

Opiniões diretas: asruasdorio.contato@gmail.com


Veja mais imagens da rua pelo link abaixo

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