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As Ruas do Rio

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Largo do Machado

Um passeio pelo Largo do Machado enquanto a sessão no Cinema São Luiz não começa Um dos acessos para a estação Largo do Machado do metrô, na praça de mesmo nome: inaugurada em 1981 em um dos endereços mais antigos da zona sul. por Pedro Paulo Bastos Meu primeiro contato, pequenininho, com o Largo do […]

Por Pedro Paulo Bastos
Atualizado em 25 fev 2017, 19h24 - Publicado em 11 Maio 2012, 16h01

Um passeio pelo Largo do Machado enquanto a sessão no Cinema São Luiz não começa

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Um dos acessos para a estação Largo do Machado do metrô, na praça de mesmo nome: inaugurada em 1981 em um dos endereços mais antigos da zona sul.

por Pedro Paulo Bastos

Meu primeiro contato, pequenininho, com o Largo do Machado foi no filme “A filha dos Trapalhões”, assistido incansavelmente em VHS na década de 90. Numa das cenas, o personagem de Renato Aragão, o Didi, numa tarde ensolarada, desembarca de uma estação de metrô no Rio de Janeiro. A câmera, do alto, filma o letreiro com o nome da estação e, logo em seguida, todo o panorama de uma praça aparentemente movimentada, mas cheia de graça por suas árvores, seu chafariz e, por que não, seus pombos! A imagem ficou marcada para mim durante anos, principalmente no período em que comecei a alimentar esse meu hobby por ruas, praças e afins. Depois de passar certa época da adolescência pegando sessões no São Luiz, comendo pizza no Gambino e revisitando diversas vezes o Museu da República, meu favorito, agora eu trabalho praticamente ao lado do Largo, o que me permite, diariamente, observar melhor como essa simbólica praça carioca se movimenta e se sustenta no tempo.

A Igreja Nossa Senhora da Glória, em conjunto com outros prédios históricos do entorno – como o lindíssimo Colégio Estadual Amaro Cavalcanti, de 1874 -, faz com que o Largo do Machado pareça uma verdadeira pracinha de cidade pequena do interior. Claro, o caótico trânsito das ruas do Catete e da Laranjeiras quebra um pouco dessa sensação com buzinas e freadas histéricas, embora um passeio pelo centro do Largo resguarde ainda certa tranquilidade e nostalgia. Por parecer um campo, com árvores centenárias apenas nas extremidades, o Largo do Machado tem paisagem aberta. O céu é visto e é incrivelmente bonito por ali, podendo ficar ainda mais encantador com os pombos voando e pousando sobre a estátua em mármore Carrara da Imaculada Conceição, localizada sobre um pedestal no centro do chafariz. Poético, em volta de tantas palmeiras. Apesar da beleza toda do espelho d’água, a cena se repete como em muitas outras praças do Rio que possuam esse mesmo equipamento. Água parada, suja, sacos plásticos que boiam… Os mendigos parecem se distrair com a circulação de dejetos pela fonte. Muitos deles, inofensivos, ficam ali, parados, esperando por algo ou alguém que nunca virá.

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O panorama do Largo do Machado com seu chafariz, desativado, e a o detalhe da Igreja Nossa Senhora da Glória, de 1872.

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Os bancos sinuosos do Largo com o Colégio Estadual Amaro Cavalcanti ao fundo.

Ao lado, o cruzamento do Largo do Machado com a Rua Ministro Tavares de Lira.

Os bancos sinuosos, que contornam as curvas dos jardins, são lotadas de pessoas, muitas delas já de idade. Aliás, ainda preciso confirmar essa minha teoria: a minha geração, galera que está na faixa dos vinte e poucos anos, parece não curtir muito o espaço oferecido pelas praças. Ou não há tempo, ou não há atratividade para curti-las. Em outros lugares que tive a oportunidade de viajar, vi a presença de um público mais juvenil pelas praças, como em Boston e em Buenos Aires. Até mesmo meu irmão, que mora em Milão, virou um assíduo frequentador de praças e parques por lá. Falando por mim, realmente não há tempo, mas a sensação de insegurança de muitas delas no Rio ainda é um fator de repulsão para lazer. Os jovens que estavam pelo Largo do Machado, parados e descansados, aparentavam estar ali por outras razões, como, por exemplo, naquele momento de fuga básica do trabalho para “espairecer” os nervos. Outros, menores, pareciam não estar assistindo às aulas. Digo isso porque muitos estavam uniformizados. “Gazeteiros”, diria meu avô.

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 O Largo, além de ser uma região densamente ocupada por consultórios médicos, farmácias, lanchonetes populares e postos de saúde, é também referência em colégios, o que permite introduzir à sua dinâmica essa boa dose de crianças e adolescentes de passagem. Uma saída do metrô também colabora muito para criar pequenas multidões, de maneira organizada. Incrivelmente as barracas de flores são apreciadas, e não apenas meros enfeites. Algumas delas colaboram até mesmo para o paisagismo do Largo do Machado ao utilizarem o tronco grosso e antigo de uma árvore para expor vasos de plantas com placas de bambu. Ficou charmoso e elegante.

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O Largo do Machado conta com várias barracas de flores, mas o que mais chama a atenção mesmo por lá é a reunião de senhores para jogo de baralho.

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Prédio elegante na Rua das Laranjeiras é apenas mais um dos edifícios históricos nessa região do Catete.

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Os pombos voam tanto quanto as pessoas que se exercitam nos novos aparelhos de ginástica – são dois elementos que não param nunca pelo Largo do Machado. Minto: o carteado é que parece não parar nunca. As mesas ficam todas cheias de senhores, naquele estereótipo mesmo da figura do avô, nas proximidades da Rua Bento Lisboa, onde está o restaurante Adega Portugália. Todos alegres, enturmados e entusiasmados. Já pelos lados da Rua do Catete, a ideia que todo mundo torceu o nariz no começo mas que agora é um sucesso está lá, ainda toda laranjinha. O posto do Bike Rio no Largo tem boa rotatividade de bicicletas, enquanto um saxofonista tenta ganhar a vida na esquina com a Rua Dois de Dezembro. O São Luiz tem movimento tímido durante uma tarde de dia de semana, mas é requisitadíssimo de noite com sua galeria refigerada. A Rotisserie Sírio-Libanesa está ali na Galeria Condor; é referência. Uma barraca de frutas, todas em tons fortes amarelados, como laranjas, abacaxis e bananas, complementam a paisagem, em meio às árvores e aos raios solares que ultrapassam seus galhos, quase como um belo quadro no gênero natureza-morta. Tudo isso na confluência do Flamengo e de Laranjeiras com o Catete.

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