Centro do Rio, 17 horas e 30 minutos
Um breve panorama da dinâmica do Centro ao atardecer por Pedro Paulo Bastos A Avenida República do Paraguai ainda com trânsito calmo e silencioso Segunda-feira, 17h30. A movimentação de pedestres pelas ruas do Centro do Rio se alimenta por faixas específicas de horário, definindo, inclusive, o perfil destes pedestres de acordo com a rua ou […]
Um breve panorama da dinâmica do Centro ao atardecer
Segunda-feira, 17h30. A movimentação de pedestres pelas ruas do Centro do Rio se alimenta por faixas específicas de horário, definindo, inclusive, o perfil destes pedestres de acordo com a rua ou praça por onde estejam passando. É por essa razão que eu consideraria o nosso Centro como um conjunto de Microcentros, cada qual com suas funcionalidades, similaridades em serviços e em aparência das pessoas que trabalham e transitam em seus limites.
É sério, repare bem: nos arredores da Rua Uruguaiana com a Avenida Presidente Vargas, a maioria das pessoas se veste mais informalmente, não só pelos diferentes níveis e tipos de serviços prestados por ali, como também pela própria informalidade de alguns deles. Dirigindo-nos para outra localidade do Centro, as avenidas Graça Aranha e Presidente Antônio Carlos, será mais comum deparar-se com homens de terno e gravata, e a inseparável maleta de couro a tiracolo. Aquela pinta de “homem da lei”, representada bem por advogados. Do outro lado da Rio Branco, talvez a área mais moderna do Centro, localizada onde era o antigo Morro de Santo Antônio, os trabalhadores que circulam pelas avenidas (República do) Chile e Paraguai são majoritariamente funcionários do BNDES ou da Petrobras. Executivos se misturam entre os outros empregados públicos muito bem-vestidos, embora não tão impecáveis como os advogados do Castelo.
Diariamente cruzo a Avenida República do Paraguai, sendo o horário das cinco e pouquinha o meu preferido. Não só porque é a hora de voltar para casa; é que eu acho curiosa essa forma como as pessoas se comportam no final do dia, como conseguem dar um toque diferente à movimentação da calçada, bem diferente da mesma ocasionada pelo horário de almoço. E isso acaba se refletindo, de algum jeito, em como enxergamos os edifícios e construções ao redor. É uma onda de transições: o azul-claro do céu adquire tonalidades mais escuras, a ocupação da faixa de pedestre deixa de ser pouco para muito intensa, os pontos de ônibus passam de vazios para cheios, o prédio da Petrobras (que parece um amontoado de pecinhas de Lego) acende todas as suas luzes, assim como a Catedral, que ganha iluminação especial colorida.
A volta para casa |
A Avenida Paraguai vai ficando bem deserta a medida que se afasta da Avenida Chile, mesmo que ela desemboque nos Arcos da Lapa, a área de maior movimentação noturna do Centro. Antes disso, passar por baixo da estreita ponte que comporta os trilhos do bonde para Santa Teresa dá um pouco de medo. Ele é sustentado por um gramado íngreme (talvez resquício do Morro de Santo Antônio), meio sujo, local de desabrigados e de cachorros vira-latas. Ora, ora, um Centro tão moderno perto dali convivendo com tamanho abandono do outro lado. Fincado nesse pequeno aclive verde-amarronzado, uma placa grande da Prefeitura informa sobre a “Reurbanização da Lapa”. É o que todos queremos.
As faixas de horário posteriores à que foi relatada transferem toda essa movimentação de pedestres justamente para lá, a Lapa. O perfil das pessoas – como se vestem, como gastam, qual a marca preferida – que transitarão por lá também será determinado de acordo com os ponteiros do relógio, dentro deste microcentro. Agora, detalhes à declarar, deixo para uma próxima oportunidade, quando eu não resolver voltar para casa, continuando pelo Centro.