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Por André Heller-Lopes, diretor de ópera
A volta do Dito Erudito
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Ópera atual é um vinho encantado: poção mágica que abre portas dessa arte

Dois eventos dedicados à ópera moderna acontecem esse fim de semana no Theatro Municipal, com entrada franca

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5 dez 2022, 09h08

Há uma ópera do nosso tempo? Em vão tentaram declarar a morte da arte lírica, e inutilmente tentam fazer de qualquer arte que não seja “pop” algo elitista. O fato é que, se houver ópera do nosso tempo, essa é a sua semana: no sábado e domingo o destaque da programação no Theatro Municipal são óperas compostas nos tempos modernos — e com entrada franca. Mais do que a semana da ópera, será a ‘daS óperaS doS tempoS modernoS’: é a ópera lembrando que é arte do nosso tempo e, brasileira, pede passagem cantando.

No dia 10, sábado, estréia BOA.pocket! , e no dia 11, domingo, o Brasil escutará pela primeira vez e 80 anos após sua estréia européia, a fascinante ópera-oratório Le Vin Herbé, do celebrado compositor suíço Frank Martin. Ambas, bons frutos do projeto Municipal em Cena, que leva espetáculos a espaços menos usais do maior equipamento cultural do Estado RJ.

Le Vin Herbé trata da célebre lenda do amor proibido e fatal entre Isolda e Tristão — e “herbé” faz referência às ervas mágicas que transformam um vinho em poção de amor. É a mesma fascinante história que inspirou a Wagner uma de suas mais famosas óperas e que, em 1942, inspirou a Martin uma das óperas mais originais do século XX. “O Vinho Encantado”, forma de tradução livre que decidimos dar ao título, é uma espécie de “oratório profano” em que 12 cantores e 8 instrumentistas têm o desafio de interpretar todas as partes do drama.

Seguramente uma das obras mais significativas e intrigantes do século passado, O Vinho Encantado, é essencialmente moderna e lírica. Apesar de ter estreado há exatos 80 anos e de ser uma obra tocada com frequência (especialmente durante a pandemia) e gravada mais de uma vez, nunca foi escutada no Brasil (embora a excelente Osesp tenha executada uma das três partes que formam o todo) — mais ainda: talvez seja esta a primeira vez que é encenada na América Latina, segundo os dados da Editora Universal, de Viena.

Originalidade é também a marca registrada de BOA: uma Bienal de Ópera Atual, revivendo o excelente projeto que, em 2016, propôs encenar novas óperas no Rio de Janeiro. A eterna falta de continuidade dos incentivos à projetos culturais no Brasil fez da bienal uma espécie de “quadrienal” (descontada a pandemia). Porém o importante é que o projeto está de volta, dessa vez em formato de “pequenas jóias”. Boa.pocket! é a versão “de bolso” da idéia original, e apresentará três óperas inéditas de curta duração: Larilá, Dadá e Protocolares — assinadas pelos compositores Arrigo Barnabé, Armando Lôbo e Mario Ferraro. Com 25min de duração, cada uma das histórias passeiam pelo drama urbano de uma menina que vende doces e sonha com uma vida mais doce, passa pela história de Dadá, a companheira do cangaçeiro Corisco, e aporta nas aventuras delirantes de um servidor público às voltas com o universo da burocracia carioca.

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Um belo elenco de cantores e equipe artística promete fazer de Boa! um evento muito original. Já no Vinho temos, além da luxuosa e especialíssima participação das cordas da Orquestra Sinfônica Brasileira, um elenco em que 8 dos 12 cantores são promissores jovens artistas, na casa dos 20anos. Podemos estar por testemunhar os primeiros passos de grandes carreiras.

Eventos com entrada franca, Boa! acontece na Sala Mario Tavares, enquanto que Le Vin Herbé aporta no espaço “encantado” do Salão Assyrio, com seu ar “mesopotâmio” de 1909 — uma dessas jóias do Rio de Janeiro que nem todos conhecem. Ambos os Projetos têm início às 17hs e os ingressos estarão disponíveis parte no site do Theatro Municipal, parte no dia do espetáculo.

O Vinho Encantado e Boa! têm em comum serem projetos de ópera que fazem parte do Edital “Municipal em Cena” que, bastante heterogêneo e diverso, acaba por confirmar (ou lembrar a todos) que a vocação primeira do Theatro Municipal é a Musica de Concerto, Dança e Ópera. Não por elitismo, mas pelo simples, ‘matemático’ fato que apenas num equipamento com as especificidades de acústica e técnica do TM formas de expressão artística como a ópera podem encontrar sua melhor qualidade de execução artística!

André Heller-Lopes
Encenador e especialista em óperas, duas vezes Diretor Artístico do Municipal do Rio, é Professor da Escola de Música da UFRJ.

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