Zolpidem: Anvisa passa a exigir receita médica para compra do medicamento
Resolução acertada da agência precisa ser acompanhada também de maior eficiência na fiscalização
Por algumas vezes escrevi neste espaço sobre os perigos do consumo do medicamento Zolpidem sem prescrição e acompanhamento médico. Enfim, uma boa notícia, mesmo que tardia: em resposta à série de denúncias de uso abusivo do medicamento, a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou maior controle na prescrição do medicamento.
A partir de agosto, será obrigatório apresentar a Receita B (cor azul) na prescrição de remédios a base de zolpidem. Apesar de enquadrada como medicamento psicotrópico, um adendo na legislação permitia a prescrição de até 10 mg de zolpidem apenas pela receita branca em duas vias. Com a nova diretriz da Agência, o adendo será excluído e a receita azul será obrigatória, independente da quantidade da substância.
Análogos das benzodiazepinas (diazepam, alprazolam, midazolam, por exemplo), normalmente, o Zolpidem é indicado para o tratamento de insônia. Ele age retardando a atividade cerebral, portanto é recomendado que seja ingerido imediatamente antes de se recolher para dormir e quando se planeja um sono de, pelo menos, sete horas de duração.
O tratamento com Zolpidem não deve ser de longo prazo pois existe o risco de dependência e tolerância, o que pode levar ao aumento progressivo da dose para que faça efeito. Por isso, o medicamento não deve ser usado por mais de quatro semanas (a média recomendada é de duas semanas, no máximo). O consumo de bebida alcoólica deve ser evitado enquanto durar o tratamento.
Além disso, também é preciso considerar que o consumo de outras medicações (antidepressivos, antiepiléticos, relaxantes musculares, vitaminas e produtos naturais) podem interferir no efeito do remédio, diminuindo ou aumentando sua potência.
Sob efeito de Zolpidem, há relatos de pessoas que dirigiram, comeram, andaram, telefonaram, fizeram sexo ou compras online, tudo absolutamente inconsciente. Posteriormente, quando acordaram, não tinham nenhuma lembrança de suas ações. O uso de maneira irresponsável pode acarretar ainda outros efeitos colaterais como alucinações, agitação, diminuição nos níveis de consciência, resultando em quedas e possíveis lesões.
Segundo o Conselho Federal de Farmácia (CFF), a venda de antidepressivos e estabilizadores de humor disparou no Brasil desde a pandemia de Covid, em 2020. Comparando as vendas em 2019 com as de 2022, o número de unidades comercializadas desses medicamentos saltou de 82.667.898 para impressionantes 112.797.268, ou seja, 36%.
Apesar de correto, a nova resolução da Anvisa não basta por si só. É preciso ampliar e tornar mais eficiente a fiscalização sobre a real retenção da receita nos pontos de venda. Só assim será possível aferir se o medicamento está sendo consumido da forma correta e pelas pessoas que de fato o necessitam.
Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.